Valença, 17 de maio de 2012 (03h07)
Sabiá, jasmim alado do jequitibá,
Triste é o teu canto só na janela.
Tristes são teus bemóis, teu dó, teu fá,
Triste é o horizonte azul que esfacela
Distante, por detrás do vidro cor de âmbar.
Sabiá, tua cantilena é de saudades
Sinceras do velho e doce sertão.
Saudades de quem sonha a liberdade,
De voar alto, tão alto na imensidão,
Que toda alegria se resumiria nesta verdade.
Ah, meu sabiá amigo que te quero bem.
Dou-te abrigo, dou-te comida, dou-te carinho,
Dou-te até orquestra sem te cobrar um vintém!
Para que aqui se sintas em teu próprio ninho
E não te preocupes com tormenta que vem…
Mas, sabiá, sei que tua alma não nasceu
Para ficares em claustro ou ambiente mesquinho.
Tuas asas querem mais, querem o céu que é teu,
E muito mais que o velho e pequeno ninho…
Sabiá, para ti que o céu foi criado por Deus.
Por isso sabiá, olhe pela janela, para o horizonte.
As janelas estão abertas para teu vôo, sabiá!
Aproveite a oportunidade! Não te escondes
Em meio ao teu triste e ranzinza cantar.
Voe! Alto e veloz, voe feroz como pterodonte!
Voe como o albatroz! Voe como a águia ou o condor!
Do alto de teus talentos seja o alado profeta
Que transforma em melodia a alheia dor.
Dos corações apaixonados seja o estafeta,
Seja o alquimista a transmutar solidão em amor.
Sabiá, tu que nasceste para servir a Beleza,
Esqueça teu gueto de lamúrias e vá saudar
Tua liberdade. Para trás deixe a tristeza
Enterrada no passado e com teu cantar
Ilumine as trezes luas que regem a Natureza.
Segue livre teu caminho, meu doce sabiá,
Segue teu vôo em busca de tua estrela.
Mas não s’esqueça de quem ouvir cantar
Triste, com os olhos perdidos através da janela
De quem te admira por detrás do vidro cor de âmbar.
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