Uma Tarde Qualquer…
Valença; 18 de outubro de 2023
Nas confusas redes do seu pensamento,
Prendem-se obscuras medusas.
Morta cai a noite com o vento.
Marinheiro sem mar – Sophia de Mello Breyner Andresen
O poeta Melhor bebeu suas casas
em todos os bares da cidade,
a cada trago uma porta, uma janela:
em cada poema acolhia a arte.
O poeta Melhor – Aleilton Fonseca
I
Um céu azul,
Quase anil…
Um céu límpido
De fim de tarde,
Onde os sonhos voam
Pelos tons pálidos
Dessa imensidão,
Como fantasmas gélidos de nuvens.
Um céu azul,
Quase anil…
Um céu sólido
Antecedendo
O crepúsculo,
Onde velhas mágoas
Velejam singelas
Pela imensidão,
Como sinos tenebrosos do passado.
Um céu azul,
Quase anil…
Um céu mágico
De feérico arrebol,
Onde a esperança
Graceja vistosa
Pela imensidão,
Como um arcanjo perdido no tempo.
II
Mas nesse céu azul,
Em que todos os poemas
Olha para mim e conspiram,
Poemas que perscrutam
Meu coração sossegado,
Ficam a me perguntar
Quando começarei a recolher
Esses sonhos esparramados,
Essas mágoas escondidas,
Essas esperanças dispersas,
E deixarei a poesia fazer sua catarse
Com todo esse material abundante
Que se oferece para meu versejar.
Mas hoje eu estou cansando,
Estou muito cansado da vida
E das grandes perguntas
Que movem o universo!
Na mesa boêmia do bar,
Quero apenas contemplar
Os mistérios das musas
E os feitiços das mulheres.
Os sonhos? As mágoas?
Es esperanças? Elas que esperem
Um outro poema para serem cantadas.
Hoje, em meio a uma anônima tarde
De um século de líquidas emoções,
Ficarei sozinho nessa minha mesa do bar,
Admirando como um poeta profissional
As ousadas curvas femininas,
Sob esse céu azul, quase anil…
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