Sua Majestade, O Bardo

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Valença, Bahia, Brazil
Escritor, autor do livro "Estrelas no Lago" (Salvador: Cia Valença Editorial, 2004) e coautor de "4 Ases e 1 Coringa" (Valença: Prisma, 2014). Graduado em Letras/Inglês pela UNEB Falando de mim em outra forma: "Aspetti, signorina, le diro con due parole chi son, Chi son, e che faccio, come vivo, vuole? Chi son? chi son? son un poeta. Che cosa faccio? scrivo. e come vivo? vivo."

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Paz na cama (de quem ama)


PAZ NA CAMA (DE QUEM AMA)


A paz na cama
Após este desejo
Que inflama
O pudor e o pejo
É luz diáfana
Que desce o Tejo
Até o Sol de Pindorama .


E assim, sem nexo,
Estico meu corpo
E procuro seu sexo,
Encantos e seu léxico
Feminino, quente , louco.
Prazer e emoção do amplexo
Que antecede o gozo.


Renasce o fogo que ama
Na paz do nosso retiro.
E a lassidão encanta
Meus mornos suspiros;
A languidez de nossa manta
Cobre o sossego que prefiro
Quando desce a paz em nossa cama.

Último poste de 2008


Bem, como viajo hoje para passar o revellion na minha cidade natal, desejo a todos os meus leitores, amigos e demais membros da raça humana um sincero feliz e própero ano novo.


Em especial, para Janda, Elena, Lina, Wladimir Cazé e Renata Belmonte, que este ano seja repeltod e sucesso, realizações, saúde, paz, alegria e felicidade.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Drummondiana


Drummondiana


Valença, 01º de março de 2000


Depois do amor, sonhar!
E sonhando, indo pelas nuvens… amar!
Mas amar não dois corpos
Numa cama mecânica de cobre,
. Mecânicos gestos,
. Mecânico falar,
. Mecânico gozo.
É AMAR –sentido vulcões–
Tocar orquestras de trovões,
Aspirar à suavidade do mel;
Galgar a profundidade do éter,
Ouvir as doces fragrâncias do azul.
Pele a pele, boca a boca;
Quero unir em um abraço cósmico
O aleph e o ômega de teu corpo
Em espasmos de prazer,
E glórias profundas,
E coloridos orgasmos de jasmins.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Meu novo herói - Montasser al Zaidi

Montasser al Zaidi

(Jornalista iraquiano, 28 anos, xiita, que durante uma entrevista coletiva de George W. Bush, jogou seus sapatos e chamou do futuro-ex-presdiente americano de "Cachorro". Cabe lembrar que estes dois atos são considerados grandes insultos contra os muçulmanos. Bagdad, 14/12/2008)

Vamos ser sincero: quem me conhece sabe que nunca nutri muito amores pelo EUA e possuo uma forte ojeriza contra George W. Bush...


Como convite a reflexão, segui o link do TerraMagazine:


http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI3394403-EI6580,00-Em+Bagda+chovem+sapatos+contra+militares+dos+EUA.html


E antes que me esqueça: Liberdade para Montasser al Zaidi, que foi preso injustamente após seu ato de dignidade humana

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Jardim de Quimeras

Jardim de Quimeras

Salvador, 22 de fevereiro de 2001

“Ó imensas quimeras do Desejo”
Carnal e Místico – Cruz e Souza

Na esperança de ser eterno e imortal
Tranquei-me numa das torres da catedral.
Sonhei as glórias espartanas,
O solene desejo que me inflama:

Ser o conquistador do mar oriental
Ou o possuidor do ouro fatal.
Ter as asas de pégaso, a cama,
Os rubis das praias de Trapobana.

E afogando-me neste turbilhão
Deixei crescer as tristes heras
Que circundaram todo o meu coração.

Perdidas as horas das forças primeiras,
Meus sonhos… Estes se transformaram
No meu secreto jardim de quimeras.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

O Lobisomem

O Lobisomem
(para Professora Rosângela Figueiredo)

Salvador, 18 de maio de 2002

O poeta é um lobisomem solitário
Que vaga pelas sesmarias desertas
Em noite de tempestades e fagulhas.

Tuas garras devoram as entranhas da terra
A procura de um pouso e de uma lua.
Teus versos são tua fome canina,
Tua poesia, a ânsia pela glória.
Tu edificas paulatinamente teus livros
Passo a passo para saciar teu ventre,
Enquanto cada vez mais a glória foge
Tantalicamente de teus lábios.

Tu vagas, então, solitário,
Pelas campinas em flor,
A procura de um pouso.
O corpo, dilacerado, pede descanso.
Morto, o corpo deseja o fim
Mas tua alma ordena: Prossiga, persevere!

Pobre poeta! Pobre lobisomem solitário
Que caminhas pelo ermo
E de existir sem termo.
Tua maldição, contudo, é a redenção da humanidade.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Noticias do Reino de Jambom - A_VELA


No alto de sua torre de seu castelo, R Vidal olha o horizonte. O que ele espera encontrar no horizonte? Talvez algum mistério que o inspire... Talvez alguma estrela que o alumbre... Seu livro está na escrivanhinha, repousando, esperando momento que as tormentas se acalmem para que ele possa voar pela janela e conquistar os corações dos leitores.


Neste momento que uma brisa chega com a notícia de umA_VELA foi acesa em Valença. Uma nova academia vem resplander a cultura de sua cidade natal.


Doce notícia de natal...


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Enquanto isso, na ficcção da vida, a casa se arruma para o Natal. Não é hoje que haverá serenidade para escrever e pensar a monografia. Lá fora, a algaravia insuportável, um barulho enlouquecedor vindo de um aparelho de som alheio. Há ainda uma angústia surda pelo lançamento de um novo livro. Quando?

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Farol do Desejo (Aquele Beijo...)








Farol do Desejo (Aquele Beijo...)
http://www.camarabrasileira.com/sens08-025.htm




Foi numa noite de chuva
Que beijei teus lábios úmidos.
Tu estavas tímida, e timidamente,
Desabrochavas tua feminilidade em nosso ninho.
As gotas de chuva, lá fora, entoavam
Uma sinfonia em cada pétala
De rosa que elas beijavam.
E o beijos que tu me davas,
E o calor das taças de vinho,
E o silêncio confidente da lareira
E o fogo de teu corpo fremente
Incendiava irreversivelmente meu corpo,
Conduzindo minha língua
Pelo teu umbigo macio,
Pelos teus lábios maternais,
Pelos teus seios luminosos,
Pelo teu pescoço ebúrneo
Até chegar a tua face e boca marota.



Nossos corpos nus entraram em curto-circuito
E atingimos a comunhão
Dos corpos e dos orgasmos.
E em nossos lábios,
Recindia a saudade daquele primeiro beijo.

domingo, 30 de novembro de 2008

Noticias do Reino de Jambom - manhã perfeita

As manhãs não foram as melhores para o escritor R Vidal. "Manhãs foram feitas para erem dormidas", dizia ele com manha. Mas esta foi diferente.

No dia anterior ele não dormirara para terminae um livro de encomenda. Estava estafado, sem saber como concluir o livro. Por isso achou melhor um pouco cochilar depois do almoço. Quem sabe, mas descansado, ele achava o final que queria? Foi dormir no divã de sua torre-escritório. Literalmente apagou, sob o efeito do Valpolicella.

Acordou um pouco zono. Sonhara com sua idade natal, a casa onde nascera. Achava que era 08h00 da noite. Lá fora um chuva serena de primavera deixava o divã mais convidativo. Ainda enrolado no poncho, ele não foi para escrivanhinha. Ligou a TV, que anunciava a Sessão Insônia. "Já é madrugada... bem, o que fazer? Vou assitir o filme" Pensou ele. Era um filme de fantasia que ele gostava de assisitir quando criança. Ficou assistindo e tomando sorvete (potes que ele guardava no frigobar), numa gostosa travessura que não fazia a muito tempo.

Quando o filme terminou, foi para cozinha. Para sua surpresa, musa isabel deixara na geladeira um prato generosamente cheio de Penne a la Putanesca. Ela sabia que ele gostava deste prato. Ele estava irritadiço, por conta do livro. Em lugar dela reclamar com ele, ela fizera seu prato predileto e deixou guardado na geladeira, para que ele pudesse comer mais tarde, assim que acorda-se.

R Vidal não pensou duas vezes. Ligou o forno de microondas e esquentou o prato. Como ainda havia trabalho por terminar, levou o prato para sua torre-escritório, junto com a garrafa de Valpolicella. Na sua escrivaninha, colocou um guardanapo, para não sujar. Enquanto ia provando a iguaria quando o dia ía amanhecendo. Um dia nublado e com muito vento nascia diante seus olhos...

Como uma manhã perfeita, seus olho logo vislumbraram o final que procurava para seu livro.

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Na ficção da vida civil, minha manhã começou com um dia nublado, lindo. Um picolé, cinco pedaços de pizza e uma caneca de guaraná era minha alegria numa manhã diferente

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Torre do Bardo Celta - flog

Tomei vergonha na cara e fiz meu Fotolog. "Torre do Bardo Celta" (www.vibeflog.com/bardocelta). Lá colocarei minha produção como fotógrafo amador. Espero a visita de vocês...

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Um parêntese político e bairrista num blog literário

Como cidadão, eu havia declarado meu voto para Salete, como candidata a vereadora em minha cidade na eleição passada, de 2008. Não se elegeu. Mas estou orgulhoso em ter votado nela e conseguidos alguns votos. Contudo, como uma leitora enviou um e-mail, me perguntando a candidata que eu apoiei iria ser a Secretária de Educação do futuro prefeito de Valença, acho justo repassar esta informação: ELA NÃO ACEITOU O CONVITE!!! Salete Lucena, segundo fontes oficiais e fidedginas, não aceitou o convite de ser Secretária de Educação, por ver diferenças politicas entre ela e o futuro prefeito. No então, continuará trabalhando pelo melhor da Educação e da classe dos profesores na cidade de Valença e região.

Isso pode ser conferido no blog "A Novidade" http://ruydoliveira.blog.uol.com.br/.

O único comentário que eu posso fazer é que, por esta coerência e pelo seu histórico de luta que Salete SEMPRE terá meu voto e meu apoio, em qualquer eleição que ela disputar.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Indicação de BLOG: "A Novidade", de Ruy Lima

"A novidade que veio dar na praia..."

Recebi o e-mail do meu amigo, Prof. Ruy Lima, avisando do seu blog: A Novidade (http://ruydoliveira.blog.uol.com.br/). Um blog de política e reflexão. Conferi e gostei. Indico-o para meus amigos, especialmente os de Valença-Bahia.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Esteira de Espumas

Esteira de Espumas

Baía de Todos os Santos; 07 de novembro de 2008
(a bordo do catamarã “Ivete Sangalo”)

O Barco!
Meu coração não aguenta
Tanta tormenta, alegria
Meu coração não contenta
O dia, o marco, meu coração (…)

Os Argonautas – Caetano Veloso

Ao redor da Baía de Todos os Santos
Há História e Riqueza,
Cultura e Tristeza,
Miséria, Devoção e Beleza.
Mas no espelho líquido de suas ondas
Há apenas a paz e a serena imensidade.
Nuvens aparecem como sonhos sem pastores
Que suavizam a dura dialética do dinheiro.
A espuma do catamarã são sereias sem cantos,
Noivas sensuais
Que dissolvem o suor da labuta
Na brancura de suas ondas.
Há a paz imensa que envolve o poeta
E as espumas indicam com sua esteira
A serenidade, o lar, o porto secreto do meu coração.

O porto secreto está logo ali na frente.
Há o desejo se chegar logo e erigir meus castelos.
Todavia, uma voz sábia vinda alhures diz:
O que importa a senda, o porto e os ventos
Se o capitão não souber apreciar a baía?
No fundo, só a certeza do porto a frente.
O restante são as espumas e as nuvens
Que aqui estão em paz, como companheiras.
São elas que construíram a viagem pela baía…

Recital de Rock e Literatura


A banda de punk rock Pastel de Miolos (no seu primeiro show acústico em 14 anos de trajetória) e o grupo de escritores Corte fazem apresentação conjunta no sábado, 22 de novembro, às 18h, no Pátio do ICBA (Corredor da Vitória, 1.809). No evento, o poeta de Juazeiro (BA) Lupeu Lacerda lança em Salvador seu livro "Entre o alho e o sal".


Ficha Técnica:
Corte: Lupeu Lacerda, Sandro Ornellas e Wladimir Cazé (poetas), Lima Trindade e Gustavo Rios (contistas).
Pastel de Miolos: Alex Costa (baixo e voz), Allisson Lima (guitarra e voz) e Wilson Santana (bateria).


Serviço:
Onde: ICBA / Instituto Goethe, Avenida Corredor da Vitória, 1.809, Salvador (BA)
Quando: 22 de novembro, às 18h
Quanto: Entrada franca


Realização: Projeto Remix-se
E-mail:

verbo21@gmail.com
Site:

http://sequicosacro.blogspot.com

http://www.myspace.com/pasteldemiolos

http://www.remix.art.br/

sábado, 8 de novembro de 2008

Dublê de Heraldista



Bem, a idéia central é que este blog seja de literatura. Primordial e principalmente, um blog de literatura, onde eu pudesse meus textos. Todavia, como todo bom blog, de vez em quando há as derrapadas, escorregadas e desvios de rotas.

Digo isso por conta dos meus últimos dias... Final de faculdade, tempo de monografia, cabeça a mil pensando no próximo livro... e o que estou fazendo??? brincando de heraldista. Os motivos são simples: 01º) Gosto desta coisa de brasões, em parte pelo meu gosto por história, em parte por causa da minha quase formação em Comunicação. 02º) Elaborar brasões é uma forma de passar o tempo e exercitar outros campos da mente que nãos ejam apenas escrita, reflexão e leitura. 03º) Quando se estar apaixonado, se faz qualquer loucura. E é por conta deste último motivo a origem do meu post.

Minha amiga Elisabete P. Barbosa está organizando uma ONG de direitos humanos. Como sempre tive uam queda por ela, eis que resolvi ajudá-la. Nesta brincandeira, entre se oferecer e o pedido de ajuda, resolvi montar o brasão d'armas da entidade. Quase duas semanas, entre fazer o brasão, o selo e a bandeira da entidade. Felizmente meu trabalho ficou no agrado dela. Agora, para finalizar, tenho que escrever a justifica heráldica do símbolos...

Nada complicado, exceto que eu preciso escrever ainda minha monografia e meus dedos já conçam em publicar um outro livro. Afinal, meu "Estrelas no Lago" foi publicado em 2004...Também há meus textos literários, meus poemas, que eu gostaria de retornar a escrever.

Pelo o que vejo, enquanto não regularizar minha vida civil, vivo esta dicotomia entre escrever auilo que eu gosto e fazer aquilo que sociedade quer que eu faça. Assim que tomar vergonha na cara, escrevo uma crônica comentando o significado da vitória de Barack Obama ou um ensaio informal sobre o saudosismo da dos anos 80. Em tempo: o brasão que ilustra este post não é a do ONG. É o meu brasão pessoal, reformulado...

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Noticias do Reino de Jambom - Halloween


No Reino de Jambom, o Castelo do Bardo está em festa! Noite de Halloween, o escritor R. Vidal aproveita a data para se divertir e lembrar suas origens celtiberas. Toca gaita gallega, dança, está fantasiado como o vingador de "V de Vendetta", se diverte com seus convidados. Musa Isabel está linda, de fada Titânia. Outros escritores, artistas e intelectuais amigos brincam na festa do castelo.

Na ficção a vida civil, a sala está vazia e calma. Os últimos dias de férias antes do retorno à monografia de conclusão de curso.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Green Eyes

Green Eyes

Salvador; July 02nd 2008

Your green eyes is a lighthouse,
A sweet lighthouse of Dreams
That I find golden treasures
In your smile of the fairy.
Your green eyes is a constellation
Of diamonds of fire and ice,
A constellation of Beauty.
In you’re your green eyes I find
The magic song of Sirens,
The song where I travel
Among clouds of Serenity
In the lands of Moon.

domingo, 26 de outubro de 2008

Carmagedon 02 e a Filosofia Contemporânea

Carmagedon 02 e a Filosofia Contemporânea
(Uma tentativa de Ensaio Filosófico)

Pode um simples jogo de computador servir como gatilho para uma análise filosófica? Sinceramente acho difícil que um jogo como “Paciência (Solitaire)” ou “Freecell” possa levar alguém a refletir sobre John Locke, Averróis ou Pitágoras – até porque sua extrema simplicidade chega a ser irritante. Contudo, um jogo violento e controverso como “Carmagedon 02 – Carpocalypse Now” possui vários elementos intrigantes que podem invocar alguns conceitos e problemas debatidos pela filosofia contemporânea – principalmente aqueles evocando pela tríade germanófona que definiu a civilização ocidental no século XX.

Para situar-se diante dos pontos que serão levantados neste ensaio, é preciso primeiro conhecer o jogo em questão. Pelo título, observam-se alguns trocadilhos infames e divertidos – Carmagedon, nome da franquia, é uma junção de Car (Carro em inglês) e Armagedon, a camppo da batalha do Juízo Final segundo a Bíblia. Na mesma linha, Carpocalypse Now, além de reforçar a brincadeira entre Carros e o Fim do Mundo, também é uma paráfrase ao famoso filme de guerra de Francis Ford Coppola – como a deixar claro que o ambiente será de plena selvageria. Com este nome, percebe-se que o jogo não será tão inocente assim… E ele não é mesmo. É uma corrida de demolição cujo um dos atrativos está no atropelamento de pedestres. O jogo é composto de fases de quatros corridas, das quais as três primeiras o jogador começa com um tempo limitado que será ampliado à medida que ele destrói os carros e/ou atropele os pedestres (o que também implica em recebimento de créditos). A última corrida fase é um desafio, com provas específicas. Em todas as corridas, há também acessórios e caixas que são recolhidas e que podem dar mais crédito, tempo ou alguma habilidade ao carro. O jogador vencerá a corrida destruindo os demais corredores ou concluindo o trajeto. Para completar o quadro de humor negro, dentre os carros de corridas, existem desde referências à cultura pop contemporânea (carros como DeLorean, da série “De Volta para o Futuro”; March 10, da série “Speed Race” ou um Cobra pilotado por Silvester Stallion) como puras gozações, como correr com uma ceifadira, um ônibus envenenado, um trator de construção de estrada ou até um avião Stuka; além de “eastereggs[1]” nas caixinhas.

Como se pode perceber pela descrição, o jogo longe do politicamente correto. Indo na contramão das campanhas educativas de paz no trânsito, o jogo visivelmente parte do princípio que o piloto do carro deve dirigir perigosamente como uma suicida. Isso é melhor percebido com as duas formas de se vencer as corridas ordinárias: aquele que simplesmente completar as voltas ganha menos ponto contra aquele que se dispuser a ser um gladiador motorizado que parte para a destruição do carro adversário. Da mesma forma, a quantidade de tempo inicial não é suficiente para completar a corrida, obrigando ao jogador a periodicamente atropelar alguns pedestres. Determinados tipos de manobras, como esmagar o pedestres na parede ou bater de frente com um outro corredor, são recompensados como bônus. Da mesma forma, os veículos competidores ganham “modificações” na lataria para que melhor possa desempenha sua função de briga/atropelamento. Carros com serras, hélice ou longas lanças afiadas para aumentar seu arsenal destrutivo[2].

Tendo a meta que o jogo tem, com o realismo da violência (como exibição do sangue ou a cenas de corpos humanos sendo esquartejados durante alguns atropelamentos), mais as alegações de mensagens subliminares de inspirações demoníacas e/ou pornográficas, naturalmente que o jogo fosse proibido nalguns países (Brasil, e.g.). Só que isso não impediu que as pessoas (principalmente os jovens) clandestinamente tivessem acesso e que fosse jogado pelos computadores a fora.

Ora, alguém pode está se perguntado agora: Como um jogo moralmente questionável e ilegal pode servir de inspiração para a filosofia, principalmente para debater filosofia contemporânea? Pois é exatamente nas características controversas, no humor negro e na vitória politicamente incorreta que se encontram elementos para se discutir acerca dos pensamentos de Sigmund Freud, Karl Marx e Freidrich Niezstche. Questões como “pulsão de morte”, a “exploração no modo capitalista de produção” e “amor fati” encontram presentes nos frames do jogo, como será demonstrado ao longo deste ensaio.

Um primeiro ponto de contacto entre o jogo e a filosofia contemporânea é com o austríaco Sigmund Freud. Ela é primeira a se destacar, não pela aparentemente óbvia situação de corredor usar a potência do carro como mecanismo de substituição de sua impotência (erótica?) em relação á vida. Na verdade, a agressividade com o que o jogador e entrega à corrida para destruir seus adversários leva a observar como a Pulsão da Morte (ou Thanatos) está presente na nas vidas do seres humanos como motivador da existência. A corrida suicida do jogador é levada a cabo como a mostrar que o “ódio” e a “agressividade” podem ajudar a se chegar a algum objectivo. Desde o momento da largada, a corrida em Carmagedon se dar para conseguir a destruição do oponente. Comumente, os carros já começam um batendo-se nos outros, fazendo manobras de ataques e defesa, já tentando, logo no início tirar os concorrentes da jogada. Mesmo que o jogador não queira, ele acabando entrando na roda-viva de agressividade na medida em que ele precisa evitar possíveis emboscadas. Pode ser que numa curva ou em qualquer outro momento do trajecto ele possa se deparar com outro carro que irá se jogar contra ele, obstruir sua passagem ou tentar joga-lo em algum campo de explosivos. Fechadas e choques tornam-se constante ao longo da corrida. E as próprias situações colocadas pelo jogo, como a necessidade de mais créditos e tempo ou que a pontuação obtida com a destruição de carros é maior que a simplesmente obtida com a conclusão da corrida, faz com que a direção agressiva seja a opção natural para o jogador.

A conseqüência disso está numa corrida em que todos correm para todos os lados, como a representar a quebra da circulação de energia. Já não existe mais tráfego no jogo, uma vez que a conclusão das voltas da corrida é o que menos interessa. O andar a esmo pelo ambiente da corrida, com suas bifurcações, derivações e perdições em que se faz a coleta de caixinhas ou um ocasional encontro com um oponente nada mais faz do que camuflar a imobilidade do indivíduo dentro do jogo (e por que não dizer, também na vida). É como se isso fosse a metáfora dos momentos em que o ser humano, ao sentindo que a vida é uma luta inglória, não sobrasse mais nada a fazer exceto voltar a imobilidade do pó, ao estado inanimado. No fundo o corredor em círculos sem chegar a lugar nenhum – o que não deixa de sugerir uma sensação de imobilidade – só resta ao jogador liberar sua agressividade mais instintiva. Então a morte surge (aparentemente) como o único fim deste círculo – o que não deixa de representar a realidade. Ao final de conta, não é morte o destino final da vida? Assim, os pedestres do jogo que vão sendo repetidamente atropelados complementam a idéia da corrida suicida, revelando ao jogador que a morte é também parte da vida e que outros sentimentos (mesmo aqueles considerados negativos), além do prazer, da generosidade e do amor guiam o ser humano para seu destino.

Só que os bólidos de Carmagedon podem levar para outro caminho filosófico. Um detalhe que não pode ser esquecido no jogo é que, ao longo da corrida, os pontos se convertem em créditos, que jogador pode converter em melhorias para o veículo ou na aquisição de um modelo melhor. O resultado da destruição dos oponentes e nos atropelamentos é no acumulo “material”, que simbolicamente é representado na ascensão representada na posse de um veículo mais potente ou destruidor. Olhando por esse prisma, não seria natural evocar Karl Marx e interpretar o jogo como uma metáfora da exploração capitalista? Não como exemplo de luta de classes sugerida pelo Barbudo de Triers. Mas a corrida como metáfora da desumanidade e a fetichização no modo de produção capitalista.

Os competidores, com seus carros, seriam os membros da classe dominante (Burguesia? Senhores feudais? Escravocratas? Qualquer identidade é possível) se destacando do restante do tecido social. A corrida seria uma representação do jogo político vivido por essa elite. Destruir o carro inimigo seria eliminar um oponente da luta pela hegemonia social e do controle da superestrutura. Só que nesta disputa há o consumo de suprimentos (representado pelo relógio em constante contagem regressiva) que deve ser obtido principalmente pela exploração da classe trabalhadora, representado pelos atropelamentos dos pedestres. Para qual resultado? Acúmulo de crédito, que deveram ser investidos em melhorias ou na comprar de veículos mais potentes! A passividade dos pedestres – que se limitam apenas a caminharem ou numa eventual e ineficaz fuga de um dos carros competidores nada mais mostra que a alienação que os mesmos sofrem. Vítimas da exploração, os pedestres não se revoltam, só existindo assim para serem sacrificados pelos corredores, ou seja, a elite dominante que se diverte na sua corrida. O que não deixaria de acontecer na vida real: quantas vezes os oprimidos forem “atropelados” ao longo da história, nas “corridas” em busca do poder? Não seria Carmagedon um simulacro das Guerras do Ópio ou das campanhas militares no Iraque promovidos pela família Bush?

Se a exploração desumana se encontra explícita nesta observação, ela também evidencia o processo de fetichização nas relações sociais. Os pedestres, que a rigor, deveriam ser considerados seres humanos vivos, passam a dimensões de coisas. São meros meios de obtenção de créditos, mediante o sacrifício representando pelos atropelamentos. Em compensação, o carro do competidor ganha mais valor. De mero veículo para completar as voltas, o carro é a armadura que protege e a arma que fere. Vale mais do que a vida alheia. E o aparecimento, ao longo da corrida, de carros mais velozes ou com maior capacidade de destruição torna-os motivos de cobiça. Como no final de cada corrida, é dada a possibilidade de comprar algum dos veículos, alguns modelos passam a ser motivos de fetiches do jogador e sua posse passa a representar mais que a possibilidade do meio de transporte. Torna-se a própria força e a certeza da vitória.

Outro aspecto é a existência de um mecanismo no jogo que permite que o jogador, se assim o preferir, voltar a correr uma mesma corrida, podendo acumular mais créditos. Deste modo, o que poderia levar apenas a uma passagem automática de fase para a se tornar uma repetição de corridas visando apenas o acúmulo “material” de créditos. Já não importa a finalidade da riqueza acumulada – parece demonstrar o jogo. O que fica, ao final, é a impressão de que no capitalismo, solto de um controle social, limita-se a ganância e ao uso indiscriminado de qualquer meio para a acumulação de capital – mesmo que isso implique no sacrifício da vida humana.

Se o jogo Carmagedon aponta-se um outro rumo? E se a corrida fosse um exercício moral, no qual o jogador deve-se mostrar sua vontade de potência? As corridas não deixam apresentar questões da filosofia nietzschiana quanto a ética que merecem ser observados.

O senso-comum, fundado na moralidade judaico-cristã, costuma identificar a força como algo ruim. O carro, como símbolo da força, não deveria ser usado para tal. Aliás, só por ser forte o carro seria a representação do mal. Mas, se a vida dotou o forte com a força, não seria absurdo que não se manifeste como tal? Se o carro é forte, não deveria mostrar que é o mais veloz, que destrói mais – mesmo que isso implicasse no atropelamento/aniquilamento do mais fraco? Não quer dizer que os pedestres, no jogo, manifestem sua “moral de rebanho” e critiquem os corredores! (o que poderia ser até engraçado), todavia, a questão de fundo do jogo, numa perspectiva nietzschiniana seria observar esta questão da moral do senhor. O ser humano dotado de habilidade, de força (representada pelos carros) é quase que convidado pela natureza a manifestar suas habilidades. Da mesma forma como um leão caça uma presa como parte da condição natural, o homem deveria manifestar suas potencialidades, sua força, sua vontade de potência. È como o início do diálogo do Bhagavad-Gita: estando Árjuna triste com a batalha fraticida de Kuru, Krishna lembra-o da sua condição de guerreiro, dizendo que a impotência “não condiz com quem não conhece o valor da vida, e ela não o levará aos planetas celestiais, mas à infâmia e à desonra”[3].

Assim, no jogo, os combates entre carros nada mais são do o “Amor Fati”, um dizer sim ao destino e a luta nada mais serviria do permitir o florescimento do “além-do-homem”. Seria a metáfora do ser humano superando cada vez mais sua existência. O jogador é convidado pelos seus competidores não a simplesmente ser o mais rápido. Os choques e os combates, com os carros empurrando, batendo-se de frente ou jogando contra os obstáculos apresentação como parte do jogo. Os constantes assédios belicosos dos outros carros mostram o pior caminho é fugir à luta. Apenas retarda a derrota certa. Então a opção mais acertada é dar combate ao inimigo. Em lugar de temer o destino (como o rebanho), deve amá-lo, embriagar-se com a vontade de potência que impeliu a Humanidade a sair de meros macacos nus e predadores e chegar aos atuais estágios de civilização. A recompensa em caso de vitória seria materializada nos créditos que permitiriam melhorar tanto a resistência, velocidade e estabilidade do veículo como na aquisição de um modelo melhor. Seriam as batatas ganhas pelo vencedor, segundo o personagem Quincas Borba, criada pelo Bruxo do Cosme Velho.

Cabe aqui, contudo uma observação: embora Carmagedon 02 o resultado final resulte no aniquilamento dos adversários, a luta para Nietzsche não possui este caráter. Antes, ela deve implicar no domínio do oponente, para ressaltar o forte possa superar suas capacidades. Associar a luta e o “amor fati” de Nietzsche com o aniquilamento (como os nazi-fascistas fizeram na Segunda Guerra Mundial) é cair em equívoco, tal como chamar Aristóteles de neo-platônico. Tendo em mente este aspecto, a corrida de demolição em Carmagedon 02, com os carros mostrando sua força (mesmo em cima dos pedestres), como um alegre aceite a capacidade de lutar e de se superar frente aos problemas do destino. Em lugar de ficar culpando os outros pelo fracasso (como em escravo no rebanho), o jogador deve ser o senhor de destino e encarar a luta como condição de ir muito mais além da sua condição humana.

Vendo o jogo pelas ópticas supracitadas, o jogo amoral com atropelamento de pedestres mostrar ser um interesse exercício de filosofia em que se compreende, em nível fenomenológico, das principais correntes de pensamento que influenciaram o século XX (e por que não dizer, ainda explica muitas coisas no início do Terceiro Milênio). Só que há ainda sobra mais uma questão filosófica, de cunho mais prático. Seria de bom alvitre liberar o jogo? Apesar de ele permitir estes vôos filosóficos, não deve se perder de vista a sua violência e que há o risco de deseducar (para um adolescente ou um jovem) quanto ao trânsito. Numa mente em formação, como mostrar que aparentemente é legal ou bom na ficção do jogo, não é permitido na vida real por conta das conseqüências trágicas? No jogo, efetivamente não existem problemas sérios com a “morte” porque, inicialmente não há “vida humana” que se perde. Os carros, aos acidentes, tudo não passa de simulação. No jogo, o erro pode ser consertado, reiniciando a partida. Na vida humana, como ela é vivida na realidade, uma morte não pode ser simplesmente revertida ou o resultado de um atropelamento real pode deixar marcar para o resto de uma vida. Sendo assim em abonar a censura (coisa por si só inaceitável), considerar a limitação do acesso ao jogo para pessoa mais maduras é a saída ética mais razoavelmente aceitável.

Completando a volta da corrida, o ensaio retorna a primeira questão: Pode um simples jogo de computador servir como gatilho para uma reflexão filosófica? Sim, quando a mente humana está aberta a aventura do conhecimento e queria transcender sua existência. Mesmo num jogo polêmico como é Carmagedon 02 – Carpocalypse Now, permite as pessoas a compreender melhor o pensamento de gigantes como Marx, Freud e Nietzsche – o que no fundo, representar conhecer um pouco sobre este grande mistério que é o ser humano…


Salvador, 24 de outubro de junho de 2008 (02h30/07h41)

[1] Dentre eles; a sensação de se dirigir sobre efeito de drogas psicodélicas; possibilidade de o carro lançar raios contra os pedestres, modo pinball – em que o carro, a cada batida forte pode ser lançado como uma bola de pinball pelos cantos; os pedestres ficarem gigantes, anões ou com as cabeças maiores que o corpo, etc…

[2] Logo na primeira fase, um dos carros mais pitorescos pela suas modificações é uma empilhadeira cuja frente foi substituída por uma guilhotina. Outra que poderia ser citada são o Cobra de Silvester Stallion, com hélices de avião e o DeLorean, com suas várias lanças frontais.

[3] Tradução de Rogério Duarte - “Bhagavad Gita, Canção do Divino Mestre” (Companhia das Letras, 1998). Claro, salientado que os objectivos espirituais e pacifistas propostos nos ensinamentos de Krishna ao discípulo Árjuna passam bem distantes da selvageria de Carmagedon.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Technology as a Tool of Education: Between the Techno-Utopia and Technorealism

Technology as a Tool of Education: Between the Techno-Utopia and Technorealism

(Ensaio apresentado na UNEB, para disciplina "Tecnologia Aplicada ao Ensino de Língua Inglesa")

Technology needs to be used inside the classroom. In principle, nobody will deny this idea because it is logical and historically coherent. If the evolution of technology was important part in the construction of Humanity’s history, it is natural that a Human Being uses the technology as part of the educational process. But, when someone advances in the question and starts to think about advantages and disadvantages about a broad use of the technology, the debate between techno-utopians and technophobes shows that more reflection is needed.

By the technophobe perspective, the use of technology has more disadvantages than advantages because the technology (especially electronic-based) is a kind of Pandora’s Box or Mephistopheles and the people must be careful. But, this critical viewpoint has a problem when it is confronted with the technology means.

The fast development of machines and hardware in the last two decades created a mistake in the common sense: all discussions about technology involve only computer and internet. The cause of this “confusion” is the fast and fantastic development of IT and telecommunication had in these years. However, it can not lose track of the fact that technology go beyond the computer. It includes since the complex machines (as a space shuttle) until simple tool (as a tomahawk) or techniques. This notion is more clear when translates the nuclear word τέχνη / techne, that means “Craft” or “Art”. So, “Writing” and “Alphabet” are technologies too, despite the old age… They highlight a curious point: All educational process is derived of a technology – the technique of codifying ideas using an organized set of letters – alphabet and/or writing. So, how is it possible only seeing disadvantages in the use of technology in the Education, according to technophobes? It is oxymora!

Well, looking from this point of view, there is an invitation to be a techno-utopian and only the advantages of a massive use the technology in the classroom (especially the internet and computer): Increase the students’ motivation, provide real-time information, reach many kinds of learning forms (audiovisual, kinesthetic, etc) and teach the students how to select information and change it into knowledge. All is true when the technologies are a TOOL of learning. The problem is when the technology loses this position and turns into the GOAL of learning . According David Shenk: “The art of teaching cannot be replicated by computers, the Net, (…). These tools can, of course, augment an already high-quality educational experience. But to rely on them as any sort of panacea would be a costly mistake.”

Thus, the conclusion is that technology has a broad definition which involves simple tools and complex machines. So, the discussion is not only seeing if only the use of technology has advantages or disadvantages; however, it is how the technology is used, if the technology is used as a tool or as a goal.

Bibliography
ELLUL, Jacques. “A técnica e o desafio do século”. Rio de Janeiro: Paz e Terra; 1968.
SHENK, David. “Principles of technorealism”. Acessado em em 01º de outubro de 2008, às 07h27.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Editora carioca publica em outubro dois textos de escritor valenciano





Editora carioca publica em outubro
dois textos de escritor valenciano





O poema “Farol do Desejo (Aquele Beijo...)”, e o conto “Iara-mirim” ambos de autoria do escritor valenciano Ricardo Vidal, foram escolhidos pela editora carioca Câmara Brasileira de Jovens Escritores (CBJE) para integrar as antologias “Sensualidade em prosa e verso 2008” e “Antologia de Contos Fantásticos vol. #17”. Os livros estão à venda no site da editora e fazem partem do programa de incentivo da editora aos escritores contemporâneos.




Para o conto “Iara-mirim”, até então inédito, Ricardo Vidal foi procurar inspiração nas lendas indígenas e no folclore brasileiro para compor a aventura do travesso Pedrinho Pimenta no seu encontro com a filha da Uiara. Escrito numa linguagem fluida, o conto conserva um ritmo próximo da oralidade, como que se a estória já nascesse pronta se narrada na varanda de casa ou no terreiro de uma fazenda. Já no poema “Farol do Desejo (Aquela Beijo...)”, publicado anteriormente no livro “Estrelas no Lago”, Ricardo Vidal mostra a poesia de um momento íntimo entre uma mulher e seu companheiro, sem cair na vulgaridade. Nos dois textos ficam evidente algumas das marcas de estilo de Ricardo Vidal: a sutileza no tratamento do tema, a linguagem poética e a noite como cenário dos eventos.




Esta escolha dupla consolida a carreira fulgurante de Ricardo Vidal na literatura, já que é a quinta vez que um texto dele é escolhido pela CBJE para participar de suas antologias. Em 2004 o conto “Retrato de Família” e os poemas “O Farol e o Mar” e “Cântico dos Lírios” foram publicados nas antologias de contos e poemas da CBJE, sendo que o “Cântico dos Lírios” foi também premiado como um dos melhores poemas publicados naquele ano pela CBJE. A dose se repetiu em 2007, com o poema “O Beijo”, também escolhido como um dos melhores do ano.




ESCRITOR E FORMANDO. Além dos textos publicados pela editora carioca CBJE, Ricardo Vidal participou da antologia “Quase Escritores”, que reunia os textos dos alunos do Educandário Paulo Freire. Também publicou seu livro de poemas “Estrelas no Lago” e mantém o blog “Castelo do Bardo Celta” (www.bardocelta.blogspot.com). Com 30 anos completados ame abril do corrente ano, ele já ganhou três menções honrosas nos concursos literários (duas da Academia de Letras do Recôncavo e uma revista Iararana).




Ricardo Vidal é natural de Valença e estudou o Colégio Social de Valença e no Educandário Paulo Freire. No final deste ano, ele se gradua em Letras/Inglês pela Universidade de Estado da Bahia - campus Salvador, com uma monografia sobre o voyeurismo e erotismo nos contos da escritora franco-americana Anaïs Nin.

A Voz da Regiao. http://www.avozdaregiao.com.br/ver.php?manchete=2525

CBJE publica dois textos de Ricardo Vidal

CBJE publica dois textos de Ricardo Vidal

O poema “Farol do Desejo (Aquele Beijo...)”, e o conto “Iara-mirim” ambos de autoria do escritor valenciano Ricardo Vidal, foram escolhidos pela editora carioca Câmara Brasileira de Jovens Escritores (CBJE) para integrar as antologias “Sensualidade em prosa e verso 2008” e “Antologia de Contos Fantásticos vol. #17”. Os livros estão à venda no site da editora e fazem partem do programa de incentivo da editora aos escritores contemporâneos.

Esta escolha dupla consolida a carreira fulgurante de Ricardo Vidal na literatura, já que é a quinta vez que um texto dele é escolhido pela CBJE para participar de suas antologias. Em 2004 três textos dele foram publicados nas antologias de contos e poemas da CBJE, sendo que o “Cântico dos Lírios” foi também premiado como um dos melhores poemas publicados naquele ano pela CBJE. A dose se repetiu em 2007, com o poema “O Beijo”, também escolhido como um dos melhores do ano.

Além dos textos publicados pela CBJE, Ricardo Vidal participou da antologia “Quase Escritores”, que reunia os textos dos alunos do Educandário Paulo Freire. Também é autor do livro “Estrelas no Lago” e do blog “Castelo do Bardo Celta” (www.bardocelta.blogspot.com). Ele ganhou três menções honrosas nos concursos literários. Ricardo Vidal é natural de Valença e estudou o Colégio Social de Valença e no Educandário Paulo Freire. No final deste ano, ele se gradua em Letras/Inglês pela Universidade de Estado da Bahia - campus Salvador.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

In Taberna


In Taberna


29 de julho de 1996


A dream that was not at all a dream
Darkness - Lord Byron.


— Passava lá fora, a chuva caía a cântaros, a tempestade era medonha, entrei. Boa noite, senhores! Se houver mais uma taça na vossa mesa, enchei-a até às bordas e beberei convosco
Bertram - Álvares de Azevedo.


O vinho faz do poeta um príncipe e do príncipe um poeta
Verso árabe citado em Macário - Álvares de Azevedo.


(Prólogo - Fala do Autor)
(Estava chovendo cântaros rubros,
Parecia que Deus abrira sua vinha.
Vários jovens vejo à sono solto
Cantando os sonhos que me convinha
)
………………………………………………………………


(Idealista Rico)
Dizem ser o dinheiro
Um mal necessário ...
Oras bolas - carambolas!!!!!
Por que não o fazem um bem fútil?
………………………………………………………………


(Esteta Helênico)
Pega-te furtivamente este verso
Escreva-te uma galante pena,
Dei-lhe um belo título:
- Eis um grande poema
………………………………………………………………


(Médico de Coimbra)
Zombaste Bocage, meu caro Bocage
De toda a medicina.
Mas do que valeria sua vida
Se o esculápio não cumprisse sua sina??
………………………………………………………………


(Realista mas Honrado)
Ventos, Chuvas e Trovões
Terremotos, Incêndios e Tufões;
Mas quem agüentaria, Caro barão,
Ter em chamas o próprio coração????
………………………………………………………………


(Apaixonado Incorrigível)
Quem é a sombra
Que mo aparece a noite?
É um anjo do amor?
Ou o demônio de mia desgraça?
A virgem de meus sonhos?
Ou a música perdida da infância?
É só uma barata .......... POOF!!!!!!!!!
………………………………………………………………


(Um Poeta Medievalista)
Traga-me papel e tinta; caneta e café,
Um grande poema estar surgindo...
Um soneto sobre algum copo de vinho,
Uma epigrama sobre a noite com u’a mulher!
………………………………………………………………


(Um Francês da Quartier Latin)
Je suis fleur du amour,
Coeur orange du Vie, Soleil.
Poetè, Je mangè emocion,
Glorie, tout le musique macabre,
Je — feèrique passion
Pour une femme.

Je suis flame du monde:
Je suis…

Je suis le Noir,
Je suis le Rein.
………………………………………………………………


(Velho Libertino)
Beije todas as fadas
Enquanto fores jovem e vigoroso
Beba toda a juventude
Para não reclamares quando estiveres idoso.
………………………………………………………………


(Nosso Padre, Bêbedo)
Khayyam, Epicuro, Bocage, Anacreonte:
Em quer ares estiveram antes
Para nos darem lições tão brilhantes?
………………………………………………………………


(Sincero, com um guarda)
Não entendo o porquê das mulheres dizerem hoje
Não existir, dentre os homens um só cavalheiro?
Quando fazemos uso da boa etiqueta
Somos acusados de atacar co’o falo guerreiro
………………………………………………………………


(Inglês, dentre amigos)
Three things I need:
A full bottle of wine;
A good book of poems
And a hot kiss of virgin.
………………………………………………………………


(Espanhol, nascido nas Américas)
Besame ahora, angelito negro;
El tiempo vuela como un caballo.
Después, yo estuviere viejo en mío aposento...
Y tu, veleidosa, amases otro señorito.
………………………………………………………………


(Outro Francês, este contemporâneo do 9Termidor)
Lumière du ma vie, soleil noir.
Tu es la fleur du un coeur poètique,
Tu es la fèe du une poèse romantique
- Musique divine in blanc soir.
………………………………………………………………


(O Bruxo Solitário)
Bruxas e fadas, Elfos e duendes;
Tenhas Robim Goodfellow por companheiro
Quando a floresta estiver em festa,

Tenhas Mefistófeles por conselheiro
Quando o coração estiver em chamas,

Tenhas Vênus por amante
Quando tua alcova arder em desejo;

Mas não tenhas a cabeça nos pés,
Não tenhas pedras no coração
Quando estiveres amando em teu leito.
………………………………………………………………


(Rapaz Italiano)
Buona sera, casta signorina.
Come stai, bella madona?
Come stai, fiore della vita mia.


Bongiorno, calda nostagia.
Dove stai, il mio dolce amore?
Dove stai, sogno del gioventù?


Gellida mattina, dove stai mia fiore?
………………………………………………………………


(Espírito Latino)
Copulo ergo sum.
In seacula seaculorum,
Carpe diem. Carpe diem.
Post Nubila, Phoebus.
………………………………………………………………


(Arauto do Mago)
Cante o vento a boa-nova,
Espalhe a brisa pelos prados
A notícia que agora brado:
Estão Oberon e Titânia em amor profundo.
(Sei agora que perto estamos do fim do mundo).
………………………………………………………………


(Outro Inglês)
Go away, go away mad
Horse in sea’s wind ...
Go after, go after sad
Darkness - go and leave-me!
Go and leave-me!
………………………………………………………………


(Estudante da Sorbone)
Seios duros e glúteos arrebitados
Beijos lascivos e corpos mulatos
Nada como gozares a juventude fresca
Antes que esta profana fonte esteja seca.
………………………………………………………………


(Revolucionário, dentre outros conspiradores)
Liberdade - Voe alto, Revolução,
Detenham as lavas do vulcão!
Liberdade - Lema da Juventude;
Abra tuas asas na mais alta amplitude.
………………………………………………………………


(Nobre de antiga estirpe)
Sua Majestade el-rei mandou avisar:
Precisa-se de domador de fera
Corajoso, louco e bonito para casar
Com a princesa - graciosíssima megera.
………………………………………………………………


(A Romantic Poet)
I sleep in river of my heart.
The moonlight kiss me, love me.
The butterfly drink my dreams.
I die! I lie! I am the black spleen.
………………………………………………………………


(Cantor de Ópera, cínico)
Baixe seus olhos, Orgulho!
O mundo não passa de uma canção:
Coros de catástrofes, Allegro de saparias
E quartetos solitários em teu leviano coração.
………………………………………………………………


(Filosofo Sóbrio)
Taberneira! Traga-me mais vinho!
Não se afoga coração sem a loucura,
Não se fica bêbedo sem o espírito
E a morte não tem meio melhor
De levar alguém à sepultura.
………………………………………………………………


(O Autor, já com sono)
Morto de sono, durmo com Morfeu.
O vapor do narguilé chama-me à cama.
Sonhos de volúpia e paixão
Dilui-se todos, findou-se a trama;
Era tudo uma triste ilusão.

domingo, 28 de setembro de 2008

Declaração de Voto - Salete Lucena



Salete é um poema especial nesta eleição. É um poema de luta, de esperança e de alegria. É um poema em que Política rima como Seriedade, Ética rima com Democracia, Justiça Social rima com Desenvolvimento Sustentável. Salete é a voz da dona de casa, do estudante, do professor, do cristão, do negro, do jovem, do trabalhador, do intelectual, do povo na Câmara de Vereadores. Salete é uma mulher revolucionária que “tem graça, tem gana”, tem sonho sempre e “possui a estranha mania de ter fé na vida” porque traz consigo valores firmes para construir uma Valença Cidadã e Democrática, com as bênçãos de Deus. Por tudo isso que meu voto é para Salete!

Como vivemos num páis democrático, fica aqui minha declaração de voto e apoio a candidatura de Salete Lucena para Vereadorea de Valença.

O Quarto de Soeiro Suarez

O Quarto de Soeiro Suarez

Salvador; 30 de junho de 2008.

“A vida segue sempre em frente
O que se há de fazer...”
O CadernoToquinho/Mutinho

Primário

Quando Soeiro era criança, seu quarto era imenso. Era um reino encantado e sua casa era um mundo enorme.

Seu guarda-roupa era uma montanha mágica e misteriosa sempre com novos lugares a serem explorados. Sua mãe tinha medo dos perigos desta montanha, que algum desabamento pudesse soterrá-lo. Mas quem iria convencer a criança Soeiro sobre perigos se nesta montanha havia tesouros mágicos no topo a serem descobertos e cavernas maravilhosas onde pudesse se esconder?

Neste reino de fadas e fantasias havia uma cômoda onde ficavam seus brinquedos e uma estantezinha onde ele guardava seus desenhos infantis. Na parede as histórias eram contadas pelos quadros da Disney. Em cima de cama os elfos sorriam e as bruxas voavam num móbile feito pelo seu pai. O tapete era uma planície de aventuras, em que as almofadas de bichinhos serviam como colinas móveis para as batalhas com os soldados de borracha.

Claro que noite seu reino tinha seus fantasmas e suas sombras e seus medos. Havia algo na escuridão e no silêncio que pareciam evocar vampiros e monstros. Por isso que, muitas vezes, quando acordava no meio da noite, corria desesperado pelos longos corredores da casa para dormir na cama de seus pais.

De todos os lugares o melhor era sua cama. Era seu veleiro de pirata predileto que usava para navegar na imaginação. Com um cabo de vassoura fazia um mastro. A tripulação eram bonecos de plásticos. E com eles, Soeiro estivera na ilha Baratária de Dom Sancho Pancho e navegara junto com o capitão Ahab a procura de Moby Dick. Lutara contra o Capitão Gancho na Terra do Nunca e ainda ajudara a resgatar o professor Pierre Arronax quando este fugia do Nautilus. Algumas vezes Soeiro chegou até a pular a janela do quarto para enterrar tesouros no quintal. E quando estava com sono, deixava seu navio vogando suave pelo Luar. E assim, como o Barão Munchausen, velejava pelo Mare Nubium[1],[2], Lacus Spei[3] e Sinus Iridum[4].

Ginásio

E foi numa dessas viagens que Soeiro aportou na pré-adolescência. O quarto poderia parecer grande, mas já não era tão encantado assim.

A cômoda e a estantezinha forma substituída pela escrivaninha (onde ficavam seus livros paradidáticos) e pelo criado-mudo. Não havia mais o móbile de elfos sorrindo e bruxas voando, porém um móbile de foguetes de cartolina, que o próprio Soeiro fizera na escola. O tapete era o lugar onde não poderia deixar o par de tênis sujo e as almofadas serviam esporadicamente como armas para guerrinhas com o irmão caçula. Nas paredes, os quadros da Disney que não empoeiravam de velho foram transferidos para um pequeno sótão da casa de praia da família Suarez.

O guarda-roupa encolhera e virara uma colina sem muita importância. Não havia tesouros mágicos no topo, mas o lugar onde ficavam os últimos brinquedos que ainda lhe divertia. Quanto às antigas cavernas, viram cofres onde escondia algumas revistas em quadrinhos – contrabando proibido. Também as noites já não causavam mais sustos (exceto quando algum barulho vinha de fora e pudesse sugerir um ladrão…).

Não queria ser confundido como criança, mas ainda estava longe de ser adulto. Isso Soeiro sentia quando suas tias ainda o mimavam com apertos nas bochechas e falando com aquela voz de quem está falando com um bebezinho. Também não gostava quando alguém ralhava com ele, dizendo os “não pode” de crianças: não pode ouvir isso, não pode assistir aquilo, não é horário de criança ficar acordado… Mas quem poderia controlar o sono dele? Depois os melhores filmes passavam a noite depois da novela…

Já a cama… esta ainda era um veleiro. Mas um veleiro diferente de outros anos. Já não tinha o mastro de cabo de vassoura nem tripulação. Como Soeiro já não era mais capitão pirata, sua antiga embarcação tomava ares de navio-fantasma. Diria até que se assemelhava ao Holandês Voador ou ao Mary Celeste. Talvez o correto fosse dizer que sua cama se transformará no castelo de popa, o refúgio do capitão. Ainda assim, isso não impedia de continuar visitando Sancho Pança, Capitão Nemo e Simbad através dos livros. E quando Morfeu e o João Pestana vinham mais tarde, Soeiro ainda vogava para a Lua. Só que desta vez ela ia para outros lugares como o Oceanus Procellarum[5], Mare Crisium[6] e Lacus Temporis[7].

Colegial

E o tempo foi passando pelos mares…

Então Soeiro acordou. Era adolescente. E o quarto encolhera. Não era tão grande nem tão pequeno. Só que ele começava a se sentir um pouco abafado dentro dele.

Também já não era mais o seu antigo reino encantado. Era a parte de casa onde Soeiro poderia respirar um pouco de privacidade e curtir na solidão os sofrimentos e as perplexidades causados pelas mudanças que seu corpo sofria.

Nas paredes só havia pôsteres das bandas “Queen” e “The B-52’s” e dos filmes “Sociedade dos Poetas Mortos” e da trilogia “Indiana Jones”, colados com fita crepe. Já não tinha mais tapete, nem móbile e muito menos almofadas de bichinhos – havia dois pufes onde ele jogava seu corpo cansado. Ganhara uma televisão com DVD e um computador (que fora do pai) para seus trabalhos. O guarda-roupa era um guarda-roupa eternamente desarrumado cujas portas ele transformara numa galeria da revista Playboy. Também escondia suas primeiras revistas pornôs, junto com as revistas de super-heróis. Quantos aos brinquedos… somente os soldados de chumbo ficavam perfilados no criado-mudo, como um enfeite antigo, quase mofado.

Decisivamente Soeiro estava em outra estação, vibrava em outra sintonia. Festas, Baladas, os primeiros beijos, novas responsabilidades. Tinha algo que lembrava o romantismo de Werther e a rebeldia de James Dean nas suas ações.

Só a cama que aparentemente não mudara. Continuava sendo seu refúgio. Era lá onde Soeiro gostava de ler seus romances de Júlio Verne e Alexandre Dumas, os contos de Caio Fernando Abreu e os quadrinhos da Marvel de Detetive Comics. Também era lá onde chorava suas brigas com seus pais e, de vez em quando, provava solitariamente à noite os primeiros prazeres adultos. E assim dormia, esquecendo que o barco continuava sua viagem, atravessando o Lacus Luxuriae[8], Lacus Timoris[9] e Mare Imbrium[10].

Universidade

Então um dia (outro dia mágico) Soeiro acordou. Era jovem, atingira a maioridade. E seu quarto ficou pequeno e sua casa o asfixiada.

Suas paredes eram prateleiras e mais prateleiras com sua biblioteca. Como estudara Letras Vernáculas, seus romances foram incorporados ao acervo técnico. No criado mudo ficava seu aparelho de som e na escrivaninha atulhava com CDs de música clássica e de Bossa Nova, junto com o retrato da namorada. No maleiro do guarda-roupa, algumas caixas escondiam seu passado: os soldados de chumbos, os desenhos infantis, algumas revistas pornográficas, os vários cadernos de escolas e as fotocópias encadernadas da faculdade.

A velha porta era seu escudo para evitar as inevitáveis discussões com sua família. A velha harmonia da infância virava agora nunca cruenta disputa geográfica, onde os filhos e os pais precisavam sempre demarcar seus territórios e seus momentos. Todos intuíam que isso era chato e deixava a mamãe Suarez triste (já que ela primava pela união da casa). Contudo, Soeiro também precisava de seu espaço; viver sua vida segundo seus ditames, não pelos preconceitos de seus pais. Por mais que ele tentasse ser freudiano para suportar sua vida, a sua formação meio sartreana meio marxista o impelia a querer mais e mais do que simplesmente um quarto pequeno de Rodion Raskólnikov. Ele se sentia um Julien Sorel vestido de vermelho e negro, um Dr. Fausto que lera Nietzsche pronto a conquistar o mundo. Isso seus pais poderiam entender, quando ficavam implicando com ele por conta dos gastos com o telefone???

Por isso que ele sentia necessidade de sair daquele quarto pequeno. Mas iria para onde??? E o que ele iria depois da formatura?? E ele iria mesmo abandonar seu ninho? Então ele procurava sua cama, para meditar e solucionar seus problemas.

Com muito custo que sua cama agora era de casal (com jeito coube no quarto) e de vez em quando sua namorada dormia com ele. E durante a noite, Soeiro vagava (inconscientemente, porque já não se esperaria que um futuro Doutor ficasse brincando de Capitão Gancho numa cama), ora pela Sinus Asperitatis[11], ora pelo Lacus Solitudinis[12]. Às vezes passava pela Sinus Concordiae[13], Sinus Roris[14], Lacus Oblivionis[15] ou Lacus Odii[16]. Todavia, muitas das vezes encalhava apenas no Palus Somni[17], como quem deixa o Tempo levar as mágoas para chegar a algum porto no Sinus Sucessus[18].

Casamento

E assim chegou a grande noite. Soeiro dormiria pela última vez no seu quarto. Já não era menor nem maior. Tinha o mesmo tamanho que sempre teve, desde sua infância. Ou melhor, estava mais vazio. Não tinha móbiles, nem biblioteca, nem reino ou escrivaninha. Apenas uma cama velha, de criança, que sua mãe armou (Será para os netinhos passarem o dia com a avó, justificava-se ela). Já havia alguns meses que Soeiro se mudara para sua casa nova. Contudo, não sei por qual saudosismo, ele resolveu passar aquela noite lá. E como alguém que reencontrava um antigo tesouro, ele entrou no seu navio pirata. Mas não visitou nenhum pântano, lago ou mar da Lua. Apenas dormiu como um anjo barroco, perdido nas nuvens…

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[1] Todos os nomes latinos aqui referidos são acidentes selenográficos, mais precisamente os “Mares” da Lua.
[2] Mar das Nuvens.
[3] Lago das Esperanças
[4] Baía do Arco-Íris
[5] Oceano das Tormentas
[6] Mar das Crises
[7] Lago do Tempo
[8] Lago da Luxuria
[9] Lago do Medo ou do Pavor
[10] Mar das Chuvas
[11] Baía da Aspereza
[12] Lago da Solidão
[13] Baía da Harmonia
[14] Baía do Orvalho ou do Orvalho ou da Lágrima
[15] Lago do Esquecimento
[16] Lago do ódio ou do Rancor
[17] Pântano do Sono
[18] Baía do Sucesso

Iara-Mirim

Iara-Mirim

Salvador; 21 de dezembro de 2004 (à noite)

Não sei quem me contou, só sei que o conto me foi contado assim como eu estou te contando agora.

Pedrinho Malagueta era um menino arteiro e ardido como uma pimenta malagueta, de tanta traquinagem que ele fazia no Arraial do Bom Sossego. Esperto como o jabuti das lendas dos bugres, ágil como um sagüi das matas e teimoso como um jegue; Pedrinho só parava quando fazia uma arte que deixasse até o Tinhoso de cabelo em pé e o fizesse andar desconfiado depois. Mas apesar disso, todos o acabavam perdoando no final, pois ele tinha um coração de ouro, como o de um anjinho barroco no altar na capelinha. Seu problema era a teimosia…

Pois bem, era uma tarde ensolarada e a brisa que vinha serena e fresca para relaxar trouxe consigo o Tião Mascate. Como dificilmente alguém vinha para aquelas bandas da serra, sua chegada era motivo de festa e alvoroço no arraial – principalmente para gurizada.

Assim, logo depois que o mascate falou com o senhor vigário e armou sua tendinha na praça, Tião se sentou debaixo do umbuzeiro e começou a picar o fumo enquanto via cair o crepúsculo rubro dentre as cumeeiras alaranjadas e violetas da serra. Era como uma senha para as crianças deixarem seus folguedos e se acomodarem quietinhas em torno de viajante, de modo de ouvir suas histórias e causos.

Tião era um exímio contador, como os poetas da antiga Grécia. Falava de reinos distantes e de princesas encantadas. Falava de cidades em que as pessoas moravam que nem formigas em casas mais altas que um morro e de carroças que andavam sozinhas, sem cavalo ou burrinho. Falava da Europa de mil castelos e das Arábias de desertos sem fim. Falava das maravilhas das ciências e dos mistérios da fé. Falava de bicho e de gente – e também de assombração! Tião contava com gosto como montou numa Mula sem Cabeça e de como surrou um Lobisomem. E principalmente, de como quase casou com a Uiara que vivia no ribeirão que nascia ao pé da serra vizinha ao arraial. E como as crianças gostassem mais desta história, Tião punha mais tempero nela. Contava e exagerava na beleza da cabocla, de cabelos lisos e negros que nem a asa da graúna, de voz suave e límpida como o canto de sabiá e das lágrimas de diamante que ela verteu quando ele partiu. Tião terminou comovido o causo, mas respirou fundo e advertiu para nenhum menino tentasse procurá-la, pois lembrou que a Uiara sempre afogava quem se apaixonassem por ela.

Mas para Pedrinho o conselho lhe era surdo. Seus olhinhos brilhavam que nem dois mboitatás numa noite de lua nova. Talvez por esta ficando um homenzinho e o coração estivesse a ser picado por um bichinho novo, talvez por pura teimosia infantil de moleque arteiro e ardido, só sei que Pedrinho queria porque bem queria ver a tal moça do ribeirão. Queria tocar a cabeleira negra e lisa, queria ouvir sua voz suave e límpida. E embora Tião não tivesse dito, não duvido que Pedrinho sonhasse com os lábios rubros de beijos doces que nem o mel da jataí.

Sua cabecinha começou a maquinar uma de suas. Pediu para Tião contar de novo como e quando encontrou a Uiara. Claro que Tião contou alegre, mas no final, como a desconfiar de Pedrinho (já conhecia das artes do menino) perguntou o porquê do interesse. Pedrinho desconversou com uma risada sonsa e saiu a dar cambalhotas e piruetas. Como já a noite tivesse chegado e a história tivesse se acabado, as crianças foram seguindo as estripulias de Pedrinho, deixando o mascate em paz.

Mas tarde Tião foi ter com o velho Quincas Pimenta, pai de Pedrinho. Como já prevendo uma diabrura, foi preveni-lo. Desconfiou dos olhinhos brilhando que nem mboitatás. Quincas depois contou para Constança, sua esposa, que contou também o senhor vigário, pois assim haveria de mais gente para tentar por juízo em Pedrinho. O vigário conseguiu que Pedrinho confessasse seu desejo pela Uiara do ribeirão. Aí todos tentaram demover ele dessa idéia. Tião lhe contou causos e mais causos de homens que morreram afogados. Quincas prometeu uma boa sova caso ele fosse de noite ver a tal Uiara. O Vigário deu conselho e lembrou do fogo do inferno para quem se envolve com estas assombrações. Constança apelou para as lagrimas maternas. Finalmente, Pedrinho só teve sossego quando prometeu que não iria mais sair naquela noite. Os adultos, por precaução, passaram a vigiá-lo. Foi uma noite, duas, três, passou a semana e nada de Pedrinho fazer de suas artes para ver a sereiazinha. Tião acabou partindo com suas mercadorias. Quincas cuidava da roça e Constança fiava em casa. Pedrinho ia para escola e fazia suas pequenas travessuras, mas não falava mais na Uiara. Passou outra semana, e outra, no final, passou um mês.

Mas Pedrinho era ardido demais! Fez todos esquecerem a história para ele por seu plano em prática. Quando todos já estavam nas suas camas dormindo e roncando, quando o arraial era só sossego e silêncio, Pedrinho se levantou de sua cama, foi andando pé ante pé e devagarinho abriu a janela de seu quarto. E como menino useiro e vezeiro, pulou a janela e se esgueirou como uma sombra pela escuridão, até um tronco caído de jequitibá, onde ele havia guardado um lampião, um facão e um colar de continhas, tudo preparado de véspera para seu encontro com a Uiara.

Tudo pronto, ele entrou mata adentro e dentre os troncos, trilhava tranqüilo e traquino pelo arvoredo. A lua seguia alta como uma coroa prateada rodeado pelo manto de cetim negro do firmamento. O luar abria o caminho enquanto o lampião espantava as demais assombrações. Uma ou outra coruja passava com seu pio agourento. O coração de Pedrinho era um misto de medo infantil e valentia de adolescente. Duas léguas depois ele chegava a seu destino.

Ainda de longe deu para ver o espelho prateado da lagoa onde nasce o ribeirão. Pedrinho apagou seu lampião e deixou os olhos de acostumarem com a escuridão. Aconchegou-se perto de uma goiabeira conhecida sua e ficou a assobiar uma modinha que ouvira a alguns dias de seu pai. Nas mãos segurava o colar de continhas. Assobiou uma, duas, três canções que conhecia e nada da Uiara aparecer. Já estava quase desistindo quando surgiu de dentro da lagoa uma indiazinha bela.

Não era mulher feita como falava Tião, porém uma menina quase adolescente – como Pedrinho. Estava nua, usando apenas com uma pulseira de contas, um cordão cheio de muiraquitãs cingindo a cintura e um pingente de penas que se aninhava em seus seios. Ela nadou um pouco nas águas até chegar às margens e se sentou numa pedra negra. Ajeitada como uma rainha brejeira, ela colocou uma rosa na cabeleira e ficou a cantar. Era um solfejo terno, como de um sanhaço enamorado.

Pedrinho ficou a olhar, até que depois de alguns minutos tomou coragem e timidamente passou a assobiar, acompanhando a canção da cunhantã. A Uiara, bem brejeira, continuou sua canção de costa para Pedrinho, como se não houvesse mais ninguém nas cercanias. De simples acompanhamento passou a um dueto, em que o assobio do menino respondia aos solfejos da menina e vice-versa. Finda a ópera tapuia, a uiara se virou e acenou para o nosso herói. Ele saiu de seu esconderijo com seu presente.

A uiara ficou apaixonada pelo rapazote de cabelos ruivos como uma arara-pitanga, rosto suave como um anjinho barroco e de olhos escuros e brilhantes como mboitatás. Pedrinho também se apaixonara pela iara-mirim de cabelos negros e lisos, de lábios rubros e olhos lindos como muiraquitãs. Tião não havia mentido quanto à beleza da tapuia.

Assim que Pedrinho chegou perto, deu-lhe o colar de continhas. A Iara-mirim deu-lhe em troca um dos seus muiraquitãs, que colocou como pingente. Depois de trocados os presentes, os lábios dos dois se tocaram num beijo singelo, primeiro beijo de amor. Olhos fechados e lábios quentes, corpos se enlaçando no abraço infantil. Ficaram assim por alguns minutos, até quando se ouviu um alvoroço enorme e tochas vindo em direção da lagoa.

Foi tudo muito rápido. De uma hora para outra a Iara-mirim sumiu na lagoa e os pais de Pedrinho Malagueta mais alguns moradores do arraial chegaram ao ribeirão. Quincas ainda deu um puxão de orelha no menino. Dizia seu Quincas: Menino, mas não lhe disse para você ter cuidado com Uiara? E se ela tivesse pegado você e o levasse agora para o fundo do rio? Mas, não sei se por milagre ou por arte já calculada, Pedrinho inventou uma desculpa qualquer que lhe fez escapar de um bom castigo. Todos voltaram para o arraial. Pedrinho passou a mão no bolso e viu que o muiraquitã estava lá, como lembrança daquele beijo caboclo.

Agora, o engraçado é que, enquanto no mundo dos homens havia essa alvoroço todo, lá no ribeirão, lá no reino encantado das Mães d’Água, Botos, Paranamaias e Ipupiaras, a Iara-mirim também recebia sua bronca da Uiara-Mãe: Iara-mirim arteira e ardida, eu já não te falei para evitar de se encontrar com os homens da superfície? E se eles te fizessem mal e a levasse para ficar presa no aquário, como atração de circo?

Compadre, eu não sei como souberam deste detalhe. Só sei que foi assim que aconteceu. E acabou!

A Noite do Poeta

A Noite do Poeta

Valença; 01º de janeiro de 2005

“Para isso que somos feitos:
Para lembrar e sermos lembrados
Para chorar e fazer chorar
(…)
Por isso que temos braços longos para os adeuses
……………………………

Assim será a nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
(…)
……………… ver
A noite dormir em silêncio.

Não há muito que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez, de amor”
Poema de NatalVinícius de Moraes

“Para isso que somos feitos, para amar e ser amado”. Era nisso que meditava Aurélio quando voltava da festa. “Seria este o verso do Poetinha? E se fosse, teria dito ele só para os simples mortais ou também incluíram os poetas que vivem no Olimpo?”. Lá fora, o luar era silêncio e dúvidas.

A festa chegou inesperada. Num minuto Aurélio atendia o telefonema e no outro já adentrava na Kombi bege com alguns ex-colegas em direção ao clube de praia na cidade vizinha. Sua chegada era aguardada por todos, que queriam falar com o ilustre escritor. As mocinhas (algumas nem tanto) estavam alvoroçadas a espera de um autógrafo e quem sabe dançar com ele. Dos homens, Aurélio ouviu discursos e mais discursos, enaltecendo seu brilho e talento e relembrando os já distantes anos de colégio.

Aurélio não deixou de sentir certo gosto doce de ironia naquela festa: Ele, que sempre fora apupado por não ser um desportista, que tinha gostos estranhos como música clássica, sempre o preterido da turma; agora era o homenageado. Ao contrário dos demais colegas que arrastam uma existência reumática de herdeiro de pequenos negócios domésticos, bacharéis de província ou chefes subalternos de repartições públicas; Aurélio se tornou Doutor-professor de universidade federal, escritor famoso, cronista de jornal importante, capa de revista e entrevistado na TV – em suma, a única verdadeira celebridade naquela festa. Já que estava ali, aproveitou para se divertir e esquecer sua solidão olímpica. Bebeu, dançou, contou anedotas, tirou fotos. E já que era estranha e sinceramente amado por todos naquele recinto, passou a querer bem a todos eles, seus antigos carrascos escolares e atuais vassalos.

Porém, o mais estranho nisso tudo era o fato dele está ali, naquela festa. Aurélio sempre fora avesso a esses sentimentalismos e sua estada na cidade natal naquele fim de ano devia-se somente a sua querida avó enferma. Veio incógnito, pois queria sossego. Evitou sair pelas ruas. E além de dois ou três primos, só ligou avisando de sua chegada para uma velha amiga, Margot…

“Margot! Só poderia ser dela esta idéia!” Pensou Aurélio já meio ébrio. Fora dela o telefona do convite. Margot fora uma antiga paixão, um amor de adolescência, um primeiro alumbramento de jovem face aos mistérios do bicho mulher. Fora sua voz doce que o fez largar sua noite de estudos para estar ali. E ela fora a sua acompanhante desde a van até o salão, era sua guia naquela balbúrdia e seu anjo da guarda ao lhe lembrar os nomes de rostos já esquecidos. Ela estava linda no tomara-que-caia de seda negra com brocados prateados de inspiração chinesa. Usava um discreto colar de prata com um pingente de turmalina negra, numa rima ao seu corpo moreno e levantino.

Ela estava muito animada e parecia que não queria desgrudar de seu amigo. Já se passaram muitos anos que os dois pombinhos não se encontravam. Aurélio lhe contava suas aventuras na Europa, detalhes de sua vida de solteiro “dandy” e bastidores da vida cultural. Margot contava causos de sua vida de enfermeira-chefe do hospital da cidade vizinha e suas viagens pelo Brasil. Parecia até um casal de namorados…

Pareciam. E Aurélio ainda guardava no sótão do seu peito algo do primeiro amor, algo que nunca fora concretizado e que talvez seja o motivo que o levara a se expatriar de sua cidade natal. Percebeu, contudo, que havia algo de diferente nela. O olhar de Margot não trazia mais a melancolia de uma inglesa romântica. Antes, eram dois mboitatás a luzir nos pauis de uma noite sem luar. Esposo e filhos Margot não tinha para alegria de Aurélio. Porém ela usava uma aliança no dedo, que ele preferiu ignorar para o bem de sua ilusão.

A festa já começava a chegar ao fim. A banda tocava músicas cada vez mais lentas e o salão fora tomado por casais. Aurélio, sob efeito dos Syrah e dos Cabernet Sauvignon do Vale do São Francisco sentia-se mais corajoso para seguir em frente. Aproveitou para chamar Margot, que também já estava mais acesa, e foram dançar juntinhos. “Seria agora o momento de resolver de vez sua solidão e começar o namoro?” Já na quinta dança, corpos juntinhos, compasso lento de tema de amor, Aurélio olhou ternamente no fundo dos olhos cintilantes e aproximou suavemente seu lábio ao dela. Seria agora que…

Um pigarro interrompeu definitivamente seus sonhos. Era Judith, a garota mais bela e desejada do colégio, que tantos pecados encheu os corações de seus colegas. E em lugar do disputado Aurélio, era Margot quem convidava para dançar. As duas dançaram apaixonadamente. E trocaram beijos na boca e carinhos discretamente lascivos no salão. Seus olhares quentes denunciavam o amor sincero e mútuo.

Se para todos isso já era normal para Aurélio fora uma triste surpresa que procurou disfarçar com autógrafos e fotos. “Por que ela não contara? No final das contas, passara tanto tempo longe da vida de sua cidade natal?”. Não procurou explicações. Também evitou escândalos (e como poderia?) – afinal, não haveria mal nenhum em ela se apaixonar por outra pessoa.

Aproveitou esse momento de solidão para observar as outras pessoas. Seus ex-colegas não se casaram com nenhuma beleza espetacular. Muitos já não tinham as formas de atletas de outrora nem levavam a vida de glamour que Aurélio se acostumara nos salões literários internacionais. Mas eram felizes e amavam sinceramente seu colega famoso. E seu único amor que teve em toda vida era a mais feliz das convidadas, vivendo apaixonadamente com outra mulher. Quanto a ele, só lhe restava a glória de ser solteiro e célebre.

Na volta, quando todos estavam cansados, ele pode contemplar as duas dormindo juntas no fundo da Kombi. A mão delicada de Judith estava sobre o seio formoso de Margot, como a indicar posse afetiva e efetiva e excitamento pela tórrida noite de amor que as duas poderiam ter mais tarde, no aconchego de seu lar. Aurélio, só lhe cabia meditar melancolicamente. “Seria para isso que somos feitos? Pois é, meu caro Vinícius, os poetas foram feitos para sofrer no Olimpo. Aos demais mortais foi dada apenas a dúbia esperança de viverem na ilusão de amar...”

Memórias de um Boliche Denunciado

Memórias de um Boliche Denunciado

Último domingo de novembro, o primeiro de férias da nossa turma do curso de Letras com Inglês da UNEB. Depois de um semestre duro de projetos e mais projetos de pesquisas, seminários em cima de seminários sobre a literatura anglo-irlandesa de expressão pré-céltica; tratados sobre tratados acerca de lingüística gerativista aplicada ao processo de aquisição de terceira língua altaico mongol em uma comunidade de surdo-mudos indianos da ilha de Papua Nova Guiné; alguns alunos (desculpe-me a força do hábito, Profª. Cristina, eu deveria falar em "educandos") resolvemos quebrar a estafa com uma singela partida de boliche.

Confirmada a partida, na noite anterior eu procurei informar-me na internet sobre o funcionamento o jogo, as regras, as técnicas de lançamento da bola (bem, eu só conhecia o jogo pelos desenhos dos Flintstones). Quanto ao preparo físico... Deixei por conta de vintes levantadas de copos de cerveja com os amigos, em um bar próximo de casa. Afinal, o único esporte que eu pratico é o halteroCOPIsmo... Em suma, sentia-me super-tera-hiper-mega-preparado para jogar.

Da turma de uns trinta e poucos colegas encontrei-me com três. Bem, já foi um começo rever parte da turma nas férias. Marcamos a partida no Boliche em Brotas. Cheguei cedo - somente me atrasei em trinta e cinco minutos de meu "apertamento" em Campinas de Brotas até o Brotas Center. Clarice e Kátia já estavam fazendo uma concentração tática na lanchonete em frente, malhando bastante, comendo salgadinhos e tomaando sorvetes. Não demorou muito para chegar Mauro e entrarmos no Boliche.

Jogamos três boas partidas. Clarice, que já havia treinado antes, daria uma boa técnica de um futuro time de Boliche dos estudantes de Letras da UNEB. Volta e meia derrubava todos os pinos da pista, o que lhe garantia uma boa pontuação. Kátia e Mauro se revelaram bons jogadores. Mauro, eu colocaria na posição de artilheiro em nosso futuro time: Venceu as duas partidas, a primeira com 64 pontos, contra 48 da segunda colocada (fui o último, com 26 pontos). Kátia jogava com graça e firmeza - candidata forte a capitã do nosso futuro time, "English Letras UNEB Bowling Club". Quanto a Ricardo...

Eu fui um show à parte... em trapalhadas! Na primeira vez em que lancei a bola caí de cara no chão. Meus tiros foram precisos! Em acertar as bolas nas canaletas e não marcar nenhum ponto (não sei porque isso acontecia toda vez que usei a técnica "Flintstones" de correr nas pontas dos pés e lançar a bola com toda força no final). Bem, meu vexame teria sido menor se nas últimas jogadas eu não tivesse acertado a bola em minhas pernas, o que não só me fez cair na pista como acabei jogando minha bola na pista ao lado. Alvo de risada do Boliche inteiro, eu vi que minha posição no time é de "cartola", ou seja, só devo ficar assistindo as partidas, nunca jogando!

Durante a noite nossos professores foram muito bem lembrados. Cada pino era batizado com o nome das matérias e dos trabalhos que fizemos ao longo do semestre. Como foi relaxante derrubá-los e compensarmos aquela nota baixa ou o cansaço trabalhoso de ter preparado aquele seminário! Fora isso, ainda nos embriagamos com muito suco de laranja...

Mas entre mortos e feridos, se salvaram todos e nos divertimos bastante naquela tarde. Apesar de ter meus braços até agora doendo, devido aos esforços de jogar uma bola mais pesada que eu, espero que tenha outras partidas de boliche com os colegas da turma. Até lá, eu continuarei malhando, levando minhas taças de vinhos e meus copos de cerveja...

Biblioteca do Bardo Celta (Leituras recomendadas)

  • Revista Iararana
  • Valenciando (antologia)
  • Valença: dos primódios a contemporaneidade (Edgard Oliveira)
  • A Sombra da Guerra (Augusto César Moutinho)
  • Coração na Boca (Rosângela Góes de Queiroz Figueiredo)
  • Pelo Amor... Pela Vida! (Mustafá Rosemberg de Souza)
  • Veredas do Amor (Ângelo Paraíso Martins)
  • Tinharé (Oscar Pinheiro)
  • Da Natureza e Limites do Poder Moderador (Conselheiro Zacarias de Gois e Vasconcelos)
  • Outras Moradas (Antologia)
  • Lunaris (Carlos Ribeiro)
  • Códigos do Silêncio (José Inácio V. de Melo)
  • Decifração de Abismos (José Inácio V. de Melo)
  • Microafetos (Wladimir Cazé)
  • Textorama (Patrick Brock)
  • Cantar de Mio Cid (Anônimo)
  • Fausto (Goëthe)
  • Sofrimentos do Jovem Werther (Goëthe)
  • Bhagavad Gita (Anônimo)
  • Mensagem (Fernando Pessoa)
  • Noite na Taverna/Macário (Álvares de Azevedo)
  • A Casa do Incesto (Anaïs Nin)
  • Delta de Vênus (Anaïs Nin)
  • Uma Espiã na Casa do Amor (Anaïs Nin)
  • Henry & June (Anaïs Nin)
  • Fire (Anaïs Nin)
  • Rubáiyát (Omar Khayyam)
  • 20.000 Léguas Submarinas (Jules Verne)
  • A Volta ao Mundo em 80 Dias (Jules Verne)
  • Manifesto Comunista (Marx & Engels)
  • Assim Falou Zaratustra (Nietzsche)
  • O Anticristo (Nietzsche)