No reino de Jambom, o escritor R Vidal terminava se ajeitar a gravata. Ele ia para um sarau no Kafé Kafka. Em Jambom, este tipo de evento é uma instituição nacional milenar muito prezada por todos e por isso nosso escritor não iria deixar de prestigiar.
Chegou lá a noite. Penumbra. Algumas velas no palco davam o clima de como seria a noite. Lá, R Vidal encontrou-se com artistas plásticos, cineastas, o povo do teatro, políticos de todas as ideologias, ativistas de todas as causas, músicos de todos o naipes, outros escritores, estudantes, professores universitários, garis, freaks, boêmios e imortais de todas as gerações. R Vidal ouviu e declamou poemas. Bebeu um pouco de Cognac e jogou muita conversa fora com desconhecidos. Estava no seu meio e parecia que nada de excepcional aconteceria. mas aconteceu!
Em meio a tantas pessoas, nosso escritor vislumbrou um jovem tímida, com uma trancinhas no cabelo. Parecia um pouco tímida mas seu par de poculos devorava os poemas e as perfomances que ocorria. Seu sorriso melífulo escondia um quê de sensualidade inocente que não poderia passar desapercebido naquele ambiente.
Foi por isso que R Vidal desbravou uma floresta de abraços e saudações até chegar àquela jovem estudante. Vencida e transposta a barreira, R Vidal observou que um pequeno volume de Nietzsche se aninhara no colo dela. Seria a desculpa para se apresentar:
- Olá! Mais que coincidência espetacular! Você está lendo um livro e eu estou escrevendo um, lá no meu castelo! - tinha que reconhecer que a cantada não foi das melhores. Mas o que fazer, para quem estava longe do mercado?
AnaC achou impertinente a apresentação, mas foi com a cara de nosso escritor. Chamou para ficarem junto, sentados no barril de vinho rosê. Conversaram um pouco. Riram muito. suspiravam às vezes. Descobriram que ambos tinham uma amiga em comum. R Vidal gostou da voz meiga e dos olhos emoldurados pela armação em acrílico. AnaC gostou do jeito histriônico com o escritor contava suas viagens em volta da biblioteca. A mão dele era macia, porém um pouco atrevida, insistente no modo de acariciar a sua. Ela estava solteira. Ele também. A lua cheia está linda lá fora. Por que não?
Mais tarde, quando o Sol invadiu uma das torres do Castelo, ele não encontrou o quarto sozinho. Lá, deitada na cama, AnaC assisitia envolta em lençois um sarau particular de R Vidal...
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Na ficção da vida civil, as coisas não foram tão românticas assim, mas não tenho do que me queixar. Às vezes, realidade e ficção se cruzam a ponto de não se saber o que é real ou não. Deixo que o leitor descubra os fios e os meandros desta crônica.