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Escritor, autor do livro "Estrelas no Lago" (Salvador: Cia Valença Editorial, 2004) e coautor de "4 Ases e 1 Coringa" (Valença: Prisma, 2014). Graduado em Letras/Inglês pela UNEB Falando de mim em outra forma: "Aspetti, signorina, le diro con due parole chi son, Chi son, e che faccio, come vivo, vuole? Chi son? chi son? son un poeta. Che cosa faccio? scrivo. e come vivo? vivo."

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Genialidade Precoce de Álvares de Azevedo

Genialidade Precoce de Álvares de Azevedo

Ricardo Vidal, 29 anos, escritor. Autor do livro “Estrelas no Lago”. Estuda Letras/Inglês na UNEB-Salvador. Weblog: www.bardocelta.blogspot.com, E-mail: cve_livros@hotmail.com

Álvares de Azevedo morreu antes de completar 21 anos. Contudo, deixou para a posteridade um conjunto de obra literária digna de gente grande. Tanto em volume como em qualidade, está colocado como um dos maiores poetas brasileiros de todos os tempos.
Manuel Antonio de Álvares de Azevedo nasceu em São Paulo, em 12 de setembro de 1831. Diz a lenda que teria nascido em uma das salas da biblioteca da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco – como que para explicar sua genialidade. Na verdade, nascera na casa do avô materno, que fica “próximo” à faculdade, que depois viria a freqüentar vinte anos mais tarde.

Paulistano de nascimento, todavia criou-se no Rio de Janeiro, para onde se mudou em 1833. Lá estudou no colégio Stoll e no Imperial Colégio Pedro II. Neste período, seus professores atestaram a genialidade do aluno, com notas excepcionais em todas as matérias, com exceção em ginástica.

Em 1848, voltou para São Paulo, para cursar Direito. Naquela época, a capital bandeirante se destacava exclusivamente pelo seu curso jurídico que, juntamente com o de Olinda, e as faculdades de medicina de Salvador e Rio de Janeiro, foram as únicas instituições de nível superior do país no meados do século XIX e onde se formava a elite cultual do Brasil de então. Nesta época, Álvares de Azevedo foi colega de outros futuros gênios da literatura nacional, como Bernardo Guimarães e José de Alencar.

Sendo pouco avesso ao convívio social da cidade, que sempre julgou provinciana (conforme atestava suas cartas), tampouco participava das rodas boêmias dos estudantes. Álvares de Azevedo vivia recluso em seu quarto, com e para seus livros. Contudo, sua reclusão não impediu que outra lenda se acrescentasse a sua vida – de que era um boêmio inveterado, consumidor voraz de conhaque e membro da Sociedade Epicuréia – que promovia as orgias românticas e macabras, como festins noturnos em cemitérios.

De sua participação na vida social, restringisse alguns discursos, como o comemorativo da criação dos cursos jurídicos, em 1849 e o da fundação da Sociedade do Ensaio Filosófico Paulistano, em 1850. Destes discursos, o de 1849 foi a única obra publicada em vida.

Morreu em 25 de abril de 1852, em conseqüência ao um tumor na fossa ilíaca provocada de uma queda de cavalo, sem concluir o curso de Direito. Em 1853, foram publicados seus textos, por iniciativa do seu pai.

UMA LITERATURA JOVEM E MADURA. A produção literária de Álvares de Azevedo impressiona tanto pela sua qualidade como pela quantidade. Além dos poemas, acrescenta-se no seu inventário poético o livro de contos fantásticos “Noite na Taverna”, a peça de teatro “Macário”, o romance “Livro de Fra Gondicário” além de volumes de crítica, discursos e cartas.

Como poeta, ele figura como o principal representante da chamada Segunda Geração Romântica ou Geração Ultra–Romântica. Sendo um leitor voraz tanto dos clássicos do porte de Shakespeare e Göethe, como – e principalmente – de românticos, como Byron, Musset, Shelley e Lamartine; Álvares de Azevedo assimilou as características da época: intimismo, sarcasmo, desejo pela morte, império do sentimento sobre a razão, escapismo, mulheres idealizadas e impossíveis, amores entre o angelical e demoníaco. Entretanto, em lugar de ser um mero caudatário de tendências, mostrou originalidade nas suas criações poéticas, como a introduzir a ironia à inglesa: sutil e recheada de fleuma, diferente da velha chalaça portuguesa. Isso é atestado nos poemas “Namoro à Cavalo” e “Minha Desgraça”.

Original também é seu lirismo confessional, em que canta seu amor familiar à sua mãe e a sua irmã e sua sensação de uma morte prematura – amor puro e casto de alguém que sente saudades pelos seus entes mais queridos. É ponto pacífico dentre os críticos que aí Álvares de Azevedo alcançou sua perfeição. A sinceridade presente neste nos verso do poema “Se eu morresse amanhã” e “Lembrança de Morrer” o coloca dentre os maiores líricos.

Sua obra poética é composta pelos livros “Lira dos Vintes Anos” (que se destinava a um projeto coletivo, que iriam contar com versos de Aureliano Lessa e Bernardo Guimarães), “Poesias Diversas” e os poemas narrativos “O Conde Lopo” e “Poema do Frade”.

Na prosa, se destacam os contos fantásticos de “Noite na Taverna”, a narrar diversas aventuras macabras de assassinatos, traições e amores de jovens estudantes europeus, reunidos em torno de uma mesa esfumaçada de taverna, que tanto poderiam ser cenários dos devaneios de Byron como dos sonhos de Shelley. Estes contos, bem acabados exemplos da estética byroniana, introduzem nas nossas letras os textos de mistérios e horror.

Dignos de notas são seus trabalhos de crítico literário, em que se notam a extensão de sua cultura humanística e um apurado senso de análise. Isso é atestado no prefácio de sua peça de teatro “Macário”, em que, reconhecendo a fraqueza de sua própria obra, delineiam um perfil de teatro que tivesse o que há de melhor no teatro espanhol, no grego e no inglês.

O romance “Livro de Fra Gondicário”, os discursos e a sua correspondência completam o seu patrimônio literário, que foi escrito por um jovem que faleceria precocemente com duas décadas de vida.

Em face dessa prodigalidade, alguns críticos divagam: Tivesse Álvares de Azevedo vivido mais tempo, conseguiria se superar? O Brasil ganharia um grande dramaturgo? Um grande crítico – como o foi Edgar Allan Poe para os Estados Unidos? Ou não? De concreto, o que deixou em vida já o credencia a ser um dos nossos clássicos da nossa literatura.

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