Sua Majestade, O Bardo

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Valença, Bahia, Brazil
Escritor, autor do livro "Estrelas no Lago" (Salvador: Cia Valença Editorial, 2004) e coautor de "4 Ases e 1 Coringa" (Valença: Prisma, 2014). Graduado em Letras/Inglês pela UNEB Falando de mim em outra forma: "Aspetti, signorina, le diro con due parole chi son, Chi son, e che faccio, come vivo, vuole? Chi son? chi son? son un poeta. Che cosa faccio? scrivo. e come vivo? vivo."

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Via Lactea revisitada

Via Láctea, revisitada
(Para Mustafá Rosemberg e Maurício Sena)

Valença; 23 de junho de 2014 (19h33)

Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso! (…)
Via Láctea XIII – Olavo Bilac

Queria eu, dos quasares quânticos, ouvir encantos
De uma sereia cósmica perdida na escuridão.
E dentre poemas, queria sentir os silenciosos cantos
Do pulsar solitário a admirar a imensidão.

Queria, com meus dedos frios, ficar dissecando
Bósons de Higgs em meio ao oriônico Cinturão.
E nesse laboratório acima de pecados miserandos,
Veria que o ser humano (coitado!) é fugaz botão.

Abro a janela para contemplar os rubros cometas
Que cruzam a distantes galáxias como mensageiros
De mistérios maiores a habitar longínquos exoplanetas.

Sim, no meio da Via Láctea, em sua placidez sideral,
Reina um bom senso e uma paz, que me faz estrangeiro
Em meio da mesquinharia de minha Humanidade natal…


quinta-feira, 19 de junho de 2014

Elogio para Edgard

Elogio para Edgard
(Um discurso sobre a saudade)

Valença; 05 de junho de 2014

O ano de 2014 foi especialmente triste para Valença. Por três vezes, novas estrelas brilharam na constelação da imortalidade. Por três vezes, a saudade se fez presente nos corações às margens do rio Una.
Em Janeiro, a poetisa que imortalizou “A Decidida” em prosa e versos, a educadora que se dedicou a forjar gerações e gerações de valencianos insignes, a primeira presidenta de nossa academia e eterna confreira, Macária Andrade, abriu essa senda. Sua memória estará sempre conosco, como mais adiante iremos falar nos trabalhos de nosso sodalício. Contudo, se para uma perda tão grande o tempo ainda não dera o devido remédio, em maio vimos nossa cidade perder mais dois nomes.
Um foi Washington, futebolista que jogou na seleção canarinho e cuja arte estava em mostrar porque o esporte bretão encontrou nos trópicos sua pátria mais firme e que, depois de longa doença, fora escalado na seleção celeste onde estão jogando Garrincha, Nilton Santos, Dr. Sócrates e Leônidas da Silva. Já o outro nome foi o do nosso confrade Edgard Otacílio da Silva Oliveira. E sobre ele gostaria de dizer algumas singelas palavras.
Edgar Oliveira, baiano de Santa Inês da safra de 1955, é o típico caso do valenciano por adoção. Aqui chegou e aqui se encantou. Como ele mesmo me disse certa feita: “Estou evoluindo: saí da Barra, para vim morar no Tento e por fim, na zona rural”. Conforme se observa no seu próprio currículo lattes, depois de trabalhar no Conjunto Petroquímico Presidente Vergas e no Terminal Químico de Aratu, Edgard veio com a família para estudar Pedagogia no então recém-inaugurado campus XV da UNEB. Formou-se pedagogo e depois em Filosofia, sendo que, para o último, apresentou o trabalho “Valença: sua história (conheça-te a ti mesmo)”. Mais tarde, na FACE, fez a especialização em Gestão e Educação Ambiental, com o trabalho “A cidade de Valença e o rio Una” e o mestrado profissionalizante em Teologia e Educação Comunitária, cuja dissertação tem por título “Os Processos Inquisitoriais e a Formação Cultural do Povo brasileiro”.
Como educador, trabalhou em diversos colégios da cidade e na Faculdade de Ciências Educacionais, no Núcleo de Pesquisa, Pós-Graduação e Extensão.
Mas o seu nome entra para os anais da cultura valenciana como Historiador. Se, antes dele, os livros que versam mais claramente sobre o passado de nossa cidade são “A Sombra da Guerra”, de prof. Guto Moutinho; “Valença: Memórias de uma cidade”, do nosso confrade Araken; o “Industrial Cidade de Valença: um surto de industrialização na Bahia no século XIX”, de Waldir Freitas e a já esquecida brochura de Prof. Brasílio Machado, “Notas Geográficas da Cidade de Valença”; nosso confrade Egdard expande mais esse horizonte. Em 2006 sai sua magnum opus “Valença: dos primórdios à contemporaneidade”. Livro que já chegou à terceira edição e que se tornou uma das leituras obrigatórias de qualquer pessoa que ame Valença. Assim como o de Araken, Edgard se aprofunda sobre a história de nossa cidade, caça todas as informações disponíveis e traça um estudo amplo e completo sobre ela. Mas, na prosa de Edgard, essa história nos é transmitida de um jeito sereno e doce. E ricamente documentado em fotos e ilustrações. Ele traz informações curiosas, como o fato de já a Câmara Municipal de Valença receber ordens para o envio de mantimentos para Salvador, uma vez que a frota em que vinha a Corte Portuguesa de Don João VIº iria aportar lá, enquanto fugia de Napoleão Bonaparte. Além dessa obra, ele enriquece a historiografia valenciana com os trabalhos “CVI - 160 anos de uma profunda relação social com o povo de Valença”, “A História da Igreja Nossa Senhora do Amparo” (em coautoria com nosso confrade Francisco Neto) e, finalmente, “Serapuí: sua história, belezas e lendas”.
Sua preocupação com a história e cultura de Valença não se limitou a livros. Também se traduziu em ações. Nos últimos anos, estava articulando com o Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia um documentário sobre os afundamentos dos navios Itagiba e Arará, atacado pelo infame submarino alemão U-507. Da mesma forma (juntamente com os confrades Mustafá e Galvão) que auxiliou Marcelo Monteiro com informações cruciais para que esse escrevesse o “U-507, o submarino que afundou o Brasil na Segundo Guerra Mundial”. E, igualmente, foi um dos artífices para que esse ano pudesse vir a lume a coleção “Literatura do Baixo Sul”.
No caso da coleção, ela mostra claramente sua faceta generosa: generosa em dividir o conhecimento, generosa em ajudar no progresso intelectual da cidade, generosa em conversar com jovens.
Pessoalmente, lembro-me da minha primeira conversa que tive com ele, durante uma das primeiras edições da “Ocupação Cultural”. Ele comentou, com certo entusiasmo e clara empatia, sobre alguns dos meus artigos que havia escrito anteriormente sobre a História Valenciana. Mais tarde, no seu autógrafo a minha edição do “Valença: dos primórdios para contemporaneidade”, deixou-me transparecer um sutil desejo de que os estudos sobre o e a cultura valenciana não se limitassem apenas a ele, mas que outras pessoas também se interessem em estuda-la com afinco e tragam mais coisas novas para que todos possam ter acesso.
Nosso confrade Edgard faleceu, infelizmente. Perdemos a chances de vermos mais outros livros importantes que desvendem a nossa história. Mas, quando eu vejo antes dele partir para o desconhecido, outros livros que se voltam sobre a história de nossa região foram publicados (a exemplo do de Francisco Neto e o de Márcio Viera), creio que ele sentiu que as sementes lançadas começaram a brotar. E, se depender de nossa Academia, ele ainda irá frutificar mais e mais.
No mais, só nos resta saudade de nosso confrade, agora, mais do nunca, um verdadeiro Imortal. Evoé, Edgard, Evoé!

Elogio para Edgard

Elogio para Edgard
(Um discurso sobre a saudade)

Valença; 05 de junho de 2014

O ano de 2014 foi especialmente triste para Valença. Por três vezes, novas estrelas brilharam na constelação da imortalidade. Por três vezes, a saudade se fez presente nos corações às margens do rio Una.
Em Janeiro, a poetisa que imortalizou “A Decidida” em prosa e versos, a educadora que se dedicou a forjar gerações e gerações de valencianos insignes, a primeira presidenta de nossa academia e eterna confreira, Macária Andrade, abriu essa senda. Sua memória estará sempre conosco, como mais adiante iremos falar nos trabalhos de nosso sodalício. Contudo, se para uma perda tão grande o tempo ainda não dera o devido remédio, em maio vimos nossa cidade perder mais dois nomes.
Um foi Washington, futebolista que jogou na seleção canarinho e cuja arte estava em mostrar porque o esporte bretão encontrou nos trópicos sua pátria mais firme e que, depois de longa doença, fora escalado na seleção celeste onde estão jogando Garrincha, Nilton Santos, Dr. Sócrates e Leônidas da Silva. Já o outro nome foi o do nosso confrade Edgard Otacílio da Silva Oliveira. E sobre ele gostaria de dizer algumas singelas palavras.
Edgar Oliveira, baiano de Santa Inês da safra de 1955, é o típico caso do valenciano por adoção. Aqui chegou e aqui se encantou. Como ele mesmo me disse certa feita: “Estou evoluindo: saí da Barra, para vim morar no Tento e por fim, na zona rural”. Conforme se observa no seu próprio currículo lattes, depois de trabalhar no Conjunto Petroquímico Presidente Vergas e no Terminal Químico de Aratu, Edgard veio com a família para estudar Pedagogia no então recém-inaugurado campus XV da UNEB. Formou-se pedagogo e depois em Filosofia, sendo que, para o último, apresentou o trabalho “Valença: sua história (conheça-te a ti mesmo)”. Mais tarde, na FACE, fez a especialização em Gestão e Educação Ambiental, com o trabalho “A cidade de Valença e o rio Una” e o mestrado profissionalizante em Teologia e Educação Comunitária, cuja dissertação tem por título “Os Processos Inquisitoriais e a Formação Cultural do Povo brasileiro”.
Como educador, trabalhou em diversos colégios da cidade e na Faculdade de Ciências Educacionais, no Núcleo de Pesquisa, Pós-Graduação e Extensão.
Mas o seu nome entra para os anais da cultura valenciana como Historiador. Se, antes dele, os livros que versam mais claramente sobre o passado de nossa cidade são “A Sombra da Guerra”, de prof. Guto Moutinho; “Valença: Memórias de uma cidade”, do nosso confrade Araken; o “Industrial Cidade de Valença: um surto de industrialização na Bahia no século XIX”, de Waldir Freitas e a já esquecida brochura de Prof. Brasílio Machado, “Notas Geográficas da Cidade de Valença”; nosso confrade Egdard expande mais esse horizonte. Em 2006 sai sua magnum opus “Valença: dos primórdios à contemporaneidade”. Livro que já chegou à terceira edição e que se tornou uma das leituras obrigatórias de qualquer pessoa que ame Valença. Assim como o de Araken, Edgard se aprofunda sobre a história de nossa cidade, caça todas as informações disponíveis e traça um estudo amplo e completo sobre ela. Mas, na prosa de Edgard, essa história nos é transmitida de um jeito sereno e doce. E ricamente documentado em fotos e ilustrações. Ele traz informações curiosas, como o fato de já a Câmara Municipal de Valença receber ordens para o envio de mantimentos para Salvador, uma vez que a frota em que vinha a Corte Portuguesa de Don João VIº iria aportar lá, enquanto fugia de Napoleão Bonaparte. Além dessa obra, ele enriquece a historiografia valenciana com os trabalhos “CVI - 160 anos de uma profunda relação social com o povo de Valença”, “A História da Igreja Nossa Senhora do Amparo” (em coautoria com nosso confrade Francisco Neto) e, finalmente, “Serapuí: sua história, belezas e lendas”.
Sua preocupação com a história e cultura de Valença não se limitou a livros. Também se traduziu em ações. Nos últimos anos, estava articulando com o Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia um documentário sobre os afundamentos dos navios Itagiba e Arará, atacado pelo infame submarino alemão U-507. Da mesma forma (juntamente com os confrades Mustafá e Galvão) que auxiliou Marcelo Monteiro com informações cruciais para que esse escrevesse o “U-507, o submarino que afundou o Brasil na Segundo Guerra Mundial”. E, igualmente, foi um dos artífices para que esse ano pudesse vir a lume a coleção “Literatura do Baixo Sul”.
No caso da coleção, ela mostra claramente sua faceta generosa: generosa em dividir o conhecimento, generosa em ajudar no progresso intelectual da cidade, generosa em conversar com jovens.
Pessoalmente, lembro-me da minha primeira conversa que tive com ele, durante uma das primeiras edições da “Ocupação Cultural”. Ele comentou, com certo entusiasmo e clara empatia, sobre alguns dos meus artigos que havia escrito anteriormente sobre a História Valenciana. Mais tarde, no seu autógrafo a minha edição do “Valença: dos primórdios para contemporaneidade”, deixou-me transparecer um sutil desejo de que os estudos sobre o e a cultura valenciana não se limitassem apenas a ele, mas que outras pessoas também se interessem em estuda-la com afinco e tragam mais coisas novas para que todos possam ter acesso.
Nosso confrade Edgard faleceu, infelizmente. Perdemos a chances de vermos mais outros livros importantes que desvendem a nossa história. Mas, quando eu vejo antes dele partir para o desconhecido, outros livros que se voltam sobre a história de nossa região foram publicados (a exemplo do de Francisco Neto e o de Márcio Viera), creio que ele sentiu que as sementes lançadas começaram a brotar. E, se depender de nossa Academia, ele ainda irá frutificar mais e mais.
No mais, só nos resta saudade de nosso confrade, agora, mais do nunca, um verdadeiro Imortal. Evoé, Edgard, Evoé!

Biblioteca do Bardo Celta (Leituras recomendadas)

  • Revista Iararana
  • Valenciando (antologia)
  • Valença: dos primódios a contemporaneidade (Edgard Oliveira)
  • A Sombra da Guerra (Augusto César Moutinho)
  • Coração na Boca (Rosângela Góes de Queiroz Figueiredo)
  • Pelo Amor... Pela Vida! (Mustafá Rosemberg de Souza)
  • Veredas do Amor (Ângelo Paraíso Martins)
  • Tinharé (Oscar Pinheiro)
  • Da Natureza e Limites do Poder Moderador (Conselheiro Zacarias de Gois e Vasconcelos)
  • Outras Moradas (Antologia)
  • Lunaris (Carlos Ribeiro)
  • Códigos do Silêncio (José Inácio V. de Melo)
  • Decifração de Abismos (José Inácio V. de Melo)
  • Microafetos (Wladimir Cazé)
  • Textorama (Patrick Brock)
  • Cantar de Mio Cid (Anônimo)
  • Fausto (Goëthe)
  • Sofrimentos do Jovem Werther (Goëthe)
  • Bhagavad Gita (Anônimo)
  • Mensagem (Fernando Pessoa)
  • Noite na Taverna/Macário (Álvares de Azevedo)
  • A Casa do Incesto (Anaïs Nin)
  • Delta de Vênus (Anaïs Nin)
  • Uma Espiã na Casa do Amor (Anaïs Nin)
  • Henry & June (Anaïs Nin)
  • Fire (Anaïs Nin)
  • Rubáiyát (Omar Khayyam)
  • 20.000 Léguas Submarinas (Jules Verne)
  • A Volta ao Mundo em 80 Dias (Jules Verne)
  • Manifesto Comunista (Marx & Engels)
  • Assim Falou Zaratustra (Nietzsche)
  • O Anticristo (Nietzsche)