Cena Provinciana
Valença; 31 de dezembro de 2007
Quando eu cheguei à cidadezinha,
O Tempo me esperava sonolento
Numa velha cadeira de balanço:
Nhec… Nhec… Nhec… Nhec…
A vida andava devagar, devagar:
Devagar ia o vento parando nas folhagens,
Devagar trinavam os pardais no ninho,
Devagar as taturanas trocavam de pele,
Devagar a Velhice esculpia os rostos.
Na escola primária, o mestre-escola
Ensinava que a capital federal
Era a cidade do Rio de Janeiro.
Na calçada em frente à farmácia,
Dois jovens bacharéis discutiam
Se a UDN ou o PSD era o melhor partido.
Na janela desbotada, uma neta
Sexagenária usava o vestido da vovó.
Numa vitrola cansada alhures,
Um vinil mono arrastava um cantor
Desconhecido da Jovem Guarda – como se fosse novidade!
Na matinê, Ankito estrelava com Oscarito
As recém–lançadas chanchadas da Atlântica.
Era uma cidadezinha tão linda, tão devagar,
Que desconhecia Toy-art e I-pod;
Os CDs de Enya, a filosofia de Derrida,
Os filmes de Sophia Coppola e Lars von Trier;
Os livros de Aleiton Fonseca e Carlos Ribeiro;
Que os astronautas alunissaram na paisagem flicts;
Da reeleição de Lula e do fim da CPMF
E que Renata Belmonte, Fernanda Young e Alex Leila
São as poetisas–musa do momento.
“Meu Deus! Mas o que eu faço aqui, distante da civilização?”
É o que pergunta meu coração, sem respostas à vista…
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