Delta do Okavango
Salvador; 11 de junho de 2008 (22h16)
“Where all this water goes is a mystery"
Aurel Schultz
I
Um mar arenoso a recepcionar as águas do Okavango.
Depois de correr seu leito pelas florestas negras,
Uma boca seca engole seu fluxo… e desaparece.
Que mistério faz de ti, Delta do Okavango,
Um lugar especial e único no planeta Terra?
Talvez porque suas águas nunca encontrem outras,
Talvez a Natureza queira ser irônica e divertida,
Talvez porque seja uma metáfora da condição humana.
Mas quem imaginaria uma foz dentro do deserto?
O meu Rio Una deságua em estuário no Atlântico.
O Nilo termina em delta para a alegria dos egípcios.
O Amazonas segue floresta abaixo para encontrar com Marajó.
Só você, Okavango, despeja suas água no Kalahari,
Molhando suas dunas sedentas com um pouco de vida.
E é nestas margens que leões nadam famintos,
A sagrada Íbis projeta a sombra de Toth,
E Leopardos e Guepardos correm ferozes e altivos.
II
Okavango sugere mistério e um outro paraíso.
Ninguém imaginaria o Okavango como um lugar
Onde Lauren Bernat dançasse Wii fit no You Tube,
Ou que Paris Hilton filmaria suas fantasias.
O delta do Okavango sugere mais a cratera Eberwalde.
Ou as ruínas de Cydonia ou o amanhecer em Gliese 851c.
É uma Shangri-lá, uma Xanadu, uma Agartha pessoal
Onde se leria a Rubaiyat sob a luz da lua cheia,
Ou deixaria o vento brincar com as linhas da face.
E inventaria uma lenda para suas águas e suas margens:
Diria do grande crocodilo que se esconde na areia
Que impedem suas ninfas abraçaram outras irmãs.
Ou de uma lança mágica guardada por rinocerontes
Negros e Brancos, destinados aos grandes guerreiros.
III
Mas o Delta do Okavango está numa África distante
E eu sou apenas um poeta latino-americano.
O que eu sei da fauna do Delta para criar lendas?
Apenas o nome africano faz cócegas nos ouvidos
E deixo a imaginação procurar metáfora e sinédoque.
As telas da Grande Teia trazem fotos e ilusões de lá,
Uma janela mítica para um mundo vazio.
As águas do Okavango caminham tranqüilas
Sem a música dos meus versos sonolentos.
E com essa a verdade que resume o poema
Que os versos encontram sua foz enigmática
No deserto branco do pergaminho eletrônico…
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