Salvador; 21 de julho de 2005
Não sei porque ainda escrevo.
Os arautos dos dogmas e das mentiras explodem suas algaravias,
Como que grávidos de um super-homem nietzschiano:
Ora, se queres sonhar, sonhe algo útil como ser pedreiro,
Ou então sonhe calado como os mortos no esquecimento.
Mas meus sonhos de poeta não são covardes nem inúteis.
É com ele que eu trago a luz para os cegos mentais,
Trago a sabedoria para os fariseus e para os jovens,
Trago o verde para o cético e para arcanjos,
Trago coragem para o fraco e o combatente,
Trago vida para o suicida e para os leprosos,
Trago o amor para o descrente.
São meus sonhos que curam minhas feridas e regeneram
Minha força para continuar a batalha do pão-nosso da existência.
Mesmo assim, eu ainda não sei porque escrevo.
Talvez eu escreva para alegrar minha prima distante,
Ou porque eu possa criar um novo mundo,
Ou porque eu passe meu tempo e me divirta.
Se eu escrevo, é porque (talvez) um mistério se realize pelas minhas mãos
E um novo ser brota de minhas entranhas
E expõe as mazelas dos arautos dos dogmas e das moedas,
Denuncia a passagem diária do cortejo do sanatório,
Açoita a mediocridade alheia e o inspire a mudar.
Eu ainda escrevo porque eu não estou fora da realidade onírica
E tenho um mundo de lirismo para contar para meus irmãos.
Escrevo porque o instante exige que eu brade a espada de Mishima
E corte as iniqüidades do não-ser e da não-vida.
Não sei porque ainda escrevo,
Quando os comandantes das desilusões atacam com suas naus de invejas,
Quando os fazendeiros da insensatez dizem: não vale a pena lutar!
Quando os mercadores da desgraça ficam seu marco de posse na consciência,
Quando os narcotraficantes do medo imperam com seus cajados torpes,
Quando os profetas do ódio galvanizam as massas contra os poetas.
Eu estou sozinho contra este exército do mal absoluto,
Mesmo assim, uma voz na caverna de meu espírito ordena:
Prossiga. Persevere!
Sim, por isso que eu ainda escrevo e teimo em escrever.
Meus sonhos são maiores que o mundo…
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