Promontório da Aurora
(para Professor Jorge Aguiar)
Salvador, 27 de junho de 2002
Quem dantes ousou dobrar
O negro Promontório da Aurora,
O sombrio colosso que adentra as ondas
Como um tritão impávido, vencedor,
Que volta para triunfar novamente?
Ah! Negro promontório da aurora,
Última galáxia entre Deus e o desconhecido,
Tua sombra nos banha, com a doce promessa
De um futuro grandioso, sublime…
Tua pele de granito e ferocidade beija
O calor das furiosas vagas, o deus–tormenta,
Qu’inda guarda do velho Adamastor
O orgulho sagrado e os tesouros
Para aquele que ousar vencê-lo.
Tua espada – cometa que arrancaste do firmamento –
É a tua cólera soberba, teu desafio impertinente
Que ganha o infinito e vai atiçando
Nos homens a chama divina,
A centelha única, flamejante,
O qual impele a humanidade
A galgar os abismos e – a juntar-se a Deus…
Quem dantes ousou ultrapassar
O velho promontório, a muralha de tormentas
Que o Destino colocou na imensidade?
Não se iludam os que crêem ser fácil a empresa.
O sombrio penedo de quimeras
Sabe guardar suas lendas.
Tem que ter n’alma a fibra de um Vasco da Gama
Ou a perseverança de um Colombo ou Elcano.
Vários os que ficaram amaldiçoados
A ter suas naves, com as velas pandas,
A cruzar eternamente o promontório por subestimá-lo!
Vários foram os capitães que encontraram
Nos escolhos pontiagudos
Como presas do demônio o último
Porto de suas naves naufragadas
Por não serem dignos de enfrentá-lo!
Quantos marinheiros dormem no ventre de tuas ondas
– Colosso imaculado da Aurora, Cabo último da terra –
Por serem pigmeus ante a tua grandeza?
E quantos mais ousarão a ti desafiar
Para ser o dono de teu poder,
Para ser o senhor de tua glória e de teu ouro,
Que guardas em tuas entranhas?
Quantos, sublimes rochedo da aurora? Quantos?
Feliz daquele que te vencer, Colosso do fim do mundo!
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