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Escritor, autor do livro "Estrelas no Lago" (Salvador: Cia Valença Editorial, 2004) e coautor de "4 Ases e 1 Coringa" (Valença: Prisma, 2014). Graduado em Letras/Inglês pela UNEB Falando de mim em outra forma: "Aspetti, signorina, le diro con due parole chi son, Chi son, e che faccio, come vivo, vuole? Chi son? chi son? son un poeta. Che cosa faccio? scrivo. e come vivo? vivo."

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Cinqüentenário de um livro esquecido - artigo

Cinqüentenário de um livro esquecido - artigo original

Ricardo Vidal, 29 anos, escritor. Autor do livro “Estrelas no Lago”. Estuda Letras/Inglês na UNEB-Salvador. Weblog: www.bardocelta.blogspot.com, E-mail: cve_livros@hotmail.com

Para muitos valencianos, tanto a obra como o autor são desconhecidos. Vários, com certeza, dirão que “não é do meu tempo!” – e eles estarão certos! Quem se recordaria de um livro de geografia, de 20 páginas, escrito em 1958, por um ex-diretor de ginásio? Contudo, as “Notas Geográficas sobre a Cidade de Valença”, do professor Brasílio Machado da Silva Filho, é um livro de suma importância para a cultura de nossa cidade e que, infelizmente, chega ao cinqüentenário de sua publicação totalmente esquecida pela população e pelo poder público.

A edição “princeps” do livro “Notas Geográficas sobre a Cidade de Valença” foi impressa em maio de 1958 pela Tipografia Tupy, aqui na cidade de Valença. É uma brochura de 20 páginas, cuja capa em cartão cor de goiaba não apresenta nenhuma ilustração. Está dividido em três partes. Na primeira parte, intitulada “Aspecto Geral do Município”, professor Brasílio faz uma descrição abreviada do município de Valença, destacando os aspectos físicos, divisão política na época, clima e subsolo. A segunda parte, chamada “A Cidade”, fala sobre a localização geográfica, um pouco da histórica, a importância da fábrica de tecido, sobre a nossa indústria madeireira (lembrando que aqui já houve até algumas pequenas fábricas de móveis), demografia e transporte. Na terceira e última parte da obra, chamada “Breve Histórico”, professor Brasílio dá notícias históricas sobre a colonização de Valença. Complementando o trabalho estão quatro fotos da cidade de Valença na época: da CVI, da Câmara de Vereadores, do Jardim Velho e da Praça da República – sendo que a última, os jardins tinham sido inaugurados três meses, em fevereiro de 1958, pelo então prefeito Gentil Paraíso Martins.

OBRA RARÍSSIMA E CAPITAL: Hoje, o livro pode ser considerado “obra rara”. Atualmente, achar um exemplar do livro representa uma odisséia intelectual pelas bibliotecas de Salvador e Valença, já que as mesmas não dispõem do livro. O autor deste artigo só conseguiu achar um exemplar após quase dois meses de procura, e mesmo assim, apenas após a ajuda do professor Edgar Otacílio da Silva Oliveira, a quem fica os sinceros agradecimentos pela ajuda.

Embora algumas informações constantes no livro (em especial, as ligadas a geografia humana) estejam superadas, este livro continua sendo importante para cultura e a historiografia de Valença por ser um retrato de uma época, pelas fotos publicadas (que resgata a memória urbanística da cidade) e pelos comentários que o professor faz sobre Valença. Por exemplo, interessantes são os comentários acerca dos transportes, mostrando como a estrada do Entroncamento implicou para o crescimento da população e da necessidade de se construir um porto marítimo na ponta do Mutá – porto esse que chegou a ser planejado na época e que nunca foi construído. Outros comentários dignos de nota são sobre as razões pelas quais a sede do município seja onde está, em detrimento à aldeia de São Fidelis, povoação mais antiga e dos motivos pelos quais Valença foi escolhida para abrigar a Fábrica de Tecido Todos os Santos. Por isso mereceria que neste ano, em que ela comemora o cinqüentenário do seu lançamento, fosse publicada numa segunda edição especial e comemorativa acrescida de um perfil biográfico do professor Brasílio.

UM GRANDE MESTRE: Brasílio Machado da Silva Filho foi o primeiro diretor do primeiro ginásio de Valença entre os anos de 1954 e 1965 – Ginásio Estadual de Valença, que funcionou no prédio da Escola Estadual João Leonardo da Silva (ex-CENEVA) e que foi a mãe do atual Complexo Escolar Gentil Paraíso Martins (Ex-Ginásio Industrial Ministro Oliveira Brito). Além de diretor, ele também lecionou Geografia Geral e do Brasil. Com grande conhecimento em História e, principalmente, Geografia, Brásilio Machado escreveu também “Geografia da Bahia (para o curso médio)”, publicada em Salvador em 1964. Este livro se destinava principalmente para as estudantes de Magistério, que no primeiro ano, deveriam estudar a disciplina de igual nome. Neste livro, destaca-se uma foto antiga do Rio Una que apareceu nas primeiras páginas como exemplo de meandro de rio.

Professor Brasílio marcou a vida educacional em Valença nas décadas de 50 e 60 do século passado, apesar de não ter nascido aqui na terrinha do Rio Una. Era um homem culto, polido e dotado do típico “humour britânico” (que une a mais refinada ironia com a mais pura fleuma). Conforme lembra Ivanice Muniz Conceição, ex-aluna dele no antigo curso de Magistério, Professor Brasílio tinha jeito calmo, sereno e educado de tratar com os alunos. Mesmo quando repreendia um aluno, nunca se alterava e gritava com seus educando; pelo contrário fazia seu sermão de tal forma educada que cativava o aluno.

Intelectual de prestígio, Brasílio Machado foi amigo do professor Francisco da Conceição Menezes (que foi diretor do Ginásio Estadual da Bahia, atual Colégio Central, e membro do Instituto Histórico e Geográfico da Bahia, IHGB), a quem entregou uma cópia autografada do seu livro “Notas Geográficas sobre a Cidade de Valença”. Este exemplar hoje se encontra na Biblioteca Rui Barbosa, do IHGB.

Além dos livros “Notas Geográficas sobre a Cidade de Valença” e “Geografia da Bahia (para o curso médio)”, Brasílio Machado também escreveu: "Discurso de Paraninfo", feito em Nazaré das Farinhas em 1949; "Problemas Municipalistas", tese apresentada no 01º Congresso dos Municípios Baianos, realizado em Jequié em 1951 e "Aspectos Atuais do ensino Secundário nos Municípios", trabalho apresentados no I Seminário Municipalista Baiano em Salvador entre os dias 21 e 26 de abril de 1952. Consta ainda que Professor Brasílio tivesse escrito mais dois livros – "Notas Geográficas (Comentários de Ordem Geral)" e "Notas sobre o Ensino Secundário". Porém o autor deste artigo não sabe informar se os mesmo vieram a ser publicados ou ficaram no rol de obras inéditas.

Pela importância que o Professor Brásilio Machado possui na história educacional de Valença e pelo o que esse livro representa para a cultura da nossa cidade, seu cinqüentenário não pode passar em branco. SE a Prefeitura Municipal de nossa cidade – através de sua “Secretária Municipal de Turismo, Indústria, Comércio e (ufa!)… Cultura”, não puder imprimir uma edição comemorativa da obra [afinal, este é um ano de eleições municipais!]; o autor deste artigo deixa um apelo disfarçado de sugestão para que os mecenas e as instituições de ensino superior valencianas assumam este nobre papel em prol da história e cultura de nossa cidade. Pois uma cidade sem história é uma cidade sem futuro.

Post-scriptum: Dedico este artigo para meu pai, Sr. Antonio José Conceição Vidal, pelo apoio e incentivo dados à pesquisa.

Bibliografia

OLIVEIRA, Edgar Otacílio da Silva. “Valença: dos primórdios à contemporaneidade”. Salvador: Secretaria de Cultura e Turismo, 2006. (Coleção Cidades da Bahia)

SILVA FILHO, Brasílio Machado. “Geografia da Bahia” Para o ensino médio. Salvador: sem editora, 1964.

SILVA FILHO, Brasílio Machado. “Notas Geográficas sobre a Cidade de Valença” Valença-Bahia: Tipografia Tupy, 1958.

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Salvador, iniciado em 09 de janeiro de 2008 (01h38) e finalizado em 22 de fevereiro de 2008.

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