Sua Majestade, O Bardo

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Valença, Bahia, Brazil
Escritor, autor do livro "Estrelas no Lago" (Salvador: Cia Valença Editorial, 2004) e coautor de "4 Ases e 1 Coringa" (Valença: Prisma, 2014). Graduado em Letras/Inglês pela UNEB Falando de mim em outra forma: "Aspetti, signorina, le diro con due parole chi son, Chi son, e che faccio, come vivo, vuole? Chi son? chi son? son un poeta. Che cosa faccio? scrivo. e come vivo? vivo."

terça-feira, 29 de abril de 2014

Ode Patetica

Ode Patética

Ricardo Vidal
Salvador, 11 de setembro de 2003 
Meu coração é uma bandeira desfraldada
Em cima do infinito,
Que brada um grito aflito
Ao senhor dos céus, das terras e dos abismos.

É uma quimera suja solta no espaço-tempo,
A voar lenta e louca,
Com sua voz rude e rouca,
Pelas planícies sublimes de meus paroxismos.

É uma pantera a devorar tebanas esfinges,
Que se encontram perdidas
E jazendo esquecidas
Dentre os cometas arcanos da negra Alvorada.

Seja o que for, meu coração: tu, somente tu, 
Semente ou quimera,
Estandarte ou pantera,
Irás me acompanhar insigne até o misterioso Nada… 

sábado, 19 de abril de 2014

Rondó Marinho

Rondó Marinho

Vera Cruz, 15 de janeiro de 2014

Vamos ver o mar nesta manhã clara, ardente,
Veja com que carinho a praia quer beijar.
Elegante se forma em onda sorridente
Opulento, pomposo, na areia debruçar.
Noivado no Mar – Mustafá Rosemberg

O sorriso da sereia amanhece nas ondas,
Conduzindo o meu saveiro pela selvagem baía.
Sereias de pele de coral e olhos felinos,
Seus encantos são o farol negro onde deito meu cansaço,
São as pérolas raras que colho no sol nascente
Desse horizonte azul e morno tão puro.
Meu saveiro pescou no oceano mágico
De teus lábios um coração de raro coral
E, como um búzio de guerra de Krishna,
Anuncio nele, aos quatros ventos, o seu império.
Sereia, ao negro toque do agogô ancestral,
Quero navegar entre teus orgasmos felinos
E como meu tridente eu te levarei ao infinito.


Lições de Abril: revolução portuguesa e ditadura brasileira

Lições de Abril: revolução portuguesa e ditadura brasileira

Valença; 19 de abril de 2014 (00h56)

Duas datas em abril marcam profundamente a história política recente do Brasil e de Portugal, e que, nesse ano de 2014, leva a muitas reflexões sobre a importância de se construir uma democracia social e forte. Nessa sexta, dia 25, os portugueses comemoram os 40 anos da Revolução dos Cravos. E no primeiro de abril passados, os brasileiros relembraram os 50 anos do golpe que derrubou o governo constitucional de João Goulart e implantou a Ditadura Militar.
Em ambas as datas, a participação dos militares foi determinante para decidir o futuro político da nação. Mas, se no Brasil, a ação dos generais e almirantes levou a uma ditadura longeva e sanguinária; em Portugal aconteceu o inverso: o Movimento das Forças Armadas (MFA), formados majoritariamente por capitães, abriu o caminho para que o sol da democracia plural e republicana volta-se a nascer nas terras lusitanas.
Dez anos separam os dois fatos ocorridos. Em 1964, o crescente apoio popular para as reformas de base proposta por Jango, para o avanço necessário de nossas instituições democráticas encontrou forte resistência dos setores conservadores da sociedade brasileira. Assim, contando com suporte financeiro dos Estados Unidos, esses setores conspiraram com a nata do generalato e do almirantado brasileiro para a derrubada do presidente. Em 31 de março ocorreu a movimentação das tropas e no dia seguinte o Congresso Nacional declarou vaga a presidência da república (diga-se de passagem, de forma ilegal, haja vista que o presidente ainda se encontrava em território nacional). E, curiosamente, no dia da mentira, os golpistas declaram vitoriosa a (pseudo) Revolução “Redentora”. O resultado foram 25 anos de regime de exceção, com arrocho salarial, suspenção dos direitos humanos mais elementares, torturas, mortes e exílio de patriotas.
Já em 1974, os portugueses encontravam-se em um momento de crise. As torturas e a perseguição política, isolamento internacional, estagnação econômica e a guerra colonial na África levavam ao enfraquecimento do Estado Novo salazarista (regime fascista surgido em 1933, sucedendo a Ditatura Nacional surgida em 1926). Em resposta a essa situações, capitães reunidos no MFA deslocaram suas tropas durante a madrugada de 25 de abril para ocupar os pontos estratégicos de Lisboa. E durante todo dia, quando a população soube do levante, também aderiu à causa dos militares. Como sinal do caráter pacífico da revolução, passou-se a distribuir cravos vermelhos para os soldados, que os levavam dentro dos canos das espingardas. O governo ditatorial praticamente caiu sem resistência (exceto uma escaramuça por parte da política, os demais setores da burocracia ditatorial aceitaram apáticos à mudança de chefia da nação) e nos dois anos seguintes (conhecido como “Período Revolucionário em Curso”), Portugal viveu um rico período de liberdade e reorganização do Estado, com respeito a pluralidade ideológica. Houve a adoção de políticas sociais e democráticas avançadas, que culminaram, dentre outras coisas, no processo de independência em Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe. Dois anos depois, com a entrega da Constituição de 1976, os militares discretamente saíram da cena política, retornando à condição constitucional de servidores públicos no setor da defesa da república.
Diante desses dois fatos históricos, salta aos olhos o contraste na atuação das duas Forças Armadas. A doutrinação autoritária que os generais brasileiros conduziram o Brasil para três décadas perdidas em avanços sociais, com o sucateamento da educação, a falta de liberdade da ação sindical e a instalação de clima de terrorismo de Estado, que resultou em torturas e mortes de patriotas brasileiros que não concordaram com o regime de exceção. E sequelas desse período ainda hoje nós sentirmos, não apenas com a dificuldade da instalação das Comissões da Verdade (cuja apuração dos crimes cometidos pelo Estado visa à necessária pacificação histórica da nossa sociedade). A falta de educação política, aliados ao fisiologismo, à corrupção, ao personalismo ainda gracejam como câncer no nosso cenário político, são os frutos que ainda colhemos devido à Ditadura Militar.
Em contrapartida, os militares portugueses perceberam que seu papel profissional de servir na defesa do Estado implicava, em última análise, na defesa das liberdades e do bem estar do povo. Destituiu uma ditadura, quando era necessária, sem se apossar do poder para gerar outra quimera. No chamado Período Revolucionário em Curso, tiveram a sabedoria de permitir que a pluralidade ideológica voltasse a aflorar no seio da sociedade portuguesa, permitindo que tanto conservadores de diversos matizes, democrata-cristãos, liberais, socialistas e comunistas de todas as tendências pudessem participar no processo da elaboração de uma nova norma constitucional. E, evitando cair na tentação de monopolizar o poder, souberam sair de cena com serenidade, voltando a cumprir sua função primária de defesa.
Essa é a grande lição que o Abril de 2014 deixa: A democracia com justiça social ainda é o melhor regime que uma sociedade pode viver e, como valor perene, deve ser preservado. Conquistas como a entrada de Portugal na União Europeia e as atuais políticas sociais implantadas no Brasil só foram possível durante os períodos em que Democracia floresceu nos dois países. E mesmo que escândalos e crises possam ocorrer, devemos lutar para não ocorra novas intervenções militares na vida política nacional. Tanto no Brasil como em Portugal, o mais se precisa é de cravos vermelhos florindo em abundância, para adornar e fortalecer a Democracia.

Ricardo Vidal
Escritor e Professor, especialista em Estudos Literários pela UFBA. Membro da Academia Valenciana de Educação, Letras e Artes.

Biblioteca do Bardo Celta (Leituras recomendadas)

  • Revista Iararana
  • Valenciando (antologia)
  • Valença: dos primódios a contemporaneidade (Edgard Oliveira)
  • A Sombra da Guerra (Augusto César Moutinho)
  • Coração na Boca (Rosângela Góes de Queiroz Figueiredo)
  • Pelo Amor... Pela Vida! (Mustafá Rosemberg de Souza)
  • Veredas do Amor (Ângelo Paraíso Martins)
  • Tinharé (Oscar Pinheiro)
  • Da Natureza e Limites do Poder Moderador (Conselheiro Zacarias de Gois e Vasconcelos)
  • Outras Moradas (Antologia)
  • Lunaris (Carlos Ribeiro)
  • Códigos do Silêncio (José Inácio V. de Melo)
  • Decifração de Abismos (José Inácio V. de Melo)
  • Microafetos (Wladimir Cazé)
  • Textorama (Patrick Brock)
  • Cantar de Mio Cid (Anônimo)
  • Fausto (Goëthe)
  • Sofrimentos do Jovem Werther (Goëthe)
  • Bhagavad Gita (Anônimo)
  • Mensagem (Fernando Pessoa)
  • Noite na Taverna/Macário (Álvares de Azevedo)
  • A Casa do Incesto (Anaïs Nin)
  • Delta de Vênus (Anaïs Nin)
  • Uma Espiã na Casa do Amor (Anaïs Nin)
  • Henry & June (Anaïs Nin)
  • Fire (Anaïs Nin)
  • Rubáiyát (Omar Khayyam)
  • 20.000 Léguas Submarinas (Jules Verne)
  • A Volta ao Mundo em 80 Dias (Jules Verne)
  • Manifesto Comunista (Marx & Engels)
  • Assim Falou Zaratustra (Nietzsche)
  • O Anticristo (Nietzsche)