Canção do Dique de Tororó
Valença; 18 de fevereiro de 2015 (03h50 AM)
I
Axé, querido Dique de Tororó!Espelho d’água, Ilha de verde
No meio da selva de concreto,
Quantos mistérios e segredos
Eu beberia em suas águas negras?
E lá os orixás residem majestosos,
Como reis e rainhas dessa cidade
De todas as deidades e santos.
Axé, querido Dique de Tororó!
Peço licença para o Senhor Exu,
Que ele abra todos os caminhos
Dessa difícil estrada da poesia
E me permita esse meu cantar
Colhida nas notas da gaita galega.
Axé, Mestre Exu! Laroiê, Laroiê!
II
Eu fui para o Dique de Tororó,Beber água, não achei… Achei
Uma Iemanjá morena e tropical
Que me pescou com um doce beijo
Apimentado e por ela me enfeiticei.
A Lua foi para o Dique de Tororó,
E nas águas morena ela se banhou!
Saiu morena e vaidosa como Oxum.
Do luar fez uma tiara de prata e encantos
E com as estrelas e pulsares ela enfeitou.
E nas margens do Dique de Tororó,
Ela passeou, entregando, qual musa,
Seus beijos para os boêmios e poetas.
Eu estava entre os eleitos naquela noite,
Elevando-me da massa ignara e obtusa.
Era noite calma no Dique do Tororó
Quando, com chama e volúpia pagãs,
Minha musa eu beijei. Era gostoso ver
Passar enlouquecida a estéril vida civil
Enquanto a musa me crismava seu ogã.
O Tempo passou no Dique de Tororó
E chegou a hora da Lua morena partir.
Subiu num cometa, rumo à imensidão.
E desde então canto pelas noites de Luar
Para ver minha musa eterna, no céu, sorrir.
Eu fui para o Dique de Tororó,
Beber água, não achei… Achei
Uma Iemanjá morena e tropical
Que me pescou com um doce beijo
Apimentado e por ela me enfeiticei.
III
A cornamusa galega segue chorosa,É hora de dizer adeus aos Orixás!
A escuridão se confunde com o asfalto,
E as luzes e buzinas furiosas lembram
Que já não mais tempo para poesia.
Mas as águas ancestrais de Tororó
Continuam pulsando sua força e axé,
Como uma ilha de paz e tranquilidade
Na agitada metrópole ensandecida.
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