Fado Brasileiro para Lisboa
(Após ouvir Amália Rodrigues)
Salvador, 18 de maio de 2004
Ai, Lisboa! Boa Lisboa que povoas meus sonhos!
Apesar de nunca meus pés terem balançado
Pelas ruas da Alfama e do Chiado, ou meus
Olhos jamais terem bebido o Tejo que se despede
Antes de, no mar, levantar velas para o infinito,
Ainda assim eu carrego em meu coração
Este nome como uma guitarra carrega o doce fado.
Às vezes, com a lua reinando nos trópicos
E descendo seu manto sobre o farol da Barra,
Meus olhos cerrados preferem divisar a branca Torre de Belém.
E minhas mãos instintivamente acenam
P’ras as naus de Vasco da Gama que para Índias caminham
E constroem no infinito o quinto Império.
O vento caminheiro sussurra o fado melancólico,
Em que uma saloia relembra os versos de Pessoa,
Ou o estudante coimbrão, dentre garrafas do porto,
Vêem as floradas belas que d’alma surgem na Sra. Espanca.
Então um ramalhete de rosas brancas é como uma taça
De vinho Verde – embriaga os sentidos e as rimas
Brotam como quiméricas saudades. Como Ulisses,
Eu fundo meus amores em uma terra fértil e boa,
Nesta cidade que nunca vivi e sempre amei – Lisboa.
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