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Carta à Casa Branca
23h52 Salvador, 12 de setembro de 2002
Tu me dizes que não fui solidário[1]
Quando tombaram os dois gêmeos
Nem por ter chorado pela fortaleza ferida.
Entretanto, onde estavas tu
Quando meus irmãos desapareceram
Nas trevas verde-oliva que cobriram A América Latina?
Onde estavas quando a Fome devastava Angola e Moçambique?
Tu foste solidário com os Vietnamitas do Norte
Que lutaram pela sua autodeterminação?
Tu choras teus mortos de 11 de setembro,
Sei que foi duro e trágico,
Mas quem dobrou o sino de finados
Pelos palestinos de Sabra e Chatila?
Pelos muçulmanos bósnios na Iugoslávia?
Pelos Hutus e Tutsis em Ruanda?
Pelos negros de Soweto e Somália?
Pelos torturados das ditaduras militares?
Quem chorou pelos timorenses na década de 90?
Pelos comunistas afeganes na década de 80?
Pelos guerrilheiros latino-americanos na década de 70?
Teus olhos baços de lágrimas acendem-se em volúpia de sangue
E prepara uma nova orgia de vinganças.
Nega tu o futuro para os NOSSOS infantes
E ainda ousas dizer que lutam pela democracia?
Ah, senhor presidente!
Ah, povo norte-americano!
Posso chorar pelos teus mortos
Mas, só depois de me solidarizar
Com os oprimidos pelo teu jugo.
[1] “O filme não se solidariza com a dor dos Estados Unidos” - Crítica de um espectador norte americano, após assistir o filme 11.09.01 (Onze Minutos, Nove Segundos e Uma Cena), exibida no programa Metrópolis (TV Cultura de São Paulo), em 12 de setembro de 2002
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