Minimalismo cênico para maximizar os sofrimentos de uma órfã do rei
O cenário se limita apenas a um pelourinho. A trilha musical é feita ao vivo, com músicos tocando instrumentos acústicos. No palco, duas atrizes vestidas de branco, vivem simultaneamente a protagonista da peça "Órfã do Rei", de Mena Abrantes. Originalmente escrita como um monólogo, a encenação torna-se um diálogo interno da personagem-título. As atrizes declamam o texto, mostrando as tristezas, solidão, angustias e desejos da protagonista - uma "órfã do rei", meninas criadas em conventos nos séculos XVI e XVII e que eram destinadas a se casaram com os exploradores portugueses que viviam nas colônias. Ainda criança, a órfã vive sua egotrip, vivenciando a perda do afeto familiar, a repressão de sua sexualidade e os conflitos de um casamento sem amor e com um estranho, ao mesmo tempo em que vivencia a violência e exploração presente no processo de colonização que Angola. As atrizes que vivem a protagonista anônima trabalham o minimalismo cênico para potencializar os sofrimentos que a órfã passa. A presença do pelourinho (que falicamente domina a cena) também serve para mostrar a violência e a sensualidade que irá dominar a psique da órfã. Mostra uma feminilidade subjugada pela sombra do cenário, reforçando om diálogo da musica ao vivo e as falas das atrizes. A falta de mais elementos na peça mostra o quanto esta órfã padece solitariamente, sem nenhum outro caminho de escape para a felicidade. Em frente a tanto sofrimento, não há como o público passar incólume diante do que ela sofre. Os choros mudos que se ouvem na plateia explodem em aplausos, diante de um teatro feito sem nenhuma piedade…
Nenhum comentário:
Postar um comentário