Juventude Perdida
Salvador, 29 de agosto de 2003
O dia acorda cinza e melancólica, enquanto o mar verde–prateado saúda as últimas estrelas boêmias que teimam em ficar no céu. Na vitrola, o disco toca alucinadamente The Mamas & The Papas: California Dreamin’, Monday Monday, Creeque Alley. Eu estou sentado em minha mesa, em frente à janela. Na mesa estão as fotos da turma, quando éramos jovens.
Sei que quando jovens, nós sonhamos mudar o mundo. Sonhamos uma vida repleta de amor. Sonhamos o sucesso. Sonhamos sermos nós mesmos. Éramos os senhores do tempo e das tempestades. Cabelos revoltos, músicas no ar, calças jeans e computadores eram nossas armas. A estrela vermelha e a paixão eram nossos emblemas. A noite e a farra eram o nosso ambiente
Mas a fantasia não poderia ser para sempre. A cada ano que passava, novas demandas mudavam nossos planos. Os cabelos já não ficavam revoltos e não vestíamos mais calças jeans. Os músicos precisavam concluir o curso de arquitetura e os poetas estavam trabalhando como escriturários nos bancos. O dinheiro que financiava nossas noitadas fora desviados para as contas do fogão e da geladeira. A turma, nós não mais nos reunimos, pois tem que bater o ponto com as esposas, após sermos libertadas dos grilhões do escritório.
E todos os dias, então, as manhãs passam a nascer cinza e melancólica e a turma, a turma é só mais uma fotografia na mesa.
A vida é assim: A juventude sonhar em dominar o tempo. E o Tempo vence e soterra a juventude.
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