Réquiem para Lídice & My Lai
Salvador; 13 de janeiro de 2008 (20h23)
I – Lídice
Há quem chore pelos submersos do Arizona.
Eu choro por Lídice.
Choro por ti, que foste martirizada pela Liberdade.
Tu, que foste apagada da vida,
Que teus frutos foram dispersos,
Que teu futuro foi chacinado covardemente,
Que foste transformada em pó
Pela fúria sanguinária, sem perdão nem razão,
Por alguém que se julgava Deus.
Tu, cujo cadáver foi exposto profanamente como exemplo,
É por ti que eu choro.
Mas tu não foste esquecida!
De tuas cinzas e de teus trapos
O homem fez uma bandeira.
De tuas sombras o homem construiu faróis
E tu, minha Lídice, renasceste
Como Campo Santo, como campo de memória
Onde todos poderiam dizer: Barbárie nunca mais!
II – My Lai
Há quem chore pelas Torres Gêmeas.
Eu choro por My Lai.
Todos viram as torres voltando ao pó,
Todos viram a fumaça maculando a cidade,
Todos viram a inocência ser consumida pelo fogo,
Mas quem viu ou chorou por My Lai?
As árvores perderam os frutos,
As flores foram cortadas por baionetas,
No meio da selva tropical,
Apenas os abutres souberam da colheita humana,
Colheita insana de uma guerra sem razão.
Quem chorou pelos frutos da colheita de My Lai?
Só um anjo, curioso anjo vingador, freou a insensatez,
Sensibilizado pela colheita macabra
Que se fez naqueles arrozais na Indochina…
Muito choraram pelas Gêmeas, mas quem chorou por My Lai?
Mas que fez a messe em My Lai?
Ah, minha amiga História, tu és a Nêmesis implacável!
O mesmo ceifador de My Lai chorou pelas Gêmeas.
A mesma mão que fez o mal provou o amargo fruto,
Que surgiu na colheita de My Lai…
Será que agora o ceifador irá chorar por My Lai?
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