Sua Majestade, O Bardo

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Valença, Bahia, Brazil
Escritor, autor do livro "Estrelas no Lago" (Salvador: Cia Valença Editorial, 2004) e coautor de "4 Ases e 1 Coringa" (Valença: Prisma, 2014). Graduado em Letras/Inglês pela UNEB Falando de mim em outra forma: "Aspetti, signorina, le diro con due parole chi son, Chi son, e che faccio, come vivo, vuole? Chi son? chi son? son un poeta. Che cosa faccio? scrivo. e come vivo? vivo."

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Memoria - um conto

Salvador, 16 de novembro de 2010
madrugada (IVhXXVII)

Já madrugada e o escriba ainda está frente do computador. A janela com o seu trabalho (atrasado) está baixa, pois o escriba estava a ver páginas do Orkut. Revia fotos de ex-colegas, amigos próximos que não encontravam a anos. Em algumas fotos a admiração e o espanto dava a tônica: Um esperado botão mirrado e inexpressivo desabrochou espetacularmente em uma orquídea sensual, Uma barriga saliente e decandente aos trinta, casamentos inimagináveis.

Ele olhava saudoso, quase melancólico, os caminhos que foi conduzido as pessoas. Alguns foram médicos que se perderam no mundo. Outros, bacharéis em Direito e Administração, ornavam seus diplomas de faculdades particulares com alguma pequena sinecura conquistada alhures. Quase todo casados e com fotos dos filhos, indicavam que seguiam o rumo do sucesso: casa própria, família constituída, carro do ano, alguma viagem na memória e o cotidiano calmo e pequeno-burguês que certamente será conduzido a uma aposentadoria simples e posterior esquecimento.

O leitor pode imaginar que em breve aquela sessão de nostalgia iria redundar em uma vontade de rever a turma. E foi o que aconteceu. O escriba ameaçou abrir o e-mail e tentar contactar alguém. Marcar um encontro. Talvez fosse melhor ir para a comunidade da antiga escola e deixar uma convocatória. Passou a sonhar acordado, pensando no que iria dizer aos colegas, uma pilhéria, uma comentário - quiça, flertaria com algumas ex-colegas (uma forma de voltar a adolescência e comer a maçã que ele havia desperdiçado).

A solidão da noite dourava ainda mais o passado que se julgava maravilhoso, cobrindo as máculas com um véu de jocosidade. Reencontrar os ex-colegas, que se não viam a mais de uma década, seria o ópio que precisava no momento. Nada de preocupação ou pernilongos. Apenas lembranças falsamente verdadeiras de um tempo que os adultos julgavam bom, porque já não são mais adolescentes ansiosos com a chegada da maturidade.

Só que o sono começou a vencer a saudade e a distância entre os ex-colegas era grande para se tentar algo. Mesmo que quisesse, aquela não seria o melhor horário para localizar alguém com quem não se conversa a muito tempo. É madrugada e há ainda um trabalho a terminar mais tarde, no escritório.

O escriba fechou todas as janelas (sem antes salvar algumas fotos de ex-colegas com trajes de praia) e se preparava para dormir. O sonho traz sempre lembranças melhores do que a memória...

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