Sua Majestade, O Bardo

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Valença, Bahia, Brazil
Escritor, autor do livro "Estrelas no Lago" (Salvador: Cia Valença Editorial, 2004) e coautor de "4 Ases e 1 Coringa" (Valença: Prisma, 2014). Graduado em Letras/Inglês pela UNEB Falando de mim em outra forma: "Aspetti, signorina, le diro con due parole chi son, Chi son, e che faccio, come vivo, vuole? Chi son? chi son? son un poeta. Che cosa faccio? scrivo. e come vivo? vivo."

domingo, 10 de março de 2024

Eterna Tentação

 Eterna Tentação


Valença, 23 de agosto de 2021


O sentimento em número se transforma

Tens que caber nessa sequência

Pois obedeces a uma fixa forma.

Morte do Soneto – Ray Almeida


Lá fora, detrás da janela, explode o luar,

Com sua coleção de tulipas e nenúfares.

Explodem algaravias, amores e quasar;

Inspiração surgindo pelas veias e lugares.


Sento-me na escrivaninha, contemplo estelar

Paisagem para sonhos loucos e invulgares.

Busco a poesia que inflama todo esse ar,

Com sua coleção de fogueiras nos altares.


Minhas mãos ardem p’ra escrever o poema:

Não me falta vernáculo, pergaminho e tema.

Só me falta a forma p’ra expressar a canção.


Contudo, apesar conhecer tanto meu ofício,

Nunca escapo dessa armadilha do artifício:

Escrever um soneto é uma grande tentação…


Uma Tarde Qualquer…

Uma Tarde Qualquer…


Valença; 18 de outubro de 2023


Nas confusas redes do seu pensamento,

Prendem-se obscuras medusas.

Morta cai a noite com o vento.

Marinheiro sem mar – Sophia de Mello Breyner Andresen


O poeta Melhor bebeu suas casas

em todos os bares da cidade,

a cada trago uma porta, uma janela:

em cada poema acolhia a arte.

O poeta Melhor – Aleilton Fonseca


I

Um céu azul,

Quase anil…

Um céu límpido

De fim de tarde,

Onde os sonhos voam

Pelos tons pálidos

Dessa imensidão,

Como fantasmas gélidos de nuvens. 


Um céu azul,

Quase anil… 

Um céu sólido

Antecedendo

O crepúsculo,

Onde velhas mágoas

Velejam singelas

Pela imensidão,

Como sinos tenebrosos do passado.


Um céu azul,

Quase anil…

Um céu mágico

De feérico arrebol,

Onde a esperança

Graceja vistosa

Pela imensidão,

Como um arcanjo perdido no tempo.


II

Mas nesse céu azul,

Em que todos os poemas

Olha para mim e conspiram,

Poemas que perscrutam

Meu coração sossegado,

Ficam a me perguntar

Quando começarei a recolher

Esses sonhos esparramados,

Essas mágoas escondidas,

Essas esperanças dispersas,

E deixarei a poesia fazer sua catarse

Com todo esse material abundante

Que se oferece para meu versejar.


Mas hoje eu estou cansando,

Estou muito cansado da vida

E das grandes perguntas

Que movem o universo!

Na mesa boêmia do bar,

Quero apenas contemplar

Os mistérios das musas

E os feitiços das mulheres.

Os sonhos? As mágoas?

Es esperanças? Elas que esperem

Um outro poema para serem cantadas.


Hoje, em meio a uma anônima tarde

De um século de líquidas emoções,

Ficarei sozinho nessa minha mesa do bar,

Admirando como um poeta profissional

As ousadas curvas femininas,

Sob esse céu azul, quase anil…


Sermões sobre o Século XXI

Sermões sobre o Século XXI

Valença, 15 de novembro de 2023

Aqui tudo parece
Que era ainda construção
E já é ruína
Tudo é menino, menina
No olho da rua
O asfalto, a ponte, o viaduto
Ganindo pra lua
Nada continua (…)
Alguma coisa
Está fora da ordem
Fora da Ordem - Caetano Veloso

I
Século XXI, eis que você se apresentada…
Não estamos viajando pelas estrelas
Nem correndo com carros atômicos.
Ainda não escravizamos os robôs,
Não alcançamos o ócio libertador,
Não respeitamos o seio de Mãe Gaia,
Não alcançamos a harmonia mundial,
Não falamos a língua dos anjos e dos homens,
Não achamos a cura do câncer e da maldade,
E nem alcançamos o fim do flagelo da fome.
A Utopia de Aquário não chegou
E mesmo assim você, Século XXI, se apresenta
Como um pesadelo vampírico de modernidade.
E o que você tira de sua cartola?

II
A palavra é o emoji
E ela perdeu o seu sentido.
O que somente importa é:
A tela piscando!
O corte dos vídeos!
A postagem do twitter!
O espaço instagramável!
A obsolescência programada!

Mas nós perdemos a poesia de uma borboleta
Cruzando o vento como uma bailarina graciosa.
Perdemos a sabedoria de se esperar alguns minutos
E assim não entendemos a lentidão de uma semente.
Não temos resiliência e não conseguimos compreender 
A alternância entre tempestades e calmarias nas marés.

Tudo é jovem e contemporâneo, 
tudo é líquido e instantâneo.
E ainda assim é ruína sem sentido.

E por mais que se traduza os genomas complexos,
Por mais que enlace o planeta com fibras ópticas,
Por mais que todos estejam conectados em rede,
O que existe é a solidão de uma vida inútil,
Guerras sempre florescendo nas periferias
E Cérberos telemáticos dilapidando a esperança.

III
Mas mesmo assim,
No meio desse deserto de bits e bytes,
Uma flor rebelde ousa
Erodir as telas dos celulares:
Ela anunciará minha sonhada aurora,
Despertar escarlate de fraternidade e empatia.

Biblioteca do Bardo Celta (Leituras recomendadas)

  • Revista Iararana
  • Valenciando (antologia)
  • Valença: dos primódios a contemporaneidade (Edgard Oliveira)
  • A Sombra da Guerra (Augusto César Moutinho)
  • Coração na Boca (Rosângela Góes de Queiroz Figueiredo)
  • Pelo Amor... Pela Vida! (Mustafá Rosemberg de Souza)
  • Veredas do Amor (Ângelo Paraíso Martins)
  • Tinharé (Oscar Pinheiro)
  • Da Natureza e Limites do Poder Moderador (Conselheiro Zacarias de Gois e Vasconcelos)
  • Outras Moradas (Antologia)
  • Lunaris (Carlos Ribeiro)
  • Códigos do Silêncio (José Inácio V. de Melo)
  • Decifração de Abismos (José Inácio V. de Melo)
  • Microafetos (Wladimir Cazé)
  • Textorama (Patrick Brock)
  • Cantar de Mio Cid (Anônimo)
  • Fausto (Goëthe)
  • Sofrimentos do Jovem Werther (Goëthe)
  • Bhagavad Gita (Anônimo)
  • Mensagem (Fernando Pessoa)
  • Noite na Taverna/Macário (Álvares de Azevedo)
  • A Casa do Incesto (Anaïs Nin)
  • Delta de Vênus (Anaïs Nin)
  • Uma Espiã na Casa do Amor (Anaïs Nin)
  • Henry & June (Anaïs Nin)
  • Fire (Anaïs Nin)
  • Rubáiyát (Omar Khayyam)
  • 20.000 Léguas Submarinas (Jules Verne)
  • A Volta ao Mundo em 80 Dias (Jules Verne)
  • Manifesto Comunista (Marx & Engels)
  • Assim Falou Zaratustra (Nietzsche)
  • O Anticristo (Nietzsche)