Qual é a vocação turística de Valença?
Ricardo Vidal é escritor, autor de
Estrelas no Lago e estudante de
Letras / Inglês na UNEB – Salvador.
E-mail: bardocelta@bol.com.br
(Salvador, 05 de julho de 2004)
O município de Valença, acertadamente, elegeu o turismo como um dos caminhos mais seguros para alavancar o crescimento econômico; e conseqüentemente, financiar os projetos que garantam a inclusão e bem-estar social dentro do município.
Realmente, no mundo moderno, a área de serviços (o qual o turismo se inclui) é um dos setores da economia que mais cresce devido a uma razão simples: com o desenvolvimento tecnológico (mecanização dos campos, automação nas indústrias, informatização, etc) o ser humano passa a ter o seu tempo cada vez mais livre para se dedicar a outras atividades como os estudos, lazer e viagens… E é aí que entra o setor de serviços, com seus restaurantes, teatros, agências de viagens, hotéis entram, faturando e criando novos empregos exatamente sobre o lazer das pessoas.
Mas o turismo (enquanto atividade econômica) precisa ser pensado estrategicamente na esfera da administração pública. Sem pretender fazer um julgamento político deste ou aquele ex-mandatário, só se prendendo ao aspecto racional dos fatos, percebe-se que nos últimos anos a prefeitura equivocou-se quando se limitou a privilegiar o turismo de veraneio. Este turismo sazonal limita-se a parcos três meses, deixando hotéis praticamente ociosos nos nove meses restantes do ano e na dependência das condições climáticas (afinal, quem se aventura a tomar banho de mar em um dia chuvoso?). O campo de atuação no turismo é MUITO mais amplo. E não se limita apenas ter praias como atrativos: Praias existem em várias partes no mundo! O que verdadeiramente cativa o turista são outros fatores, como a cultura e a história locais. É este tipo de turismo que faz, por exemplo, que a Espanha receba mais turistas que o Brasil e que todos os dias os hotéis de Paris estejam lotados, faça sol, faça chuva, faça neve ou não.
A verdadeira vocação turística do município não está simplesmente na sua beleza natural (embora esta seja exuberante e paradisíaca) – está exatamente no seu povo, com seu folclore e sua história. É aí que encontra um filão praticamente ignorado e com ótimos retornos sócio-econômicos. A história de Valença é rica, mas inexplorada. Poucas pessoas sabem que o prédio onde hoje se encontra o Fórum Gonçalo Porto é a residência onde nasceu o Conselheiro Zacarias, um dos maiores estadistas do império brasileiro. O povoado de Sarapuí possui ruínas centenárias que jazem esquecidas no meio do mato. A Recreativa perde-se como atração turística, um lugar de rara beleza arquitetônica que serviu de primeiro banco de sangue do estado nos anos da Segunda Guerra Mundial. As ruínas da Fábrica Velha ficam desperdiçadas como parque histórico e natural.
Igualmente as particularidades da cultura de Valença vão sendo esquecidas. Manifestações como o Arguidá, a Zambiapunga, vão se perdendo cada vez mais. Enquanto em outros lugares, manifestações semelhantes são preservadas e mostradas com orgulho para os turistas (e para tanto, poder público e iniciativa privada unem-se e as patrocinam), aqui, nossa cultura popular é deixada ao deus-dará, como presa fácil para ser manipulada por este ou aquele político durante a eleição. Ou então míngua melancolicamente, até a mais completa extinção.
Se Valença quiser mesmo ser um pólo de atração turística, os gestores públicos devem mudar a atual concepção sobre o turismo e investir fortemente na cultura e educação. Já passou do tempo daqui ter um museu, uma galeria de arte, um centro folclórico onde se mostrar ao turista o que de melhor nós temos. Seus prédios antigos deveriam ser restaurados. Sua História e suas tradições devem ser preservadas para que todos possam conhecê-las – principalmente o povo que nela habita. A educação deve ser levada mais a sério, para que qualquer valenciano possa, orgulhosamente, dar informações seguras sobre nossos passado e tradições, como ocorre em São Cristóvão, em Sergipe. São investimentos cruciais que em médio e longo prazo reverterão em uma arrecadação maior para prefeitura aplicar em políticas públicas de inclusão e bem estar social.
Claro que existe um outro caminho, de deixar tudo como está: hotéis ociosos durante boa parte do ano, a prefeitura perdendo receita por falta de um maior afluxo de turista e o passado da cidade caindo no lixo da história.
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