Sua Majestade, O Bardo

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Valença, Bahia, Brazil
Escritor, autor do livro "Estrelas no Lago" (Salvador: Cia Valença Editorial, 2004) e coautor de "4 Ases e 1 Coringa" (Valença: Prisma, 2014). Graduado em Letras/Inglês pela UNEB Falando de mim em outra forma: "Aspetti, signorina, le diro con due parole chi son, Chi son, e che faccio, come vivo, vuole? Chi son? chi son? son un poeta. Che cosa faccio? scrivo. e come vivo? vivo."

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Soneto Navegante

Soneto Navegante

Baia de Todos os Santos; 29 de dezembro de 2014

Mãe Iemanjá, em teu leito um barco branco
Passeia como uma pluma massageando
Teus azuis e tuas vagas. É doce encanto,
De sereias venusianas aquífero acalanto.

Nele vejo meu sonho galáctico como veleiro,
Dentre ondas de neutrinos vogando ligeiro,
A procurar na eternidade d'um porto passageiro
Para descansar este meu coração guerreiro.

Quero esquecer que na terra existem detritos
Mentais, preconceitos e galimatias rasteiras,
Maculando a Existência como triste afronte.

Pois o mar e o céu são dois gigantes infinitos,
Territórios onde quero fincar minha bandeira
E fundar meus impérios par’ além do horizonte.


P:.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Lancamento do livro 4 Ases e 1 Coringa

Lançamento do livro 4 Ases e 1 Coringa

Ocorre no próximo sábado, 13 de dezembro, às 19h, o lançamento da coletânea de poesia 4 Ases e 1 Coringa no Centro Cultural Olívia Barradas. A obra reúne quatro gerações da poesia valenciana, em que a linguagem poética percorre desde a tradição clássica dos sonetos rigorosamente bem construídos às transgressões morfossemânticas de inspiração neoconcretistas, dando ao leitor a oportunidade de conhecer mais um pouco o panorama da literatura valenciana contemporânea.
O livro reúne poemas dos “ases da poesia” Adriano Pereira, Mustafá Rosemberg, Otávio Mota e Ricardo Vidal (sendo os três últimos, membros da Academia Valenciana de Educação, Letras e Artes) e tem o prefácio escrito por Levi Vasconcelos, jornalista valenciano e "coringa" convidado para fazer a apresentação dos poemas. A arte da capa é assinada por Jamile Menezes.
Livro e o lançamento contam com o apoio cultural da Prefeitura Municipal de Valença, Câmara Municipal de Valença, SAAE, APLB Sindicato, LACLIV, COFEL, Casa Lacerda, Rio Mar Modas e Newton Gráfica e Recarga de Cartuchos.

AUTORES
Mustafá Rosemberg é médico formado pela tradicional Faculdade de Medicina da Bahia e autor dos livros de poesia Pétalas… também amei e Pelo Amor… Pela Vida! Também publica semanalmente poemas no jornal Valença Agora. Mustafá mantém vida a tradição dos sonetos construídos com milimétrica perfeição e amplo domínio da língua portuguesa, verdadeiro príncipe dos poetas do Rio Una.
Otávio Mota é artista visual, dramaturgo, escritor e coordenador do Centro de Cultura. Publicou os livros Pensar Fluidos e Apocalipse Man, além de ter encenado as peças Apocalipse Man, Ensaio para um Grito Brando, Bidi, Calu e o Rei Raul e Amares- Uma Saga de Todos os Ares. Juntamente com Mustafá Rosemberg, Otávio Mota participou das antologias Valenciando e Rio de Letras. Autor de poemas clássico, como Una que te quero Una e Arguidá, a poesia de Otávio Mota é um passeio neorromântico pelos encantos de Valença, extraindo do dendê os eflúvios cosmopolitas de sua arte.
Ricardo Vidal é escritor da nova geração, formado em Letras/Inglês pela Universidade do Estado da Bahia (campus Salvador). Publicou o livro de poesia Estrelas no Lago, além de participar de várias antologias, dentre os quais Novos Valencianos. Ensina Inglês no Colégio Estadual Hermínio Manoel de Jesus (povoado do Bonfim) e Cultura e Literatura Baiana na Faculdade Zacarias de Góes (FAZAG). Vidal traz em seus versos uma leitura crítica-cósmica do mundo, com citações aos (des)caminhos literários que percorreu até agora.

O quê? Lançamento do livro 4 Ases e 1 Coringa.
Quando? 13 de dezembro, às 19h.

Onde? Centro de Cultura Olívia Barradas, Valença.
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domingo, 30 de novembro de 2014

Cartografia Boemia

Cartografia Boêmia

Valença; 29 de novembro de 2014 (23h16)

Tenho 36 anos e hoje foi noite de artes no Centro de Cultura. Exposição mais Peça de Teatro. Depois se alimentar o espírito com catarse e mimeses, o corpo pede uma boa comida. Vou ao Estação Tatiba e, enquanto o Filé Alto não vem, vou me entretendo ouvindo música e bebendo um mojito, como se logo depois Hemingway fosse aparecer na porta e apostar comigo uma partida de braço-de-ferro.
Tenho 36 anos e minha namorada está linda no seu vestido de organdi preto. Como não amar seu sorriso e seus olhos. Sei que a noite promete e por isso vamos para o Espaço Tiago Porto, comer um gostoso crepe de camarão. O vinho tinto, nas taças de cristal, é o aperitivo que prepara a língua para os beijos que nos daremos mais tarde, debaixo do chuveiro.
Tenho 36 anos e hoje é dia de voltar a ser criança. Meus pais e meu irmão chegaram de viagem e vão passar uns dias comigo. E nada como matar a saudades seguindo os velhos hábitos: ir mais uma vez à Casa Verde, sentar na mesma mesa perto do dono e pedir a mesma pizza toscana que eu sempre gosto. O garçom irá nos servir, trazendo sempre a mostarda (que papai não dispensa) e mamãe sempre deixará um pedaço de pizza a mais para que os filhos possam comer um pouco mais.
Tenho 36 anos e houve reunião na Academia de Letras. O final de sábado foi proveitoso em debates sobre artes e a cultura da nossa cidade e, para coroar o encontro, os imortais vão à Pizzaria Nossa Senhora do Amparo, contemplar a cidade enquanto saboreamos a pizza à moda da casa: Lagosta foi feita para ser degustada no Olimpo…
Tenho 36 anos e meus amigos do Clube Boêmio querem sair para se conversar. A internet pipoca de novidades e há muito que se discutir: política, cinema, livros e filosofia. Para desembaçar as ideias e excitar a língua, voltamos aos anos 80 e pedimos Lagoa Azul (a bebida, não o filme) e Vodka com Água Tônica, enquanto tramamos revoluções e reformas ara consertar o Brasil.
Tenho 36 anos e é a hora do Angelus. O Sol descansa indolente por detrás das colinas depois de um dia proveitoso na escola. Nossa Senhora do Amparo está comendo um delicioso acarajé feito por Acácio e Pelegrini está no seu Kiosk, servindo suas alquimias geladas e atiçando boas discussões sobre política junto com hambúrgueres de camarão.
Tenho 36 anos e estou só na noite de domingo. Está tudo calmo na minha cidade e vou ao Kiosk Águas de Março, comer casquinha de siri gratinada e cuscuz de camarão. Deixo que o Rio Una leve meu poema, enquanto encerro minha ronda boêmia pela cidade.
C:.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Dos livros valencianos que Valenca ignora

Dos livros valencianos que Valença ignora

Valença; 25 de novembro de 2014 (20h08)

Eu reorganizava minha biblioteca quando me deparei com um problema maquiavelicamente agradável: a quantidade de livros de autores do Baixo Sul crescera de tal forma que não cabem mais em uma prateleira de literatura baiana. Tinha que organizar uma prateleira específica para os autores de minha terra. 
Em uma análise superficial, alguém poderia creditar o fato a atual fase alvissareira, em que os autores de nossa terra têm publicado muitos livros em um período muito curto de tempo: algo como um novo livro a cada seis meses. Só em 2015 Valença viu o lançamento de oito novos livros, cinco dos quais compõe a “Coleção do Baixo Sul”. Contudo, como me referi antes, isso é uma análise superficial, pois a outra fonte de “novas” aquisições para minha biblioteca foi o garimpo nos sebos e são desses livros que eu gostaria de falar mais amiúde. Depois de horas e horas na frente do computador, conseguir achar algumas raridades de cair o queixo. Vejamos algumas:
Do Conselheiro Zacarias (cujo bicentenário de nascimento comemora-se no ano que vem) conseguir comprar duas obras: um volume com a coleção completa de seus discursos parlamentares e o seu tratado político “Da natureza e limites do poder moderador”. Seus discursos comprovam o porquê de ter recebido comentários favoráveis de Machado de Assis e Humberto de Campos: uma verdadeira aula de como debater política em alto nível, mesmo nos ataques cáusticos aos adversários. Sua obra-prima ajuda a entender não apenas o que se passou no meio do segundo reinado, como qual era mentalidade de parte da elite brasileira da época.
Igualmente interessantes são os escritos de Fábio Luz. Como o romancista, “Elias Barrão” e “Chica Maria” (1915) mostram um autor que analisa a realidade social do Brasil do início do século XX com a pena de um poeta na prosa. Mas o que esperar do erudito crítico literário que escreve “A Paisagem no Conto, na Novela e no Romance” (1922)? Basta dizer que, no último, nosso conterrâneo cita obras indianas e polonesas com a intimidade de quem conhece profundamente a literatura do mundo. Pena que é cada vez mais difícil achar seus outros livros – como suas obras-primas “Ideólogo” e “Os Emancipados”.
Durante as manhãs que passei no Memorial da Câmara (e nisso fico grato das boas conversas que tive com Janete Vomeri) descobri a indicação de três tesouros: a fotocópia do “Esboço Histórico do Município de Valença” (1918), de Manoel de Cunha Lopes e Vasconcelos; os poemas de Elmano Amorim e a prosa de Galvão de Queiroz (o jornalista, não o marechal - apesar de homônimo). De Elmano pude adquirir a edição autografada do “Luar de Agosto” (1967). Do jornalista (Inocêncio) Galvão de Queiroz consegui comprar seus livros infantis “Os Sinais Misteriosos” e “O pinguim que veio do frio”, além das suas traduções de “As alegres noites de Mont-Martre” de Maurice Dekobra e “A Besta Humana” de Émile Zola. Sei que há mais livros e traduções de Galvão de Queiroz (como os seus livros de contos “Caíva” e “Um punhal no coração”) e espero ter um golpe de sorte de acha-los nas poeiras de algum sebo… Golpe de sorte que me levou a “A Synthese Universal”, de Dr. Aristides Galvão de Queiroz. O livro de Aristides (de quem tenho dúvidas ainda se ele é tio ou tio-avô do jornalista) é um douto comentário sobre a Razão e a Fé, resgatando o papel da religião na sociedade. Consegui a edição original de 1880, com dedicatória a S.A.I Conde D’Eu. 
Fascinantes também são os livros do médico valenciano Prof. Alício Peltier de Queiroz: “A frigidez sexual da mulher” (1961) e “O problema clínico do retro-desvio uterino” (1943); o ensaio “Em busca de uma constituição: esboço de um ensaio de política objetiva” (1972) do ex-prefeito Admar Braga Guimarães e os dois volumes que compõe “Compêndio Narrativo do Peregrino das Américas”, de Nuno Marques Pereira. Esse autor teria nascido em Cairu no meado do século XVIII e escreveu o embrião do romance e da filosofia brasileira. Atualmente a Academia Brasileira de Letras edita esse livro, como parte da coleção Afrânio Peixoto.
É com um misto de admiração e tristeza que vejo quantos livros excelentes foram produzidos por valencianos (naturais ou adotados). Admiração em ver que a produção editorial de nossa terra é muito rica e possui uma tradição que até ajuda a explicar porque vivemos esse período de supernova literária. Mas é com tristeza que, descubro o quanto a nossa história e nossa memória tem sido negligenciada aqui em Valença. Diante dessa triste constatação, fica a suspeita: quais outros autores de nossa terra estão aí, esperando o momento para serem descobertos e, quiçá, serem reeditados?

terça-feira, 18 de novembro de 2014

4 Ases da poesia valenciana lancam livro


AVISO – Lançamento Adiado

O coquetel de lançamento do livro 4 Ases e 1 Coringa, que estava marcado para o dia 20 de novembro, no Centro de Cultura Olívia Barradas, foi suspenso devido a um súbito mal estar de Mustafá Rosemberg (um dos autores do livro) e a necessidade dele realizar os exames médicos de rotina. A abertura da exposição “Arte Negada” e a “Ocupação Cultural” ocorrerá normalmente, às 19h.

Ass. Adriano Pereira, Otávio Mota e Ricardo Vidal (coautores do livro).




4 Ases da poesia valenciana lançam livro



Ocorre na próxima quinta-feira, 20 de novembro, às 19h, o lançamento do livro de poesia 4 Ases e 1 Coringa no Centro Cultural Olívia Barradas. Na ocasião, também será realizada a abertura da exposição “Arte Negada” e a “Ocupação Cultural” com o tema Consciência Negra.
O livro reúne poemas dos “ases da poesia” Adriano Pereira, Mustafá Rosemberg, Otávio Mota e Ricardo Vidal (sendo os três últimos, membros da Academia Valenciana de Educação, Letras e Artes) e tem o prefácio escrito por Levi Vasconcelos, jornalista valenciano e "coringa" convidado para fazer a apresentação dos poemas. A arte da capa é assinada por Jamile Menezes. Livro e o lançamento contaram com o apoio cultural da Prefeitura Municipal de Valença, Câmara Municipal de Valença, SAAE, APLB Sindicato, LACLIV, COFEL, Casa Lacerda, Rio Mar Modas e Newton Gráfica e Recarga de Cartuchos.
Autores - 4 Ases e 1 Coringa traz para o público a produção recente de quatro nomes que se destacam na poesia valenciana nos últimos anos. Cada autor com sua linguagem e poética próprias, mas junto, formando o caleidoscópio que caracteriza a atual cena literária valenciana.
Mustafá Rosemberg é médico e publicou os livros Pétalas… também amei e Pelo Amor… Pela Vida!, além de semanalmente publicar poemas no jornal Valença Agora. Mustafá mantém vida a tradição dos sonetos construídos com milimétrica perfeição e domínio da língua portuguesa. Otávio Mota é artista visual, dramaturgo, escritor e coordenador do Centro de Cultura. Publicou os livros Pensar Fluidos e Apocalipse Man, além de ter encenado as peças Apocalipse Man, Ensaio para um Grito Brando, Bidi, Calu e o Rei Raul e Amares- Uma Saga de Todos os Ares. Ambos participaram das antologias Valenciando e Rio de Letras.
Ricardo Vidal é escritor da nova geração, formado em Letras/Inglês pela UNEB. Publicou o livro de poesia Estrelas no Lago. Adriano Pereira é outro jovem nome que se destaca nas artes de Valença, sendo o idealizador e curador da Ocupação Cultural. Atualmente estuda História na UFRB e públicos os folhetos Terço Mariano, Dez-Graças Poéticas, Dos(z)es P(r)ensadas e Primeiras Impressões – com poesias que são jogos concretistas com palavras. Os dois participaram da antologia Novos Valencianos.
Lançamento - Junto com o lançamento do livro, também será realizada a Exposição "Arte Negada", com os artistas visuais Juliano Brito, J. Pincel, Nen Cardim, Adilson da Bahia, E. Coutinho, M. Antônio, Gugui Martinez, Elias Santos, Adriano Pereira, Otávio Mota, Yara Lúcia, Luciano Freitas e outros artistas visuais do território o Baixo Sul; Performance teatral de Charles Miller e a "Ocupação Cultural", sarau multilinguagens que reúne os diversos artistas valencianos.

O quê? Lançamento do livro 4 Ases e 1 Coringa.
Quando? 20 de novembro, às 19h.
Onde? Centro de Cultura Olívia Barradas, Valença.



domingo, 19 de outubro de 2014

Quase Escritores, 20 anos depois

Quase Escritores, 20 anos depois
(para minhas alunas e poetisas Tanile e Mayse, com o desejo de nunca parem no "quase")

Valença, 19 de outubro de 2014 (00h39)

   Estou no meu escritório ouvindo as músicas de Rose Azevedo enquanto olho para as estantes de minha biblioteca. Na prateleira que dediquei à literatura de minha terra, dentre as obras de Zacarias de Góis e Vasconcelos, Fábio Luz, Galvão de Queiroz e meus confrades e confreiras da AVELA, está um livro de capa azul e título ousado: Quase Escritores. E fico pensando quantas águas passaram por debaixo da ponte nos últimos vinte anos que separam o lançamento desse livro e o momento que escrevo essa crônica.
   O livro em questão surgiu por iniciativa de minha mestra e confreira Rosângela Góes, como parte da Literarte – festival artístico promovido pelo Educandário Paulo Freire, no já distante ano de 1994 e que, além do lançamento do livro, houve uma palestra de abertura com Araken Vaz Galvão, exposição de trabalhos de artes dos alunos e um recital que se finalizou com um coral de professores e alunos e um “pocket-show” da professora Rose Azevedo. A antologia em questão era resultado de um concurso literário interno em que os alunos podiam inscrever até dois textos. Relembro-me desses fatos porque, dentre os textos escolhidos para o livro, está minha crônica “Saudades” (texto baseado em uma redação escrita por mim quando estudei a então oitava série do 1º Grau no Colégio Social de Valença, sob a orientação de profa. Dinalva Teles). Fora o meu primeiro texto publicado em livro e por isso, eterno motivo de orgulho. 
   Mas, ao lado de minha alegria pessoal, existe uma coisa que me deixa, não sei por que, reflexivo: o título nos anunciava com uma ousadia ímpar. Quase ES-CRI-TO-RES. Aqueles “aborrescentes” e “crionças” estavam sendo alçada a condição de futuros colegas de Castro Alves, Jorge Amado e Dias Gomes que apenas davam o primeiro passo, mas poderia se esperar vôos audazes nos futuro. Quiçá, poderiam ser eles um possível foco de renovação literária para nossa cidade - acaso eles cultivassem o hábito da escrita criativa e perseverassem no desejo de editarem mais e mais textos seus. No entanto, o que aconteceu foi que praticamente esses “quase escritores” passaram ao largo da trilha de Cervantes. São hoje profissionais de saúde, professores e advogados cujas mãos deixaram de empunhar a pena de Camões e a lira de Virgílio. Alguns sequer devem ter em casa uma cópia do livro ou se lembram dos textos que publicaram. E quanto as letras valencianas, elas vieram se renovar sim - mas pelas mãos de algumas das professoras que tão entusiasticamente proclamavam a admiração pelos primeiros textos de seus jovens participantes da antologia. 
   Por isso que fico até tentando a perguntar a profa. Rosângela: Cadê esses quase escritores hoje? Por que não vemos mais textos deles publicados? Será que valeu a pena, ao final das contas, o esforço ter publicado esse livro, quando vemos que praticamente ninguém mais seguiu a carreira literária? No entanto, minha intuição me adverte que, se algum dia que lhe fizer pessoalmente essa pergunta, a resposta estará na ponta da língua, nos versos de Pessoa: “Tudo vale a pena / se a alma não é pequena”. E alguns desses resultados estão aí: Vinte anos depois, a jovem professora que realizara o pocket-show gravou seu CD: Dom – Rose Azevedo se mostrou nele uma inspirada cantora e compositora. Um dos alunos que participou da antologia se formou em Cinema pela Universidade Federal Fluminense – Alan Barros  Nogueira atualmente escreve roteiro de filmes no Rio de Janeiro. E mais outro, que participou tanto do livro como do coral de alunos e professores, esse sim realmente virou escritor – Ricardo Vidal ganhou vários prêmios literários, publicou seu próprio livro e tornou-se o jovem confrade de suas mestras dentro da Academia. 
   As sementes artísticas lançadas por professoras Rosângela, Perpetinha e Raimundinha, de alguma forma, frutificaram. E quantas mais ainda irão frutificar?

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Ordens medicas

MICROCONTO - ORDENS MÉDICAS

O médico chamou os familiares mais próximos para uma conversa reservada, longe do quarto do hospital:

- Aqui está a licença médica. O paciente teve uma crise nervosa e precisa urgentemente de repouso absoluto. Recomendo a vocês que ajudem a criar um ambiente de total relaxamento, longe de qualquer fonte de irritação e stress. Caso contrário, o doente corre sério risco de agravar o quadro

Os familiares, sinceramente preocupados com a saúde do doente, seguiu a risca TODAS as recomendações do médico. Até o derradeiro minuto, fizeram de tudo para aborrecê-lo, irritá-lo, estressá-lo e infartá-lo precocemente...

(qualquer semelhança com a realidade é melhor nem comentar...)

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Vitivinicultura literaria

Vitivinicultura Literária
Tempo & Criação Literária

Senhoras e senhores, boa noite para todos.

Minha contribuição nessa távola redonda talvez não possa ter uma aplicação imediata numa oficina de criação literária, mas (creio eu) poderá dar mais clareza aos que, saindo daqui, pretendam continuar no caminho da escrita criativa. Gostaria de falar sobre o Tempo dentro do processo de criação literária, mas exatamente como ele interfere na avaliação e na escrita em direção ao texto final.
O senso comum, ainda embebido de uma herança romântica, coloca o texto literário como algo que nasce pronto sob alguma inspiração sobrenatural. É como se fosse uma espécimen de psicografia, em que um “daimon” advindo de outros éons possuísse nosso corpo e mente para escrever ou então um anjo ou orixá ditasse o poema ou o romance já pronto e acabado. Mas, o bom senso aponta para uma outra direção – o texto nasce, a priori, como um eterno devir, um rascunho em que se vislumbra alguma coisa que só será perceptível mais adiante. E para se chegar nela, o escritor precisa que a razão crítica haja sobre o texto com frieza a fim de observar como este vai amadurecendo. E para que isso aconteça, é necessário usar o fator tempo.
Pessoalmente, sempre imaginei o exercício da literatura como algo mais próximo da produção do vinho. Nos parreirais do idioma colhem as palavras e as frases para serem prensadas no tanque branco da página (ou na tela, se pensarmos nos computadores) e assim formar o mosto/texto. Depois, são deixadas fermentando e decantando sozinhas. Convém que o escritor profissional periodicamente retorne aos seus textos, burile onde for preciso, e, principalmente, acompanhe essa fermentação, a fim de ver em que situação está sua obra. Penso nisso porque os textos (pelo o que pude tirar de minha experiência), normalmente seguem três caminhos:
01) Alguns textos viram vinagres porque não resistiram a prova do tempo. Mesmo que, na hora da composição ele realmente emocione, no outro dia (ou na outra semana, ou ainda, meses e anos depois) eles já não encontre ressonância n’alma. Mostram-se por demais ingênuos ou meramente vazios, ainda que retorne a eles e os emendem. Aliás, não é bom realmente mexê-lo: praticamente seria necessário escrever um novo texto, mais apurado, substituindo esse. Não prestam para publicação e inexoravelmente o seu destino é o lixo ou o fundo esquecido de uma gaveta.
02) Outros textos ainda não envelheceram o suficientemente bem. São textos difíceis, com um forte travo do tanino e que tendem a se confundir com os textos avinagrados acima citados: não estão maduros a ponto de serem publicados. Contudo, isso não quer dizer que seja um texto para ser descartado, pois trazem algo que pertube na leitura, pois nasceu póstumo. Ele ainda guarda surpresas, é um texto indomado, o qual (talvez) até precise de duas ou três emendas, algumas correções necessários a fim de que possa sair redondo na página do livro. É um texto cuja leitura, por parte do escritor, precisa ser mais bem digerida antes de mandar servir aos leitores – digestão essa que pode ser longa o suficiente a ponto de o texto vir a lume pelas mãos de um pesquisador que, tendo acesso ao arquivo do escritor, o encontre e o publique em uma edição póstuma de obras completas ou em uma edição crítica.
03) E, last but not least, há os textos que estão prontos para serem engarrafados. Venceram a prova do tempo e a leitura ainda inebria com facilidade, não restando dúvidas ao escritor de que já se pode entregar aos seus leitores. É o que quase não precisa de aparos nas arestas e que o escritor oferece ao público.
Contudo, qualquer que seja o destino desse texto, sobre ele foi necessário sofre a ação do tempo, o que torna o ofício da escrita criativa um processo de escrever, reescrever, fundir, cortar, ler, reler, recortar, corrigir, aumentar e (auto)criticar constantemente. E se a pessoa tiver interesse em publicar suas obras, saberá que periodicamente serão feitas triagens em cima de triagens, leituras em cima de leituras.
Isso se faz necessário, pois o primeiro momento da escrita nós somos traído pela emoção. Seja porque o texto surgido em uma única rajada da pena, seja porque foi preciso muito sangue-suor-e-lágrimas para terminá-lo, a impressão que muitos tem é que o texto está perfeito. Todas as ideias estão devidamente concatenadas, a linguagem apresenta-se soberbamente como nós desejávamos, não há nenhum senão a ser corrigidos. Inconscientemente, pode ser que estamos apenas cansados demais em continuar o trabalho e precisando de uma pausa, por isso temos tendemos a achar que o resultado está bom. Mas muito dificilmente isso ocorre. Então é saudável que o escritor se distancie dele por um momento (minutos ou anos, dependendo do caso) para retornar a ele e escrever.
É nesse momento, nessa RE-visão, nesse RE-torno, nessa RE-tomada é que os defeitos e virtudes começam a vir a tona. É uma vírgula que foi engolida ou uma frase que precisa ser reescrita. Ou sentir se o texto ainda consegue bater na alma de algum modo. Esse é o processo da “fermentação literária”, o do distanciamento necessário para que o escritor possa desenvolver sua autocrítica em relação ao escrito, a fim de se perceber a sua evolução. Não basta apenas pisar e repisar nas palavras no papel para achar que o texto já está para ser engarrafado – é preciso que o tempo também aja sobre ele, que haja essa fermentação necessária para se extrair a essência de uma nova sonoridade, de uma nova sintaxe, de um novo sentido, de uma nova forma de expressão, qualquer coisa que mexa na língua e cause o famoso “estranhamento” pregado pelos formalistas russos. Como consequência dessa tese, percebe-se que a “fermentação” não servirá apenas para aparar pequenas arestas (como erros ortográficos ou para apurar as frases e os parágrafos). É através desse processo que o texto ganha sua integridade como obra de arte – que servirá de marco para a separação entre o escriba diletante e o escritor profissional candidato a figurar na história.
Ao comparar a produção do vinho com a do texto, eu percebo a importância do fator Tempo no tocante ao sucesso do escritor como artista. Bons vinhos finos, assim como bons livros, não são produtos rápidos, feitos a toque de caixa. É preciso paciência na hora de produzir. Não basta apenas a “chegada mágica da inspiração” (como imagina o senso comum alimentado pelo romantismo do século XIX) para que o poema ou prosa garanta o seu lugar como de arte. É o posterior exercício crítico de leitura e releitura que testa a permanência da fruição estética do mesmo. É na leitura “fria” (que eu comparo ao momento de “decantação” do vinho) que se podem filtrar as falhas do texto e assim emenda-lo – isso quando o texto se mostra realmente promissor e não “azedou” a ponto de virar “vinagre”. Depois, quando chegar da publicação do texto, será o mesmo fator Tempo que dirá sobre o sucesso da obra depois de pronta. Da mesma forma que muitos vinhos ainda amadurecem dentro a garrafa, os textos amadurecem depois de publicados. E só o tempo dirá quando o texto atingirá sua maturidade junto ao público, qual será a duração de seu auge, e/ou quando ele “passará do ponto” e deixará de ser relevante – mutatis mutandis, similar ao que acontece com as safras das uvas viníferas.
Aliás, Fábio Luz (escritor valenciano nascido em 1864), na introdução do seu livro A Paisagem no conto, na novela e no romance aborda questão parecida, quando diz (a citar o conceito de caducidade de Schopenhauer): “Dizem que certas bebidas se tornam mais capitosa quando velhas” (…), “assim também os bons livros devem ter um longo período de hybernação, tempo suficiente para que se faça o deposito das impurezas e imundícies com que os macularem os contemporâneos”. E continua logo depois: “É a caducidade para acquisição de forças; não é a morte”.

Em resumo, os autores dos Vedas já falavam que “O tempo é a semente do universo”. O mesmo se pode em relação à literatura – acaso nós a encaremos com a mesma seriedade de um enólogo diante da produção de um Riesling alsaciano ou de Chianti.  Meus caros amigos e amigas, diante do tempo passado na minha fala (e que espero não ter extrapolado), eu espero que essa modesta contribuição possa ajudá-los a compreender um dos aspectos do nosso ofício de escritor. Obrigado pelo tempo dedicado a ouvi-las.

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Antiode sobre o Amor

Anti-ode sobre o Amor

Brasília; 30 de setembro de 2014 (03h47)

Não sei qual mal ao amor fiz,
Para dele, eu provar fel e fogo.
Sei que alimentamos utopias
E nos iludimos em construir castelos
Que serão derrubados na primeira onda.
Sei que o Amor-Ideia de Platão
É mais uma sombra na caverna
E só nos poemas a alegria é absoluta.
Mas, ainda assim prosseguimos
Em quimeras mil cultivar alhures
E sonhar com princesas e fadas.
Fingimos ignorar os espinhos da rosa
E que mesma abelha dá mel e ferroada.
Insistimos ilogicamente em fazer
Do coração a morada do amor
(criança travessa que sempre será mimada).
E nos entregamos como cordeiro ao lobo…
Deixamos o cupido entrar e fazer bagunça,
Retorcer planos e sonhos e desejos,
A ponto de nos perdermos a nós mesmos!
Ah! Tudo é paixão! Tudo é Eros, Ágape, Filos!
Tudo é um amor avassalador e louco
Que nos faz, por segundo, crer no Paraíso…
Não vemos a Tempestade no horizonte
E então, aprendermos amargamente
Que amar pode ser sinônimo de sofrer.
Que os mesmos olhos que são faróis
Também podem ser perdição e gelo.
Sol e trevas caminhando junto,
Dor e Alegria, prazer e tristeza,
E quando pensamos estar imunes
Ao fogo que arde sem ser visto,
Eis que novamente o cupido vem
Para bagunçar tudo mais uma vez…
Mas, se tanto fel o amor pode produzir,
Por que sem ele a vida é mais triste?

(É o que pergunta o meu coração)

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Livro das Sombras (Elegia)

Livro das Sombras (Elegia)

Valença; 19 de setembro de 2014 (2h41)

As fogueiras de Beltane estão apagadas
E a lua, tríplice mãe, esconde-se nas sombras.
Nada vejo mais além de trevas e tristezas
Calçando o caminho calcário do Calvário.
Não vejo jasmins orientais florescendo,
Nem a camomila forrando minha passagem.
Não vejo centauros cantando dentre as árvores,
Nem ninfas bailando lascivas dentre estrelas.
A estrada é solitária e cheia de espinhos,
E é por ela que tenho que aprender a andar,
Caso queria chegar ao meu templo interior.

Então minhas lagrimas iluminam a face minha,
E com elas eu faço meus filtros e sortilégios.
Faço minhas alquimias sentimentais e tempero
Com o vinho novo de meus versos secos
A pedra filosofal de um sol negro no orvalho.
Tento redescobrir o homúnculo que fui
E dentro da redoma, reconstruir o Golem
Que me ressuscite como um Lobisomem.

Ah, poesia triste como uma brisa no inverno,
Tu és meu Golem, minha Alquimia negra,
A panaceia universal dos corações rasgados!
É em ti que devo segurar minha alma
E subir numa escada prateada de nuvens,
Ser um arcanjo sem asas e sem pudor.
Mas a estrada continua lá, triste e espinhosa.
E é nela que devo continuar meu estradar,
Sem fé, sem sorrisos, sem consolo, sem mais nada…

Farol dos Titas

Farol dos Titãs
(sobre um quadro de Junior da Hora)

Baia de Todos os Santos, 20 de dezembro de 2011 (21h49)

O manto negro da noite se estende
Como uma volúpia canibal sobre o voraz mar.
Eis que o farol rompe distante,
Mensageiro mastodôntico da ordem e do lar.

Teus olhos luminosos perscrutam
Como lanças trágicas para além do horizonte.
E as estrelas, no alto da noite,
Responde a estes fachos com risos e rimas.

Gigante de granito e ferro,
O farol está em pé com uma sentinela,
Ao largo da velha baia,
Gritando com sua luz sobre os perigos da vida.

Ah, titã solitário no seu orgulho!
Quem me dera que eu fosse sereno como tu!
Apesar das ondas serem navalhas
Nos teus pés, nada te impede de mirar a imensidade…

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Elegia Amarga

Elegia Amarga

Valença; 12 de setembro de 2014 (04h01)

“Tudo, tudo é tão fútil e tão inútil!”
Os corvos agourentos cantam lá fora,
Como um eterno never more a tornar
Cinzento meu horizonte de utopias.
Não encararei quasares sorridentes,
Para que eles não ouçam minha toada
Amarga, fruto de uma lira muda
E de uma pena seca e paralítica.
Deixo que as quimeras recolham
Minhas lágrimas de fel e sangue,
De olhos cansados e vencidos
Pela mediocridade do rebanho,
Pelos zurros escondidos na pele do leão,
Pelo telejornal arrotando desesperanças,
Pelo banco roubando minhas alegrias,
Pela mídia arrochando mau gosto.
E tendo a Tristeza como companheira,
Minha elegia corre como um rio noturno,
Feito de lágrimas amargas de sangue,
Que as quimeras escondem dos quasares,
Enquanto um never more lúgubre
Entoado por corvos agourentos lembra
Que tudo, tudo é tão fútil e tão inútil…

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Lua de Agosto

Lua de Agosto

Valença; 10 de agosto de 2014 (23h23)

Êsse luar que sôbre mim derrama
Diafaneidades e arrebatamentos (…)
Luar de Agôsto – Elmano Amorim

Por detrás das árvores do velho ginásio
Surge a Lua Gentil (vinda de um paraíso complexo),
Trajada com toda sua celeste majestade.
Surge como uma princesa prateada cingida de pérolas,
Subindo vagarosamente a escada de estrelas,
Puxando seu veludo negro e cobrindo o dia que fenece;
E o Sol, no extremo horizonte oposto,
Descansa de mais uma jornada de trabalho…
Lua que é super, soberba, sapiental;
Traz no gosto dos Agostos um tempero mais forte:
Sua tiara celestial se mostra mais formosa e cheia…
Diana Tropical, Tríplice Hécate dos poemas, 
Você aparece na janela de minha casa como convidada
E é quem reina nas minhas rimas cósmicas,
Com suas rosas marmóreas perdidas entre siderações,
Suave Luar de um Agosto infinito…

terça-feira, 29 de julho de 2014

A imortalidade dos nossos idolos

A (i)mortalidade dos nossos ídolos

Ricardo Vidal
Escritor, especialista em Estudos Literários pela UFBA
membro da Academia Valenciana de Educação, Letras e Artes

25 e 28 de julho de 2014

Na semana passada, o Brasil recebeu a notícia do falecimento de Dr. Rogério Mourão, principal nome da astronomia brasileira. Essa notícia chega quando ainda estávamos nos recompondo do susto do falecimento de Ariano Suassuna, que por sua vez veio de assalto quando ainda tínhamos as pálpebras úmidas pelo falecimento de João Ubaldo Ribeiro…

Num insight de humor negro, poder-se-ia pensar como a Morte ironicamente confrontou a “imortalidade” dos membros da Casa de Machado de Assis – afinal, em menos de 20 dias, três “imortais” faleceram seguidamente: Ivan Junqueira, além dos já citados Ariano e Ubaldo. Contudo, por uma triste coincidência, o falecimento dos escritores valencianos Macária Andrade e Edgard Oliveira (meus confrades da AVELA) e do crítico baiano de cinema André Setaro (de quem orgulhosamente fui aluno na Faculdade de Comunicação de UFBA) nesse triste ano de 2014 faz meditar sobre a (i)mortalidade dos nossos ídolos…

A Razão filosófica e a Empiria científica diz que não haveria muito que se lamentar, pois a única coisa que se tem por certa no mundo é que todo ser vivo – a partir da fecundação dos gametas e passando por todos os processos químicos, sociais, biológicos e culturais – encontra a morte no final da sua caminhada (cedo ou tarde, sem nunca falhar). A Religião ainda traz o consolo da Fé na “outra vida”, enquanto a Arte purga as aflições pela catarse e gozo estético. Mas, de uma forma ou de outra, naquele momento obscuro em que não entra as luzes da Fé, do Belo e da Razão, a sensação que temos é que certas pessoas deveriam ser imunes a essa sentença perene da Morte. Ou melhor, nos recusamos em acreditar que o professor genial de cinema, o cientista aclamado pelos pares ou o escritor contemporâneo predileto (seres que julgamos olímpicos e, portanto, acima das mesquinharias do mundo) também é feito do mesmo pó que se fez o mendigo, o fariseu, o bom, o facínora e o parvo. 

Sua fala inédita não se ouvirá mais, sua presença se limitará às memórias das pessoas e ao nome aposto em alguma obra, até que as areias do Pai Tempo cobrirão parcialmente essa nova estátua de Ozymandias, ficando uma ou outra anedota para lhe restituir uma sombra de Humanidade para aquele nome já quase obscuro.

Para evitar isso que tentamos trapacear a Morte. Criamos subterfúgios nos enganar: edições de obras póstumas, cartas e álbuns de fotografia que consolam a ausência do gênio; arquivos e museus perenizem seus objetos e feitos, lembranças indiretas do ídolo ausente; monumentos e honrarias que os eternizem como exemplos e êmulos para a população; a análise crítica exercitada sobre vida e pensamento deles – em busca de algum exemplo ou ensinamento novo que possa engrandecer a mente; uma mimese menor, material, necessária e profana de novos mitos, para celebrar o ser olimpiano que uma vez já caminhou por entre nós. A mortalidade do corpo físico é substituída pela imortalidade dos signos e dos índices preservados pela memória. 

É essa vontade de se derrotar (por algum meio imaginário) a Morte que obriga transcender nossa condição de meros animais do planeta Terra, conglomerados de átomos fugazes e perdidos na imensidão das galáxias existindo sem sentindo, para nos definidos como Seres Humanos. Ou, dizendo tudo de forma mais simples: cada menina que se questione sobre os mistérios das estrelas ou sobre o passado do Baixo Sul, um menino cante o hino de Valença ou um jornalista se debruce para criticar bem um bom filme; Rogério Mourão, Edgard Oliveira, Macária Andrade e André Setaro estarão vivos e presentes entre nós. Serão para sempre… imortais!…  

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Balada Cósmica

Balada Cósmica
(Para Pelegrini, Maurício e Kadu Lisboa)

Valença; 21 de julho de 2014 (02h38 AM)

Nas estrelas procuro meu refúgio
E não quero pensar em mais nada
– só na vertigem positrônica dos sonhos.
Quero entrar nesse abismo sem fim,
No abismo negro ás margens dos quasares.
Quero ser o centauro das galáxias,
A Nêmesis dos eclipses e das elipses.
Quero fundar uma colônia nietzschiana
No meio das planícies rubras de Marte.
E como um além-do-homem cósmico,
Romperia as fronteiras psicológicas
Que separam o átomo e a verdade.
Cavalgaria um cometa perdido na noite
E fundaria Impérios de Utopias e Futuro,
Derrotando o niilismo empírico dos “coxinhas”.
E com baladas fulgindo sobre as trevas,
Estabeleceria as treze auroras da Humanidade:
As auroras que nos levaria à total redenção…

Soneto Ebrio escrito na Madrugada

Soneto Ébrio escrito na Madrugada
(Para Rosângela Góes)

Valença; 21 de julho de 2014 (02h05 AM)

Estrêlas! Simbolismo das Alturas,
Turibulárias das essências puras,
- Olhos do Azul iluminando os mundos.
Estrêlas – Elmano Amorim

Na treva desabitada de estrelas
Uma estrela se compõe aqui dentro
à revelia do espelho e do espaço
À última adolescente – Rosângela Góes

Da céltica cornamusa ouço a saudade.
E das harpas hebraicas, respiro paixões.
Caminho perdido na minha feliz cidade
A procura de minhas perdidas ilusões.

E ébrio pela plástica aura das estéticas,
Invento mil baladas sobre quimeras:
Descrevo hipérbole para uma poética
Do Rio Una, minha doce negra pantera.

De Rosângela Figueiredo e Elmano Amorim,
Aprendo que Valença é rica na sua poesia.
E assim, dou-me conta do tesouro carmim
Que sempre os inspirou com audaz alegria.

E sonhando com distantes quasares quânticos,
Termino meu soneto inglês, com ares românticos…

Vitivinicultura Literaria

Vitivinicultura Literária

Prefácio etílico de um livro bucólico


Salvador, 23 de fevereiro de 2012 /
Valença, 25 de junho de 2014.

Pelo título do livro, o prefácio deveria falar da poesia como um exercício de jardinagem da alma e/ou do estilo. Mas eu admito que a jardinagem seja algo que eu não tenho domínio suficiente para fazer a devida metáfora, fazendo com que meu texto soasse deveras artificial. Gosto (muito) de flores, mas não sei cultivá-las. Aprecio as flores como um enófilo amador que começa a beber os bons vinhos – chega perto, degusta os olores, aprecia as formas, estuda um pouquinho, mas não se atreve a entrar nos cernes mais rebuscados e técnicos da elaboração de um simples vinho tinto seco ou do cultivo de um pequeno canteiro de jasmins chineses. Desse modo, parto por um caminho por mim mais conhecido que, sem abandonar o espírito bucólico do livro, lançará melhor luz sobre alguns pontos acerca a obra.

…………………………………………

Pessoalmente, sempre imaginei o exercício da literatura como algo mais próximo da produção do vinho. As palavras e as frases são colhidas nos parreirais do idioma para serem macerados no tanque branco da página (ou na tela, se pensarmos nos computadores) para formar o mosto/texto. Depois, são deixadas fermentando e decantando sozinhas no texto. Convém, para um escritor profissional (ou um autor diletante mais preocupado com sua produção escrita), que periodicamente retorne aos seus textos, burile onde for preciso, e, principalmente, acompanhe essa fermentação, a fim de ver se o texto virou vinagre, se ainda precisa de mais tempo de maturação ou se simplesmente já está pronto para ser engarrafado no livro e entregue ao público.
Penso nisso porque os textos (pelo o que pude tirar de minha experiência), normalmente seguem três caminhos:
01) Alguns textos viram vinagres porque não resistiram a prova do tempo. Mesmo que, na hora da composição ele realmente emocione, no outro dia (ou na outra semana, ou ainda, meses e anos depois) eles já não dizem mais nada à alma. Mostram-se ingênuos ou vazios, ainda sejam reescritos. Aliás, não é bom mexê-lo: praticamente seria necessário escrever um novo texto, mais apurado. Não prestam para publicação e inexoravelmente o seu destino é o lixo ou o fundo esquecido de uma gaveta.
02) Outros textos ainda não envelheceram o suficientemente bem. São textos difíceis, com um forte travo do tanino e que tendem a se confundir com os textos avinagrados acima citados: não estão maduros a ponto de serem publicados. Contudo, isso não quer dizer que seja um texto para ser descartado. Ele pode ser aproveitado numa edição futura, porque é texto que nasceu póstumo. Ele ainda guarda surpresas, é um texto indomado, o qual (talvez) até precise de duas ou três emendas a fim de que possa sair redondo na página do livro. É um texto cuja leitura, por parte do escritor, precisa ser mais bem digerida antes de mandar servir aos leitores ­­- digestão essa que pode ser longa o suficiente que só faça o texto vir a lume pelas mãos de um pesquisador que, tendo acesso ao arquivo do escritor, o encontre e o publique em uma edição póstuma de obras completas ou em uma edição crítica.
03) E, last but not least, há os textos que estão prontos para serem engarrafados. Venceram a prova do tempo e a leitura ainda inebria com facilidade, não restando dúvidas ao escritor de que já se pode entregar aos seus leitores.
Asseguro esta minha tese com a produção destes meus três livros. Estrelas no Lago, Fogos de Beltane e Flores do Outono vieram a lume depois desse processo de escrever, reescrever, fundir, cortar, ler, reler, recortar, corrigir, aumentar e (auto)criticar constantemente. Periodicamente foram feitas triagens em cima de triagens, leituras em cima de leitura, como se eternos palimpsestos fossem.
Em Flores do Outono, o exemplo talvez seja mais radical. Inicialmente era um mero título ad hoc para o meu segundo caderno de poemas, que eu então escrevi ainda na adolescência, quando ainda morava em Valença. Nesta fase eu apenas coligia todos os meus escritos, dividido entre a esperança juvenil de um dia talvez publicá-los (e, quiçá, correr o risco de ser famoso) e a vontade madura de ainda escondê-los, cético quanto ao seu real valor. Mais tarde, já morando em Salvador (período em que estava cursando a universidade), tomei a coragem de reunir os meus melhores poemas para poder registrar junto a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Foi quando comecei a cristalizar certa crença de, quem sabe um dia, mandar para o prelo os primeiros meus poemas "maduros". O volume de folhas A4 encadernadas que enviei para o registro era uma amálgama de outros quatro cadernos, pastas de computador e alfarrábios que eu já tinha escrito. Aproveitei o título do segundo caderno, Flores do Outono por me parecer mais atraente e já naquela vez eu dividira em partes com nomes de flores, reunindo poemas que pudessem ter alguma identidade entre si. Outros volumes eu viria a registrar postumamente, reciclando os outros nomes ad hoc dados aos cadernos e pastas.
Quando, mais tarde, resolvi publicar o meu primeiro livro (o Estrelas no Lago), mesclei os volumes registrados. Na hora eu achei melhor dar um novo nome para este livro, mesmo que muito dele tenha a essência do Flores do Outono primitivo. Imaginei o Estrelas no Lago como um livro de estreia que servisse de teste para os meus poemas, para que, no futuro, eu publicasse o Flores do Outono como o foi inicialmente concebido – projeto que naturalmente eu abandonei logo depois.
Fato similar ocorreu com Fogos de Beltane, que foi inicialmente um volume ad hoc para participar de um concurso literário e que seguiu uma lógica parecida com ao primeiro livro (ou seja, coligindo poemas dos cadernos anteriormente organizados para formar uma segunda unidade editorial). Posteriormente se tornou no segundo volume de poesia a ser publicado por conta própria, trazendo alguns dos poemas mais recentes.
Nesse ponto eu pude ver com mais clareza esse processo da “vitivinicultura literária”: Na medida em que eu retornava a leitura, repetia-se a observação de textos avinagrados (como na sessão de poemas dedicados a minha cidade natal, nos muitos se mostraram imaturos e sem nenhuma força poética que justificar vir a lume), de textos que se mostraram prontos para serem consumidos naquele momento (ou seja, todos os que saíram neles) e de textos que ainda precisavam envelhecer mais no barril (como o “A Jangada Partiu”, que aproveitei nesse volume). Claro, admito que, nesse processo, eu sacrifiquei poemas que teriam (talvez) mais sentido se publicados dentro do título original ­­– como no caso de “Flor do Outono” e “Cântico dos Lírios”. No entanto, vários poemas posteriormente escritos (e que não estavam alocados ainda nenhum outro volume) mostraram mais afeitos ao espírito desse volume ­– como o caso de “Rosa Bianca” e “O Dom da Rosa”, como se não houvesse mais outro lugar para publicá-los. O resultado é esse volume, digamos que a versão 3.0 do meu tão acalentado e querido projeto Flores do Outono.
Cito essa história de como eu escrevi esse meu livro para ilustrar minha tese. A variação de textos entre o caderno manuscrito, as folhas encadernadas para registro na Biblioteca Nacional e o livro propriamente publicado ocorreu exatamente porque vi muitos textos se avinagrando e outros imaturos e póstumos, esperando o momento certo de ir para o prelo.
Pode parecer, aos olhos dos leigos, uma excentricidade este meu método de trabalho. Mas tenho certeza que com outros escritores um processo parecido também se desenrole.
Creio que escrever um livro é ter isso em mente: todo texto artístico precisa “fermentar”, dar-lhe o devido tempo de maturação. E dar tempo implica em estabelecer o distanciamento necessário para que o escritor possa desenvolver sua autocrítica em relação ao escrito, a fim de se perceber a sua evolução. Não basta apenas pisar e repisar nas palavras no papel para achar que o texto já está para ser engarrafado ­­­- é preciso que o tempo também aja sobre ele, que haja essa fermentação necessária para se extrair a essência de uma nova sonoridade, de uma nova sintaxe, de um novo sentido, de uma nova forma de expressão, qualquer coisa que mexa na língua e cause o famoso “estranhamento” pregado pelos formalistas russos. Como consequência dessa tese, percebe-se que a “fermentação” não servirá apenas para aparar pequenas arestas (como erros ortográficos ou para apurar as frases e os parágrafos). É através desse processo que o livro ganha sua integridade como obra de arte – que servirá de marco para a separação entre o escriba diletante e o escritor profissional candidato a figurar na história.
Ao comparar a produção do vinho com a do livro, percebo a importância do fator Tempo para o sucesso. Bons vinhos finos, assim como bons livros, não são produtos rápidos, feitos a toque de caixa. É preciso paciência na hora de produzir. Quando considero as idas e vindas para compor esse livro, vejo que não basta apenas a “chegada mágica da inspiração” (como imagina o senso comum alimentado pelo romantismo do século XIX) para se o poema garanta o seu lugar como de arte. É o posterior exercício crítico de leitura e releitura que testa a permanência da fruição estética do mesmo e se percebe os pontos fracos. É na leitura “fria” (que eu comparo ao momento de “decantação” do vinho) que se podem filtrar as falhas do texto e assim emenda-lo – isso quando o texto se mostra realmente promissor, não “azedou” a ponto de virar “vinagre”. E no caso da composição de um livro de poema, é nessa hora que realmente se percebe quando o texto está bom. E mais tarde, será o mesmo fator Tempo que dirá sobre o sucesso do livro depois de pronto. Da mesma forma que muitos vinhos ainda amadurecem dentro a garrafa, os textos amadurecem do livro. E só o tempo dirá quando um livro atingirá sua maturidade, qual será a duração de seu auge, e/ou quando ele “passará do ponto” e deixará de ser relevante – mutatis mutandis, similar ao que acontece com as safras das uvas viníferas.

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Eu organizei o presente volume como uma rede de pequenos mosaicos unidos por uma linha mestra. No meu primeiro livro, Estrelas no Lago, esse procedimento estava presente em forma embrionária. Os poemas se articulam entre si formando tênues sequências sem divisões aparentes (como no caso dos poemas eróticos e dos poemas de amor). Contudo, como o volume foi concebido como um trabalho de estreia, a linha mestra acabou se limitando na seleção do que julguei serem meus melhores trabalhos escritos até o momento. Já para o presente volume, não só deliberadamente dividi as sessões como procurei explorar um leitmotiv especialmente caro para mim: flores. Selecionei de meus parreirais as uvas que julguem mais apropriadas, levando-me a reservar os poemas com mais referência a campo semântico da noite e das estrelas para o meu próximo volume, Sombras do Luar. Quanto à divisão do mosaico, optei estabelecer a seguinte seleção:
a) Em [Jasmins], coloquei os poemas os quais, de certa forma, eu dialogo com a minha contemporaneidade, numa poética crítica da vida atual, fruto da minha ideologia. Evitando cair na tentação de compor poemas doutrinários ao velho estilo da estética engajada de matriz esquerdista, procurei reunir minhas reflexões inconformistas sobre a realidade, fustigando nas entrelinhas o que julgo ser a mediocridade de vida atual.
b) Em [Cravos], apresento um caleidoscópio lírico. Aqui não estabeleci uma unidade temática (como nas demais divisões), mas tento estabelecer um diálogo particular com e sobre as possibilidades expressivas da poesia.
c) Em [Margaridas] estão reunidos os poemas mais picantes. Ainda que certa carga erótica seja constante na maioria de meus poemas, os que particularmente compõem esta divisão são aqueles que eu deliberadamente carreguei a mão no tempero do desejo e da sexualidade. É o meu exercício particular de entrar no território pedregoso da sensualidade e extrair/traduzir os encantos desse paraíso temático que é ainda (hipocritamente) preso ao lodo do tabu.
d) Apresentando o outro lado da moeda, na sessão [Rosas] estão os poemas em que volto ao velho tema do Amor. Só que aqui eu trabalho o amor na sua totalidade: o que ficou na lembrança, o que ainda vive, o que é alegria e o que também já foi perdição, tristeza e tormento.
e) Saindo do sentimento do amor, [Tulipas] segue com meus poemas do delírio, da embriaguez das sensações. Embriaguez pela música, pelo vinho, pela poesia, pelas cores e pela expressão própria das palavras.
f) Para encerrar o livro, [Edelweiss] reuni meus poemas escritos em espanhol e inglês. Na verdade, apresento uma prévia do outro livro meu (até agora parcialmente inédito) chamado Peregrino en una Noche sin Luna, onde apresento meus exercícios líricos em língua estrangeira, sendo que algumas são as minhas traduções de outros poemas que eu já escrevera anteriormente.

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Enfim, é isso aí. Espero que essas palavras iniciais ajudem na compreensão da obra. No fundo, apenas queria dizer que apreciem os meus poemas desse meu novo livro, com a esperança de que os poemas contidos nele, não alcançando a altura de um Tokaji húngaro, um Viño Verde galego, um Valpolicella italiano ou de um Reisling alsaciano, ao menos não tenham virado vinagre. Que seja um vinho de mesa encantador e de bom terroir que agrade as papilas estéticas do leitor.
Tim-Tim! ¡salud!

Ricardo Vidal

Biblioteca do Bardo Celta (Leituras recomendadas)

  • Revista Iararana
  • Valenciando (antologia)
  • Valença: dos primódios a contemporaneidade (Edgard Oliveira)
  • A Sombra da Guerra (Augusto César Moutinho)
  • Coração na Boca (Rosângela Góes de Queiroz Figueiredo)
  • Pelo Amor... Pela Vida! (Mustafá Rosemberg de Souza)
  • Veredas do Amor (Ângelo Paraíso Martins)
  • Tinharé (Oscar Pinheiro)
  • Da Natureza e Limites do Poder Moderador (Conselheiro Zacarias de Gois e Vasconcelos)
  • Outras Moradas (Antologia)
  • Lunaris (Carlos Ribeiro)
  • Códigos do Silêncio (José Inácio V. de Melo)
  • Decifração de Abismos (José Inácio V. de Melo)
  • Microafetos (Wladimir Cazé)
  • Textorama (Patrick Brock)
  • Cantar de Mio Cid (Anônimo)
  • Fausto (Goëthe)
  • Sofrimentos do Jovem Werther (Goëthe)
  • Bhagavad Gita (Anônimo)
  • Mensagem (Fernando Pessoa)
  • Noite na Taverna/Macário (Álvares de Azevedo)
  • A Casa do Incesto (Anaïs Nin)
  • Delta de Vênus (Anaïs Nin)
  • Uma Espiã na Casa do Amor (Anaïs Nin)
  • Henry & June (Anaïs Nin)
  • Fire (Anaïs Nin)
  • Rubáiyát (Omar Khayyam)
  • 20.000 Léguas Submarinas (Jules Verne)
  • A Volta ao Mundo em 80 Dias (Jules Verne)
  • Manifesto Comunista (Marx & Engels)
  • Assim Falou Zaratustra (Nietzsche)
  • O Anticristo (Nietzsche)