Hoje, noite de sábado para domigo, fiquei sozinho em casa. Meus pais foram um encontro de motos em Alagoinhas e meu irmão caçula caiu na farra e até agora não voltou. Fiquei só, com o apartamento todo para mim. Meu reino, meu castelo, meu domínio.
Quem apostou que eu fiquei o tempo todo na frente do computador se enganou. Liguei a máquina e deixei-a baixando algumas músicas pelo e-mule. Não haveria ninguém para me perguntar irritantemente "Quem deixou o computador ligado sozinho, desperdiçando energia?". Deixei a máquina e fui ler. Abri um anuário para reciclar meus conhecimentos... Mas tarde, fui para o quarto dos meus pais, liguei a TV a cabo e qual foi minha surpresa que vi na tela "Quando Nietzsche chorou". Caramba! Adorei o filme! Ainda estou em estado de êxtase, ao ver neste encontro fictício de Nietzsche e Dr. Breuer o nascimento da psicanálise, citações do "Assim Falou Zaratustra"(como a do chicote, para tratar as mulheres), trechos de músicas clássica, reconhecer certos personagens como Lou Andreas von Salomé ou o ator Bem Cross (que fez o papel de Abraham em "Carruagens de Fogo"). Faz tempo que eu não assistia na TV um filme que me surpreendesse tanto e me deixasse pensando depois e excitasse minha mente.
Bem, falo deste excitamento porque uma outra coisa me veio a mente: quanta vezes eu fico alienado sobre lançamento de filmes e livros. Claro que eu sabia do livro - que vi vendendo nas livrarias e estava nas listas dos mais vendidos - e de que foi lançado em filme. Também dou o desconto de que este filme, ao que parece, só saiu em vídeo. Mesmo assim, eu me espanto quando vejo que várias obras artísticas boas passam desapercebidas pelo meu nariz! Claro que ha aí um ponto a se considerar: o ambiente onde vivo atualmente não seria o mais fecundo a novidades intelectuais. O que esperar de uma rotina em que um pai vem empre com a mesma conversa de carros , uma mãe que só comenta sobre BBB ou os programas de fofocas da TV e um irmão que passa quase que a semana toda calado? O que esperar de uma casa não há assinatura de jornal e/ou revista impressa, em que e possa ler as resenhas dos cadernos culturais? Incrível como eu perco muitos debates ou só dou conta de um livro ou um filme muito tempo depois de lançado! E ainda assim, para algumas pessoas eu pareço antenado, o que me permite ser um imã de Trimalciões - há sempre um conhecido que, tentando se passar por intelectualizado, vem sempre para perto de mim e fala asneiras como o porquê de "O Código da Vinci" ou "Operação Cavalo de Tróia" serem fatos reais corajosamente reveleados pelos autores - ou que tal livro de auto-ajuda é uma pérola de sabedoria e iluminação, superior a todos os escritors de Freud, Marx,Goëthe e Nietzsche...
Mudemos de assunto... Quantas vezes a Natureza é permitido criar um novo Nietzsche, um novo Van Gogh ou um novo Fernando Pessoa por geração? Quantas vezes os grandes gênios são aqueles que passam desapercebidos e que estão lutando pelo seu lugar ao Sol? Sempre me pego pensando nisso. Um poucopor vaidade, talvez, mas fico imaginando: será que algum conhecido meu está fadado a isso, a ser um gênio incompreendido que nasceu póstumo? Será que não tive nenhum professor na adolescência ou colega de universidade que no futuro será lembrando como um pensador revolucionário , um cientista visionário, um artista fundandor de tendências? Ou falando dos outros eu queria falar de mim?
Mas esqueçamos disto. O importante é sentir meu espírito livre, descobrir que muitos fatos da vida são humanos, demasiadamente humanos, e estão a espera de uma aurora, além do bem e do mal, que traga a gaia ciência do andarilho e sua sombra que irá explicar o nascimento da tragédia no espírito da música. Deste modo, ao presenciaria o crepúsculos dos ídolos. Assim falou Zarastutra.
Bem, fica o convite para reler as obras do Nietzsche. Numa época em que vive-se o ocaso das mulheres-frutas ou se aguarda a próxima celebridade ou factóide que alimente os jornais, livros como "o Anticristo", "Ecce homo" e "Assim falou Zaratutra" são um refúgio para espíritos realmente livres...
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Um P.S. importante: terminar minha resenha sobre o livro de Renata Belmonte... O tempo urge!
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